Na minha paixão cinéfila, tal a música, o teatro, a pintura ou os livros, sempre me interessei pelos caminhos da vida dos seus fautores – longe do sentido voyeurista da imprensa «del corazón» -, enquanto pessoas criadoras, sensíveis a um firmamento de estímulos para lá da estética, mentes luminosas. Onde pintou Van Gogh na obsessiva pesquisa da cor? Como cresceu Hollywood? Que inspiração, a dos gregos, edificaram Delfos tão perto do céu e Olímpia naquele vale tranquilo do Peloponeso! Wagner apreciava particularmente a cadeira do canto direito no café Florian, a olhar a Praça de São Marcos, em Veneza, quem sabe se a ver passar incorpóreas Valquírias, igual só a Pessoa no Martinho da Arcada. Clint Eastwood adora viver em Carmel, cidade brinquedo, caríssima, selectiva, única, à beira do Pacífico. Bordeja-a a oeste a 17th Miles Drive e a leste o campo de golfe, mais extenso que tal avenida. Clint partilha-o com o amigo Morgan Freedom. Ambos abrem-no desinteressadamente à comunidade, onde Eastwood já foi mayor, no preservar a autenticidade saudável do lugar. Os americanos visitam Carmel aos domingos, molemente enfileirados, reverentes, como se em profana romaria.
Pois Clint Eastwood, meu ídolo herói desde jovem - o gosto sem tempo nem distância de ver no São José em Cascais «Por um punhado de dólares», de Sérgio Leone, e «Paint your wagon», de Joshua Logan, de 1969 -, foi ontem homenageado em Lyon na primeira edição do Festival Lumière 2009. Evento e troféu têm o nome saboroso de tão curiosos e inspirados irmãos, precursores da sétima arte. Walter Salles, Claudia Cardinale, Asia Argento, Emir Kusturica e Claude Lelouch são apenas um «take» no universo de grandes figuras do ecrã, perorando sobre o seu amor pela imagem em movimento, as suas recordações de espectadores ou as vivências de filmagens.
Como se no mítico Cinema Paraíso, em vez do rol infindo de beijos ternos viram-se películas, quase todas apadrinhadas uma a uma pelas suas vedetas. A ambos os cenários enforma-os um impulso sensual ao salivar ansioso. Filmes inéditos ou clássicos, sucessos financeiros ou obras pequenas, todos em cópias novas – sobressaindo a resenha Lumière – foram apresentados por um actor ou cineasta de nome faiscante.
Cada festival tem a sua imagética e singularidade, algum exotismo mesmo a superar o incontornável merchandizing. O de Lyon afigura-se-me simultaneamente intimista e janela do mundo, a qualidade como obra popular, formadora e saudosista, rappel necessário e recriar contínuo. Os grandes nomes da representação eternizam-se cada vez mais ao mudarem para o outro lado da câmara, o dos autores. A voracidade da indústria na procura do belo efémero é demolidora de nomes e rostos, memórias e percursos, prestígio e criatividade, talvez até da transcendente beleza, volátil como a vida, dum pôr do sol em Carmel.
Pois Clint Eastwood, meu ídolo herói desde jovem - o gosto sem tempo nem distância de ver no São José em Cascais «Por um punhado de dólares», de Sérgio Leone, e «Paint your wagon», de Joshua Logan, de 1969 -, foi ontem homenageado em Lyon na primeira edição do Festival Lumière 2009. Evento e troféu têm o nome saboroso de tão curiosos e inspirados irmãos, precursores da sétima arte. Walter Salles, Claudia Cardinale, Asia Argento, Emir Kusturica e Claude Lelouch são apenas um «take» no universo de grandes figuras do ecrã, perorando sobre o seu amor pela imagem em movimento, as suas recordações de espectadores ou as vivências de filmagens.
Como se no mítico Cinema Paraíso, em vez do rol infindo de beijos ternos viram-se películas, quase todas apadrinhadas uma a uma pelas suas vedetas. A ambos os cenários enforma-os um impulso sensual ao salivar ansioso. Filmes inéditos ou clássicos, sucessos financeiros ou obras pequenas, todos em cópias novas – sobressaindo a resenha Lumière – foram apresentados por um actor ou cineasta de nome faiscante.
Cada festival tem a sua imagética e singularidade, algum exotismo mesmo a superar o incontornável merchandizing. O de Lyon afigura-se-me simultaneamente intimista e janela do mundo, a qualidade como obra popular, formadora e saudosista, rappel necessário e recriar contínuo. Os grandes nomes da representação eternizam-se cada vez mais ao mudarem para o outro lado da câmara, o dos autores. A voracidade da indústria na procura do belo efémero é demolidora de nomes e rostos, memórias e percursos, prestígio e criatividade, talvez até da transcendente beleza, volátil como a vida, dum pôr do sol em Carmel.
Henrique Pinto
Outubro 09
FOTOS: pôr do sol em Carmel; Clint Eastwood em «Por um punhado de dólares»
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