Se é verdade termos sido prejudicados enquanto país com as negociações na Europa da chamada PAC, Política Agrícola Comum, não o é menos estarem os nossos produtores de leite no mesmo casulo de dificuldades dos restantes membros Europeus desse negócio. Vimo-los em protesto singular em Bruxelas face a um colégio de comissários sem conforto para lhes dar. Há um excesso de produção no espaço da União. Este ano as pastagens Açorianas estavam quase desertas de vacas. Assolou-me a preocupação pelo devir da pecuária nas ilhas.
Nos últimos 40 anos fomos pensando, se «dar é fazer caridade» a ajuda está no «ensina-se a pescar». Como se a vida nos imponha resumir as opções à divisão, dicotomia, alternativa, dilema, bem e mal, trabalho e preguiça.
Há uns anos uma ONG forneceu sementes a África para estimular a produção cerealífera entre os de menos posses. O resultado foi tudo desaparecer num ápice, a voragem da fome a reconvertê-las em alimento. O «nada mais há a fazer» emergiu como a inevitável conclusão. Todavia, os princípios da cooperação dizem serem necessárias concomitantemente as duas formas de apoio a países e comunidades em críse. Que estão por todo o lado.
A União Europeia e o G 20 planearam mais apoio a África. Pois bem, se a este nível puder ser estudada uma política de literacia e microcrédito, susceptível de a médio prazo curto se criarem pequenos empregos familiares e o cultivo seguro das terras – nenhum general, cacique ou etnia as vem usurpar –, quem sabe se o panorama não será mais propício a, cumulativamente, serem viáveis e reprodutíveis ajuda organizada e doações em géneros. E essas bem podiam ser o excedente comprado pela União aos produtores de leite ou de outros bens em vez de ser subsidiado o pôr fim às explorações. Medidas tais só fomentam a miséria. O dinheiro desaparece antes de se criar um futuro.
Entre nós há um sector do espectro político a não desarmar no combate ao rendimento social de inserção. Como se todos os contemplados sejam párias inúteis a fugirem dos empregos sobrantes. Há sempre fraudes, evidentemente, mas a regra é outra, aqui ou em qualquer lugar. Provavelmente, em vez de se olhar para o facto de existirem parceiros íntegros para fazerem esta intermediação com sucesso, uma tal política faria pulular argumentos do mesmo jaez.
Os manuais de ganhar eleições pouco adiantam no pôr fim à fome. O mundo pobre não poderá ficar refém dessa propensão conservadora como o esteve dos gananciosos intermediários da troca de «alimentos por petróleo» no Iraque.
Da imensa rede de Rotary International, agora potenciada pelo programa Reach Out to Africa, à Caritas Internacional, Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, entre outras entidades, com a benção das Nações Unidas, não faltam ferramentas para pôr no terreno uma tal política. E esta é, por força de diplomacia e tacto, imprescindíveis, da esfera dos negócios estrangeiros. Fique ou não Luís Amado com tal pasta no futuro governo de Portugal, deixo-lhe o meu contributo modesto e empenhado.
Henrique Pinto
Outubro 09
FOTO: Luís Amado
Nos últimos 40 anos fomos pensando, se «dar é fazer caridade» a ajuda está no «ensina-se a pescar». Como se a vida nos imponha resumir as opções à divisão, dicotomia, alternativa, dilema, bem e mal, trabalho e preguiça.
Há uns anos uma ONG forneceu sementes a África para estimular a produção cerealífera entre os de menos posses. O resultado foi tudo desaparecer num ápice, a voragem da fome a reconvertê-las em alimento. O «nada mais há a fazer» emergiu como a inevitável conclusão. Todavia, os princípios da cooperação dizem serem necessárias concomitantemente as duas formas de apoio a países e comunidades em críse. Que estão por todo o lado.
A União Europeia e o G 20 planearam mais apoio a África. Pois bem, se a este nível puder ser estudada uma política de literacia e microcrédito, susceptível de a médio prazo curto se criarem pequenos empregos familiares e o cultivo seguro das terras – nenhum general, cacique ou etnia as vem usurpar –, quem sabe se o panorama não será mais propício a, cumulativamente, serem viáveis e reprodutíveis ajuda organizada e doações em géneros. E essas bem podiam ser o excedente comprado pela União aos produtores de leite ou de outros bens em vez de ser subsidiado o pôr fim às explorações. Medidas tais só fomentam a miséria. O dinheiro desaparece antes de se criar um futuro.
Entre nós há um sector do espectro político a não desarmar no combate ao rendimento social de inserção. Como se todos os contemplados sejam párias inúteis a fugirem dos empregos sobrantes. Há sempre fraudes, evidentemente, mas a regra é outra, aqui ou em qualquer lugar. Provavelmente, em vez de se olhar para o facto de existirem parceiros íntegros para fazerem esta intermediação com sucesso, uma tal política faria pulular argumentos do mesmo jaez.
Os manuais de ganhar eleições pouco adiantam no pôr fim à fome. O mundo pobre não poderá ficar refém dessa propensão conservadora como o esteve dos gananciosos intermediários da troca de «alimentos por petróleo» no Iraque.
Da imensa rede de Rotary International, agora potenciada pelo programa Reach Out to Africa, à Caritas Internacional, Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, entre outras entidades, com a benção das Nações Unidas, não faltam ferramentas para pôr no terreno uma tal política. E esta é, por força de diplomacia e tacto, imprescindíveis, da esfera dos negócios estrangeiros. Fique ou não Luís Amado com tal pasta no futuro governo de Portugal, deixo-lhe o meu contributo modesto e empenhado.
Henrique Pinto
Outubro 09
FOTO: Luís Amado
Sem comentários:
Enviar um comentário