Camões plagiou Petrarca em vários de seus sonetos?
Shakespeare apropriou-se de narrativas medievais para criar várias de suas peças teatrais?
- Camões devia pedir desculpa a Petrarca?
Camões não plagiou. Recriou (como Virgílio fez a Homero) e recriou para melhor...
Portanto, «os Lusíadas podem ser lidos e relidos, sem problemas de consciência de se estar a ler um plágio»...
No tempo de Camões predominava o «ideal da imitação». Quer isto dizer que um poeta imitava o seu modelo procurando fazer melhor.
Assim, o soneto «Alma minha, gentil, que te partiste», atribuído a Camões, é uma imitação tão próxima de um poema de Petrarca que se poderia falar de plágio.
Após a morte de Camões, os poetas seus contemporâneos foram acusados de roubo da sua obra e todos os poemas interessantes dessa época passaram a ser atribuídos a Camões. De tal forma que os estudiosos não se entendem quanto ao que é de facto da autoria de Camões, isto na lírica, obviamente. Sobre esta matéria, ver, por exemplo, Costa Pimpão, Vitalina Leal de Matos, Jorge de Sena...
Por outro lado, a intertextualidade tem um peso enorme. Por exemplo, o soneto «O dia em que nasci moura e pereça» é uma imitação (ou plágio, confrontem os textos) do Lamento de Job... Não pretendo dizer que até Camões plagiava, nem tal faria sentido na sua época; pretendo explicar porque é que ele se não ralava com isso.
De Pessoa, sei que achou muita piada a uma caricatura, bem plagiada, do seu Impressões do Crepúsculo.
O Prof. Eduardo Prado Coelho foi acusado de plágio. Situação escandalosa, mas não inaudita em Portugal. Só que o inesperado acontece quando o suposto autor plagiado, João Ubaldo Ribeiro, nega veementemente a autoria do texto original. E o caso torna-se rocambolesco quando o próprio Prof. Eduardo Prado Coelho desconhece o texto de que deveria reclamar autoria.
O «Público» dedicou uma das suas capas ao plágio literário: uma obsessão onde muitas vezes se confunde fraude com recriação. Uma obsessão, por vezes persecutória, que junta medíocres, invejosos e burocratas da cultura. Como se a criação não fosse sempre uma repetição.
Em Homenagem a Tomás António de Gonzaga, Jorge de Sena escreve: Gonzaga, podias não ter dito mais nada, (…) / Mas uma vez disseste: / eu tenho um coração maior que o mundo. / Pouco importa em que circunstâncias o disseram: / Um coração maior que o mundo - / uma das mais raras coisas / que um poeta disse. (Poesia III, Edições 70, Lisboa, 1989, p.95). A citação de Gonzaga é uma alusão textual no sentido em que reproduz uma parte de uma obra preexistente para servir de pretexto à ironia de Jorge de Sena. Podemos dizer que pelo menos todas as citações que funcionam como artifícios literários são alusões textuais. Uma obra literária pode ser, no seu todo, uma alusão de um texto anterior, como no caso do Ulisses de James Joyce, que alude à Odisseia de Homero.
José Ginja
Shakespeare apropriou-se de narrativas medievais para criar várias de suas peças teatrais?
- Camões devia pedir desculpa a Petrarca?
Camões não plagiou. Recriou (como Virgílio fez a Homero) e recriou para melhor...
Portanto, «os Lusíadas podem ser lidos e relidos, sem problemas de consciência de se estar a ler um plágio»...
No tempo de Camões predominava o «ideal da imitação». Quer isto dizer que um poeta imitava o seu modelo procurando fazer melhor.
Assim, o soneto «Alma minha, gentil, que te partiste», atribuído a Camões, é uma imitação tão próxima de um poema de Petrarca que se poderia falar de plágio.
Após a morte de Camões, os poetas seus contemporâneos foram acusados de roubo da sua obra e todos os poemas interessantes dessa época passaram a ser atribuídos a Camões. De tal forma que os estudiosos não se entendem quanto ao que é de facto da autoria de Camões, isto na lírica, obviamente. Sobre esta matéria, ver, por exemplo, Costa Pimpão, Vitalina Leal de Matos, Jorge de Sena...
Por outro lado, a intertextualidade tem um peso enorme. Por exemplo, o soneto «O dia em que nasci moura e pereça» é uma imitação (ou plágio, confrontem os textos) do Lamento de Job... Não pretendo dizer que até Camões plagiava, nem tal faria sentido na sua época; pretendo explicar porque é que ele se não ralava com isso.
De Pessoa, sei que achou muita piada a uma caricatura, bem plagiada, do seu Impressões do Crepúsculo.
O Prof. Eduardo Prado Coelho foi acusado de plágio. Situação escandalosa, mas não inaudita em Portugal. Só que o inesperado acontece quando o suposto autor plagiado, João Ubaldo Ribeiro, nega veementemente a autoria do texto original. E o caso torna-se rocambolesco quando o próprio Prof. Eduardo Prado Coelho desconhece o texto de que deveria reclamar autoria.
O «Público» dedicou uma das suas capas ao plágio literário: uma obsessão onde muitas vezes se confunde fraude com recriação. Uma obsessão, por vezes persecutória, que junta medíocres, invejosos e burocratas da cultura. Como se a criação não fosse sempre uma repetição.
Em Homenagem a Tomás António de Gonzaga, Jorge de Sena escreve: Gonzaga, podias não ter dito mais nada, (…) / Mas uma vez disseste: / eu tenho um coração maior que o mundo. / Pouco importa em que circunstâncias o disseram: / Um coração maior que o mundo - / uma das mais raras coisas / que um poeta disse. (Poesia III, Edições 70, Lisboa, 1989, p.95). A citação de Gonzaga é uma alusão textual no sentido em que reproduz uma parte de uma obra preexistente para servir de pretexto à ironia de Jorge de Sena. Podemos dizer que pelo menos todas as citações que funcionam como artifícios literários são alusões textuais. Uma obra literária pode ser, no seu todo, uma alusão de um texto anterior, como no caso do Ulisses de James Joyce, que alude à Odisseia de Homero.
José Ginja
Outubro 09
FOTOS: Meninas na praia, no contexto do nosso tempo; Jorge de Sena, grande escritor Português, viveu e morreu no exílio, amargurado
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