quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O DINIZ DE SÃO VICENTE











Tito Paris, um dos músicos de Cabo Verde mais conhecidos no mundo, de par com Cesária Évora, por amizade antiga para com os representantes do OLCA, surpreendeu todos os presentes apresentando-se a acompanhar os nossos alunos com voz e violão, nomeadamente na canção «Dez grãozinho di pedra» em versão crioula (As nossas dez ilhas), deliciando-se, apadrinhando o projecto e emprestando-lhe uma credibilidade e um apoio insuperáveis. Disse mesmo de início que «como não posso trazer uma orquestra para actuar em Cabo Verde, acho que encontrei nestes meninos a minha futura orquestra». E todos os meninos cantaram com ar melancólico e tom suave o último verso, triste, daquela morna, emocionando a assistência. «Dentro de seis meses estas crianças estão a tocar», rematou Tito Paris. As mesmas palavras que horas depois gravaria no Hotel Porto Grande para o spot que passou em todo o mundo na Gala da RTP África.
Um grande amigo do OLCA, que integrou a Comissão de Honra do Festival Música em Leiria por vários anos e que chegou a palestrar na Casa Museu João Soares, nas Cortes, Leiria, o Dr. Onésimo da Silveira, antigo Embaixador de Cabo Verde em Lisboa, lugar que deixou para ser ministro do seu país, provavelmente uma das mais notáveis personalidades africanas, convidou-me para um almoço no Sodade, onde se discutiram hipóteses de cooperação futura, cultural e de outros níveis. Recorde-se que este intelectual e político - recentemente convidou e recebeu Mário Soares e Adriano Moreira para palestrarem no arquipélago -, acolheria dentro de dias um outro amigo pessoal, e a esposa deste, o ex secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
A cooperação deste tipo é uma oportunidade singular para o OLCA exportar metodologias inovadoras de ensino e estender a sua acção artística, cultural, solidária e social, a uma área do mundo em franco desenvolvimento mas ainda carente da generalidade das infra-estruturas. Mais do que Cuba ou o Brasil, Cabo Verde, e particularmente São Vicente, é um alfobre de músicos autodidactas – compositores, cantores e tocadores – que se exibem por todo o lado, em todos os locais públicos e de restauração, dando conta de tanta musicalidade lhes tocar também alma e dons de cidadania.
Não fora a música e, provavelmente, o Diniz não teria as hipóteses de vida saudável que hoje pode ter.

Henrique Pinto

Outubro 09

FOTOS: Embarcar no Mindelo, São Vicente; meninos de Salamansa tocando violino num ensaio; extraordinários tocadores de mornas; Cesária Évora

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