Quando despontou a alvorada do século XXI a polio não tinha sido ainda erradicada do mundo inteiro. Mas tinha sido dramaticamente reduzida, muito para além do que a maior parte das pessoas pensava ser possível. As maiores bolsas da doença permaneciam em África e no Sul da Ásia. A África tem sido um cenário frequente para os NIDs por via dos conflitos a ocorrerem através do continente e das dificuldades de transporte e comunicações.
A Índia foi inicialmente relutante em acolher os NIDs e por isso teve um começo tardio, comparado com outros países. Contudo, logo que começaram os NIDs as estatísticas foram simplesmente abaladas. A Índia tem mais crianças que qualquer país na terra. Quando acolheu o primeiro NID em Dezembro de 1995 só havia dinheiro suficiente para vacinar as crianças com menos de três anos. Mas dois milhões de trabalhadores da saúde e voluntários montaram 600000 postos de vacinação e imunizaram 90 milhões de crianças num só dia. No ano seguinte, incluindo as crianças de quatro e cinco anos, o número cresceu para 127 milhões, e em 2000 cerca de 152 milhões de crianças receberam as duas gotas salvadoras de vacina oral da Pólio num único NID PolioPlus.
Em Fevereiro de 2003 a Índia lançou a maior campanha de imunização de massas até aí encetada contra a polio – foram vacinadas 165 milhões de crianças até aos cinco anos de idade –, para combater a pior epidemia da doença da história recente.
O Estado de Kano na Nigéria terminou abruptamente a vacinação contra a polio em 2003 e com isso levou a um retrocesso que não apenas agravou a endemia no país como estendeu a epidemia por dez outros países africanos, do Egipto ao Botswana, previamente declarados livres da polio. Mas felizmente que esta onda foi controlada depois da Declaração de Genebra em Janeiro de 2004. Em Dezembro deste mesmo ano 23 países participaram em NIDs, com especial destaque para o Chade, Costa do Marfim, Sudão e Burkina Faso, que eram entre os países recém contagiados os únicos onde a transmissão da polio ainda não tinha sido interrompida. A própria Nigéria fez um esforço enorme ainda que insuficiente para recuperar o tempo perdido. Um décimo país já livre da polio, o Sudão, voltou a ter um caso novo na região de Darfur por contágio com o mesmo tipo de vírus da polio que é endémico no noroeste da Nigéria. Desencadeada a guerra civil naquele país do norte de África são muitos os refugiados a viverem temporariamente em campos com o grave risco do ambiente sobrepovoado e com baixíssimos níveis de saneamento.
Henrique Pinto
Setembro 09, no Dia Mundial da Polio
FOTOS: a cidade de Kano, capital da província do mesmo nome, onde autoridades e rebeldes não têm criado condições políticas e sociais para pôr fim à polio, o que está a custar uma fortuna ao mundo; «Missão de Rotary International em Angola», livro síntese dos pontos de vista de quem integrou a delegação que conduzi, em Angola, e também a minha primeira NID, foi profusamente vendido como receita para a Rotary Foundation utilizar na Campanha da Polio; mulheres muçulmanas, infelizmente acusadas duma obstrução à vacinação, que é sobretudo política
A Índia foi inicialmente relutante em acolher os NIDs e por isso teve um começo tardio, comparado com outros países. Contudo, logo que começaram os NIDs as estatísticas foram simplesmente abaladas. A Índia tem mais crianças que qualquer país na terra. Quando acolheu o primeiro NID em Dezembro de 1995 só havia dinheiro suficiente para vacinar as crianças com menos de três anos. Mas dois milhões de trabalhadores da saúde e voluntários montaram 600000 postos de vacinação e imunizaram 90 milhões de crianças num só dia. No ano seguinte, incluindo as crianças de quatro e cinco anos, o número cresceu para 127 milhões, e em 2000 cerca de 152 milhões de crianças receberam as duas gotas salvadoras de vacina oral da Pólio num único NID PolioPlus.
Em Fevereiro de 2003 a Índia lançou a maior campanha de imunização de massas até aí encetada contra a polio – foram vacinadas 165 milhões de crianças até aos cinco anos de idade –, para combater a pior epidemia da doença da história recente.
O Estado de Kano na Nigéria terminou abruptamente a vacinação contra a polio em 2003 e com isso levou a um retrocesso que não apenas agravou a endemia no país como estendeu a epidemia por dez outros países africanos, do Egipto ao Botswana, previamente declarados livres da polio. Mas felizmente que esta onda foi controlada depois da Declaração de Genebra em Janeiro de 2004. Em Dezembro deste mesmo ano 23 países participaram em NIDs, com especial destaque para o Chade, Costa do Marfim, Sudão e Burkina Faso, que eram entre os países recém contagiados os únicos onde a transmissão da polio ainda não tinha sido interrompida. A própria Nigéria fez um esforço enorme ainda que insuficiente para recuperar o tempo perdido. Um décimo país já livre da polio, o Sudão, voltou a ter um caso novo na região de Darfur por contágio com o mesmo tipo de vírus da polio que é endémico no noroeste da Nigéria. Desencadeada a guerra civil naquele país do norte de África são muitos os refugiados a viverem temporariamente em campos com o grave risco do ambiente sobrepovoado e com baixíssimos níveis de saneamento.
Henrique Pinto
Setembro 09, no Dia Mundial da Polio
FOTOS: a cidade de Kano, capital da província do mesmo nome, onde autoridades e rebeldes não têm criado condições políticas e sociais para pôr fim à polio, o que está a custar uma fortuna ao mundo; «Missão de Rotary International em Angola», livro síntese dos pontos de vista de quem integrou a delegação que conduzi, em Angola, e também a minha primeira NID, foi profusamente vendido como receita para a Rotary Foundation utilizar na Campanha da Polio; mulheres muçulmanas, infelizmente acusadas duma obstrução à vacinação, que é sobretudo política
Sem comentários:
Enviar um comentário