sábado, 15 de agosto de 2009

CERTEZAS, QUEM AS NÃO TEM?


Benjamin Britten, Central City Opera 2005

A 22 de Novembro de 1963 John Kennedy foi assassinado. Pus gravata preta. Tive professores a olharem de esguelha. Quase à mesma hora os Beatles lançaram o inesquecível segundo álbum.
Este 22 junta efemérides tão desencontradas quanto a liturgia de Santa Cecília, o nascimento de Gide, Britten e De Gaulle ou a morte de Huxley, Krebs, London e Béjart.
Não fossem as contradições de todos os suportes da vida – do átomo ao itinerário histórico e científico – e tudo pareceria fiel ao determinismo absoluto (é assim, pronto!). Mesmo as Leis de Mendel da reprodução dos seres vivos ou a teoria evolucionista animal, seguem o primado da probabilidade, tal como esta funciona para o método científico, indispensável a disciplinas antes tidas por «ciências» e às humanidades. A Medicina e a História contemporâneas seriam inviáveis sem os instrumentos da estatística.
A ciência veio explicar o que por séculos foi empírico, místico ou bruxaria. Correlações entre estética das urbes e comportamento da mente, ou influências cósmicas no desenvolvimento humano, são, como as aptidões cerebrais cada vez mais orgânicas, exemplos disso.
O termo Stakeholder, de Freeman, usado em «Gestão estratégica, uma aproximação Stakeholder» (1984), refere os que afectam ou são afectados pelas actividades duma empresa. Estes grupos ou indivíduos são o público interessado, elemento essencial no planear estratégico de negócios ou das reformas sociais. Políticas obsoletas – homónimas levaram London ao Gulag –, nutridas no desespero legítimo ou não, têm nalguns sindicatos líderes carismáticos, stakeholders importantes. São um dos obstáculos às transformações difíceis e essenciais num país. Êxito é sinónimo de ganho noutros dos muitos stakeholders. Grandes números podem dizer tudo e nada.
Tão contraditório assim só o falso moderno de «Admirável Mundo Novo», de Huxley, inspirado no autoritarismo de Mussolini. Ou a crueza desta efeméride a sobrepor-se às de ícones miméticos de libertação, Kennedy e De Gaulle, ou da beleza, Santa Cecília, Britten, Béjart ou Beatles.
O Ciclo de Krebs tem o nome do médico por ele feito Nobel. É o leque de reacções energéticas produzidas no organismo, formação e decomposição repetidas do ácido cítrico com eliminação de carbono. É fórmula da vida, tão relevante quanto o genoma. É parte do futuro das espécies. Só as condiciona quando alterado.
Tempo e condições de vida esculpem modelos marmóreos. Turvam o pensar. Algo se oporá mais ao determinismo que «O Imoralista», de Gide, homem que ao convalescer de doença grave vê o mundo, a natureza, a sociedade e a própria sexualidade numa perspectiva radicalmente diferente.
Certezas, só as erigimos na dialéctica de todos os instantes.
Hpinto

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