domingo, 11 de outubro de 2009

A ENCOSTA PERIGOSA


Hoje é Dia de Eleições em Portugal. A fórmula dos executivos maioritários para as autarquias ainda não é adoptada entre nós. Esperamo-la da próxima legislatura. Mas, ao menos nestas eleições os cidadãos sabem a quem responsabilizar em primeira instância.No mundo contemporâneo, de economia mais e mais globalizada a cada dia que passa mas sem saídas inovadoras para a crise mundial – ainda que apenas um terço do planeta usufrua dum gradiente razoável de riqueza e os dois terços restantes vivam mal ou mesmo muito mal –, a cultura pode estar a resvalar para uma encosta perigosa a vários níveis: a paranóia antiterrorista gerada pelo 11 de Setembro; a proliferação de seitas; o desinteresse generalizado pela política, e mesmo a rejeição da organização social, catalizada pela frustração de experiências sociais vividas, ou mesmo, pelo horror induzido pela corrupção, pela quebra dos valores da ética; mas a resvalar também para certas formas de literatura hoje dominante, mítica, mistificadora e alienante, e, portanto, enganadora.
Torna-se por vezes muito ingrato descortinar onde poderá estar a verdade no que se vai sabendo estar eventualmente a passar-se no mundo.
Age-se e vive-se – e, sobretudo, é-se vivido pelos aparelhos omnipresentes da média, da publicidade e da política espectáculo –, numa terra de todos e de ninguém, numa opacidade – nas palavras do filósofo português João Barrento – que não permite definir contornos rígidos.
Acaba-se muitas vezes por ver o mundo que nos rodeia e a terra inteira como se estivéssemos a sofrer o derradeiro apocalipse.
Ora, felizmente, quase tudo o que há por fazer está ainda ao alcance da mão e do intelecto dos homens e mulheres.
Henrique Pinto
10 Outubro 2009
FOTO: Herta Müller, Nobel da Literatura 2009, dos grandes pensadores e criadores modernos se espera um contributo social adequado aos tempos


1 comentário:

  1. Dei a cara sem peias nas eleições Legislativas. Foi bom. Tal como sempre dei com o Dr. Mário Soares. Procurei fugir a sete pés destas eleições porque tinha amigos de ambos os lados. Não o consegui inteiramente. Preferia ter obtido esse limbo, mas tal também não era moralmente correcto. E isso aconteceu em todas as Câmaras onde pago impostos e onde tenho amigos do peito, pouco me importam os partidos. Afinal, até não desgostei das campanhas em termos gerais.Foi bom ajudar aqueles que ajudei, uns ganharam outros não, mas esse é agora o mais infimo dos meus problemas.Foi muito agradável viver a vitória de quem suou, a vitória dos que quiseram diferente e lograram. O esforço merece sempre recompensa. Parabéns. Amanhã, quem ganhou, ganhou, merece o respeito de todos e a todos deve respeitar, se o fez sem mácula. Quem perdeu, perdeu, deve merecer o respeito de todos se assim também aconteceu sem mácula.
    Já enalteci a Obra de pessoas que acabaram condenadas na Justiça, soube-se depois, claro, por actos praticados no decurso dos seus mandatos. Não posso apagar o que disse no contexto em que se desconheciam eventuais delitos. Que valor tem afinal esta Obra? Otelo Saraiva de Carvalho também foi ovacionado (pela Obra do valoroso e humilde Salgueiro Maia!), mitificado, mas acabou condenado por eventuais delitos. Talvez por isso seja apologético desse tipo de «vencedores». Não sei se cai no ridículo por isso. Mas a meu ver devia cair. É verdade que se diz na América, «é melhor votar em quem é rico porque já não precisa de mais para si». Mas não foi isto que Otelo apoiou, foi mais ou menos «que me interessa se foi condenado se faz Obra!». Ora bolas para a Obra!
    Também houve a derrota de pessoas condenadas, foi um bom augúrio para a democracia.
    A futura Assembleia da República deve ponderar sobre este exemplo e legislar em conformidade.
    Alguém disse por brincadeira «os letrados de Oeiras» votaram como votaram, os iletrados de Felgueiras também». Gostei.
    Henrique Pinto

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