sábado, 24 de outubro de 2009

A BIRRA DE IMELDA MARCOS (4)


A 1 de Julho de 1979 James L. Bomar Jr., de Shelbyville no Tennessee, tomou posse como presidente de RI. O Board de Rotary aprovou então a verba de US$760 000 para comparticipar a administração da VOP (a vacina oral da polio, de Sabin), no primeiro projecto 3 H que imunizaria um milhão de crianças nas Filipinas.
Mas antes era preciso conseguir a devida autorização do governo filipino.
Bomar, o seu Aid Charles Keller, antigo director de RI e o novo director oriundo das Filipinas, Mat Caparas (tornar-se-iam ambos presidentes de RI), foram saudados no Palácio Presidencial em Manila pelo Chefe de Estado Fernando Marcos. Foi um encontro muito cordial. Mas quando o assunto se virou por inteiro para a sua autorização do projecto de imunização Marcos disse: «Eu não tenho nada a ver com essa espécie de coisas. Têm de tratar disso com a minha mulher. Ela é a ministra do interior».
As circunstâncias eram favoráveis para conseguirem obter num ápice um encontro com Imelda Marcos. Mas à hora de a recepção se concretizar ela não apareceu. Quando finalmente foi possível abordá-la estava possessa. Brandia a revista Time que publicara um artigo crítico sobre o regime filipino. «Olhem o que vós americanos estão a dizer sobre mim e o meu marido! Porque é que eu devo fazer alguma coisa para vos ajudar quando espalham estas mentiras?». Não sem grande esforço, e falando da liberdade de imprensa na América, não passível de controlo governamental, do facto de Rotary não ser uma organização americana, e acentuando ainda a importância da sua assinatura para fazer a diferença entre a vida e a morte de milhares de crianças no seu país, ainda que hesitante ela deu a necessária permissão.
Jim Bomar administrou a primeira dose de vacina espremendo duas gotas do líquido na língua duma criancinha. Mal acabara de o fazer viu lágrimas nos olhos da mãe. E sentiu um puxão na perna das suas calças. Olhou para baixo e viu um dos jovens mutilados que rastejavam, um dos que tinham sido paralisados pela polio. «Obrigado», disse o rapaz. «Obrigado, obrigado!». E fez uma pausa como que para se lembrar da próxima palavra. «Rotary». Então elevou da poeira o braço esbranquiçado e apontou para o bebé a quem Bomar tinha acabado de vacinar. «Minha irmã», disse com um cintilante sorriso de orgulho.
Ninguém o sabia então, mas aquela criancinha estava destinada a ter um efeito muito intenso no desenrolar futuro de Rotary.
Pouco tempo antes as crianças das escolas italianas tinham contribuído com o dinheiro do seu lanche para as crianças das escolas filipinas, através dos esforços do antigo governador de distrito Sérgio Mulitsch e do novel Rotary Club de Treviglio e della Pianura Bergamasca. O que deu para comprar meio milhão de doses de VOP (vacina oral da polio).
Henrique Pinto
Setembro 09, no Dia Mundial da Polio
FOTOS: Ferdinand Marcos, Ronald Reagan e Imelda Marcos; Charles (Chuck) Keller, presidente de RI 1987/88

Sem comentários:

Enviar um comentário