Viajei muito, fui privilegiado em poder fazê-lo, prazer indizível mesmo se o móbil era o mourejar. A circunstância a ditar este ensejo de vida quase começou nos Açores, mor da paixão. Daí afluiu este sentimento íntimo, racional, de aceitar as nove ilhas do arquipélago qual réplica do paraíso.
Há quem corra mundo sem nunca ter fruído o deleite destas terras verdes, azuladas ou negras, plantadas por mão divina no meio do Atlântico, duas horas de voo a Lisboa. Em 2007 o ranking da revista National Geographic Traveler indexa os Açores como as segundas melhores ilhas do mundo. Por mim há muito são as mais belas do planeta em beleza natural, superiores pois às do mediterrâneo ou Caraíbas. E se eu gosto de Malta, Creta, Maiorca, Santorini, Corfu, Ilhas Virgens, Moçambique, Bora Bora ou Cuba!
O turista acidental tem só três constrangimentos. O clima é temperado, quente e húmido, de Junho a Setembro, a água do mar nos 24 graus apela ao demolhar na praia e piscinas naturais. É incerto no tempo de sobra, ganas de chuva, vento e mar revolto. No entanto, o contraponto da cor dá ênfase superior a terra e mar nos dias bons do Inverno. Transportes de e para o continente têm a exclusividade proteccionista de TAP e SATA, a dificultar por vezes o conseguir viajem em datas especiais, veraneio e festas religiosas. Entre as ilhas a circulação em barco e avião é cómoda e rápida. Flores e Corvo só agora, felizmente, têm a graça de aparecer nos roteiros turísticos em Portugal, por estarem longe a ocidente.
Paixão, paixão – no canto dos Heróis do Mar –, sinto-a por todo o arquipélago de lava e vegetação luxuriante, pessoas francas no acolher, povo culto, música dom e carácter, «a ilha mais bonita, parte a completar-nos, é sempre a que está em frente», no dizer de Raul Brandão ao conhece-las em 1924. As nove ilhas são de rico acervo, luz e desenho bem diferentes umas das outras, do grupo oriental (Santa Maria e São Miguel) e central (Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial) ao ocidental (Flores e Corvo). Três delas em particular, seduzem-me, impúdicas! O meu gosto pelo património natural de S. Miguel, a ilha maior, o rendilhado costeiro e o corpo ondulado, as portas da cidade (século XVIII), lagoas de encantamento e o sulfúreo termal, ímpar, pela ilha das Flores, de singulares maravilhas naturais, o colorido doce da arborização, cascatas a pique centenas de metros, crateras lagoas que saltam da neblina, a rasa junto à funda, desígnios da natureza, encostas talhadas estátua, culinária exigente, hotéis de excelência, barco próprio ou a traineira de recurso a levar visitantes ao Corvo, e da ilha do Pico, ilha montanha, ar selvagem de aparente inexplorada, a profusão de incensos, acácias e criptomérias a encobrir pastagens, milheirais, c o majestoso vulcão, os vinhedos, maroiços e curralinhos – Património da Humanidade (como o casario da baía da Terceira) –, as muitas casas mantidas em basalto negro, descarnado, lindas, Pedras Negras na pena de Dias de Melo, agora ciosamente preservadas, como as rotas do vinho e da faina baleeira, omnipresentes.
HpintoAgosto 09
Fotos: De cima para baixo e da esquerda para a direita -
Hortênsias, flor dos Açores (de Hpinto).
Santa Maria (de Fernanda) e
Vila do Porto (Ilha de Santa Maria),
Lagoa das sete cidades,
Festa do Divino Espírito Santo e
Portas da Cidade (Ilha de São Miguel),
Baía de Angra do Heroísmo,
Monte Brasil e
Império Caridade da Praia (Ilha Terceira),
Fajã do Caldeirão de Santo Cristo (Ilha de São Jorge),
Vila de Santa Cruz (Ilha Graciosa),
Montanha do Pico,vista do Porto de Madalena do Pico,
Museu da Indústria Baleeira, Cais do Pico e
Moinho de Vento do Morricão, Lajes do Pico (Ilha do Pico),
Observatório Príncipe Alberto I do Mónaco,
Café Peter e
Cidade da Horta (Ilha do Faial),
Rocha dos Bordões,
Igreja Matriz de Santa Cruz e
vista da ilha, de Pedro Tochas (Ilha das Flores) e Vista da Ilha do Corvo
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