quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ASSUMIR RISCOS












Concorrer de novo à Direcção do OLCA, mesmo que forçado pelas circunstâncias, quando já se passou dos sessenta anos e há um mar de solicitações muito agradável, não é, mesmo assim, um sacrifício, mas um dever inalienável. Neste momento só o Orfeão e os amigos me ligam mais fixamente a Leiria, a minha vida faz-se noutras latitudes. Mas continuar a assumir riscos, que é uma das componentes fortes da liderança, e fazê-lo com uma renovação muito substantiva na composição do elenco directivo, ao fim dum desgaste de tantos anos, é também altamente motivador.
Obviamente que as circunstâncias tão difíceis ditam também a premência em encontrar caminhos novos e enxertá-los no passado glorioso. Há que rever as concepções em termos de: planeamento estratégico; enquadramento regional (onde há escolinhas sempre na imprensa mas donde poucos resultados saem); diversificação do financiamento (o recurso ao aumento do volume de alunos no ensino privado é uma prioridade); fortalecimento da qualidade escolar e artística (ministrar o Ensino Profissional autonomamente e não exclusivamente em articulação com Agrupamentos de escolas do ensino secundário, como vem sucedendo); abertura a cursos inovadores para todas as idades; reforçar o ensino sénior e do Projecto Oficina, a decorrer no Orfeão Velho;
redimensionamento institucional; melhor comunicação externa e interna; sistematização mais eficaz da imensa produção artística reforçando-lhe o impacto público; participação nas redes nacionais; reforço da qualidade coral pela manutenção na primeira divisão dos corais portugueses, algo muito difícil nos dias de hoje, de molde a poder-se competir nos melhores concursos e eventos nacionais e internacionais (para tal já foi contratado o maestro João Branco). A organização dum certame internacional nesta área, projecto antigo, pode surgir agora.
Henrique Pinto
Fevereiro 2012
FOTOS: Henrique Pinto; Arquitecto Carlos Vitorino, vice presidente (aqui em férias na sua casa da ilha do Pico); Dra. Telma Curado (novo membro do Conselho Fiscal)



A DISPERSÃO CONTRA NATURA

O Ministério da Educação presidido pela Dra. Isabel Alçada, ao ter incentivado e mantido o ensino artístico gratuito (sem um planeamento minimamente rigoroso) acabou a defraudar o país e as instituições artísticas vocacionadas, porque, logicamente, a procura foi excessiva para a oferta. Depois, ao reformular os curricula do ensino artístico sem qualquer carácter científico ou a noção do aluno como um todo, acrescentando-lhe 25% de carga horária (o que satisfez alguns lobbies docentes) – quando Portugal já tem uma dispersão de disciplinas no ensino básico e secundário geral superior à de todos os países desenvolvidos, e daí o insucesso elevado -, as despesas de funcionamento escolar cresceram em flecha dado serem necessários muito mais professores (que o país nem tem). Foi neste momento de subida das despesas absolutamente desnecessária que o ministério da educação se demitiu das consequências.
Foi assim que, como resultado do Orçamento de Estado 2010, as despesas com a contratualização referente à maior parte do ensino artístico (música e dança) transitaram do ministério da educação para o ministério do trabalho (hoje ministério da economia), através do Programa POPH. Nada do que foi dito pelos secretários de Estado de ambos os ministérios que subscreveram este acordo veio a ser verdade quanto ao não prejuízo das entidades com contratualização com o ministério. Há um prejuízo franco para quem respeita escrupulosamente as leis e regulamentos, como é o nosso caso. E tanto maior quanto o POPH tem prazos de reembolso que não se coadunam com o volume financeiro das maiores escolas, como é a nossa, o que obriga a uma ginástica enorme. E sobre estes problemas o silêncio, mesmo da comunicação social e das associações de escolas, sobretudo estas, foi absoluto.
Estamos em crer que o novo ministro da educação, Dr. Nuno Crato, estará atento a dislates tão informes no ensino artístico. Só esperamos que se contrarie a norma do passado, as alterações surgirem em plenas férias estivais.
Henrique Pinto
Janeiro 2012
FOTOS: Nuno Crato; Isabel Alçada