O dia 4 de Outubro, Dia do Poeta, nos fez lembrar o 1º Centenário de nascimento do «Poeta dos Poetas», António Gonçalves Dias, conhecido como Patativa do Assaré, o maior poeta popular cearense e cantador repentista de viola nordestina, nascido na Serra de Santana, próximo à cidade de Assaré. Exaltar essa figura poética, nunca será demais, já que foi um fiel retratista do árido universo da catinga nordestina, cuja obra ampla e diversificada está imortalizada, em folhetos de cordel, discos e livros. O poeta maior cearense, se vivo estivesse, nascido em 5 de Março de 1909, estaria completando cem anos de nascimento. Foi um poeta, quando em vida, que carregava no seu canto lacrimoso, no linguajar nordestino, nos gestos e no sangue, todo o orgulho de ser considerado o mais autêntico caboclo dos torrões cearenses, dos sertões do Nordeste, das bibocas cearenses. O seu canto poético retratava o seu próprio quotidiano de lágrimas, suor, tristeza, amor à terra natal, a exclusão social do homem campesino e cidadania a exigir dos políticos uma reforma agrária e tratamento mais humanizado para o homem do campo, martirizado pela inclemência das secas nordestinas. A veia poética estava sempre ao seu lado, singularmente, no campo, durante a labuta do seu ofício de ser «agricultor roceiro». Como agricultor, de maneira invulgar, denunciou a morosidade dos políticos, que jamais tentaram minimizar os efeitos da seca, flagelo maior do Nordeste. E afirmava: «a seca pertence ao império da natureza, mas pode ser resolvida pelo homem». Na coletânea «Cante lá que eu canto cá», ressalta o seu amor à questão da terra. Numerosos poemas evocam essa realidade dramática, brutal e inadmissível, como O poeta da Roça, Eu e o sertão, Vida Sertaneja, Caboclo roceiro, Cabocla da minha terra, É coisa do meu sertão, Vida Sertaneja, No terreiro da choupana, A terra é natura, O retrato do sertão, Serra de Santana, Minha terra, Coisas do meu sertão, ABC do Nordeste flagelado, justificando essa concepção poética, nos versos: «Minha vida é uma guerra. É duro o meu sofrimento, sem tê um palmo de terra: eu não sei como sustento a minha grande famía».
Sua verve poética serviu para denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do nordestino, que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir às condições climáticas e políticas desfavoráveis: «Eu sou de uma terra que o povo padece, mas não esmorece e procura vencer».
João Gonçalves Filho (Bosco) da Academia Limoeirense de Letras
Outubro 09
In O Jornal O Estado, São Paulo, Brasil
Com a colaboração de Cidinha
FOTO: actriz modelo Aida Yespica, transbordante de sensualidade, figura dum imaginário de Patativa do Assaré
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