quinta-feira, 25 de junho de 2015

TOMORROWLAND E O MEU BIG BANG

Perdoe-se-me a crónica intimista por detrás deste post. Ontem bebi uma cerveja (sem álcool, obviamente), prevaricação inédita da vontade nos últimos anos, e vi a película TOMORROWLAND no Leiria Shopping. Foi absoluta coincidência. O filme da Disney, um feliz achado, plasticamente belo, criativo, dinâmico até à vertigem dos espetadores, e de enredo simples. Longe, porém, da simplicidade indigente. É quase um filme de autoajuda para qualquer escalão etário. Nele se intui a energia da persistência – o nunca desistir! -, da solidariedade, da esperança, da união para elevar a sociedade ao patamar da felicidade.

Mas tal coincidência cola-se-me num estado de espírito de grande otimismo perante a vida e o seu valor. Um ânimo típico dum novo recomeço, uma fase em muito semelhante a outras no passado, mais corte epistemológico que casualidade. No sumo de TOMORROWLAND, principalmente nas cenas finais, parecia estar, afinal, um outro Génesis, um novo Big Bang pessoal, um pouquinho das minhas novas expetativas quanto ao presente e futuro.
Henrique Pinto
Junho 2015 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

VÃO-SE LIXAR!


Na Régua e em Vilar Real, primeiro, e segundos depois por todas as terras ao longo do Douro português, decorreram manifestações violentas contra a não privatização daquela estrada náutica, quando o maioral já vendera o Tejo a empresários chineses. Os modernos e luxuosos overcrafts, comprados com o remanescente das reservas suficientes, dos cofres cheios, ligavam agora Cacilhas ao Cais das Colunas. As pontes haviam deixado de funcionar por falência da Lusoponte, face ao baixíssimo custo dos bilhetes.
Todavia, este figurante mandão, por quem se não daria um chavo enquanto angariador de fundos para formar trabalhadores inexistentes, o trabalho que lhe é conhecido, resgatado pelo pai aos comunistas e aos elencos La Féria para liderar um team ultraliberal (coisa fácil por não serem necessárias grandes derivas ideológicas, foram mesmo os investidores chineses e alguns maoistas da sua equipa a recordar-lho), andava agora com pesadelos.
A colónia sueca atraída pelos vistos Gold tomara o Estoril. Habituada aos transportes públicos não queria os comboios geridos por privados, quem sabe se por orientais. E logo agora quando apenas deixaria a TV na esfera pública. Não nos podemos esquecer, motivações estritamente ideológicas à parte, nem sempre se pode contar com os tabloides, a imagem dá muito jeito.
Pesadelos só por isto? Vejamos.
A nostalgia da Baía de Luanda atormentava-o, mesmo com a restauração de monopólios da luz, e outros, não lograra ainda fazer de Lisboa uma cidade tão barata como a sua capital africana. E esses chatos dos investidores frustrados do Santíssima Trindade, galera inconsolável e barulhenta, esperava-o com espavento em todas as esquinas. Já reconduzira o chefe da capela-mor gerador indireto deste problema não fosse ele começar a sacudir a caspa do casaco (leia-se responsabilidades) agora que vêm aí eleições. Até lhe apontavam um aparte deliberado dizendo que elas se podiam lixar. Mas tal era uma imensa provocação da gentalha oportunista, um mito urbano mais.
Bom, mandou arrestar tudo, pertença do pessoal da Santíssima (deixou de fora o amigo troca tintas, porquanto ele está a tratar da recuperação financeira dum clube desportivo e com essa gente nada quer), mesmo se ninguém dentre eles está constituído arguido. E logo os média pressurosos e bem municiados dos régios segredos fundamentaram tal decisão: assim haverá dinheiro para ressarcir os tais investidores frustrados. Brilhante, não é?
Essas recordações da terra açafrão, onde enquanto jovem lhe chegavam rumores das sargenteadas a ganharem poder, eliminando ou segregando os ocupantes dos cargos apetecíveis até aí, levara-o a congeminar o engavetamento do seu antecessor, pouco importa se culpado ou não de algum encosto, e assim induzir o desvario nas hostes que se lhe opunham.
Amante do teatro, mas não de tragédias gregas, arrepiara-o até ler doze páginas de Kazantzakis, falava grosso sobre os viventes para os lados do Adriático. Vocês querem ameaçar o liberalismo extremo protetor dos bons alunos na Europa? Pois vão-se embora, morram à fome e sem luz, lixem-se para lá…
Um dos seus homens de mão, duma boçalidade néscia de difícil contágio, em plena Dome, apelidara a clique helénica no governo, de cirrose. Logo o maioral se lembrou, ufano, cirrose pois…, eles vão precisar de fígados para transplante, pois nem um levam daqui, importa-me lá o default, vão-se lixar!
Henrique Pinto

Junho 2015

terça-feira, 16 de junho de 2015

CANCRO, IDADE E SEXO

Ainda não esfriou o espalhafato da revista Time ao fazer parangonas sobre a cura eminente do cancro em geral. Sabe-se, infelizmente, andar pelos 25% a taxa de mortalidade para este universo de patologias. Terá sido uma mentira desbragada, tanto maior quanto criou expectativas favoráveis muito amplas e altas.
Porém, há equívocos generalizados sobre a saúde física e mental bem mais graves, porquanto assentam na ignorância, no atavismo, no preconceito, e são suscetíveis de efeitos perversos numa escala maior.
Só na última década a esperança de vida ao nascer subiu à volta de cinco dígitos para homens e mulheres. Esta onda vital tem consequências muito positivas no bem estar. E força o pôr em prática de novas políticas, assistenciais e demográficas.
Aquela anedota tola, como todas as anedotas o são, sobre o idoso de noventa anos com uma ereção vigorosa sem se lembrar da utilidade de tal bênção é uma quase tolice. Provavelmente a senilidade, o parkinsonismo, o Alzheimer, estas duas últimas patologias já identificadas como ligadas ao metabolismo erróneo de proteínas, levarão mais tempo a obter cura ou minoração, por relação ao cancro. Até pelo investimento praticamente insignificante reservado à patologia mental.
Todavia, na ausência de danos mentais graves, o relacionamento sexual ativo é hoje mais longevo, a acompanhar as melhorias da qualidade alimentar, o exercício físico, a qualidade de vida, a informação, a diminuição dos excessos medicamentosos, ou mesmo o maior diálogo intergeracional. Os ganhos estéticos resultantes permitem-nos dizer que uma pessoa de 60 anos, quase a entrar na tabela oficial dos idosos, pode facilmente ter uma aparência cronológica de cerca de 20 dígitos para menos.
Além do mais homens e mulheres usufruem hoje de ajudas farmacológicas e técnicas passíveis de resolverem problemas extremos.
É dever dos médicos contribuírem, clínica e socialmente, para aclararem tais questões. Até para não deixarem tal dossiê à responsabilidade exclusiva das revistas do coração, opacas e mitificadoras. Ora, de mitos, já temos quanto baste!
Henrique Pinto

Junho 2015

A GRANDE PECHA

A Justiça em Portugal enquanto órgão de soberania (juízes e juízos) e procuradores (bem como os órgãos de investigação e manutenção da ordem pública), afetada a ministérios diferentes, não tem por onde se lhe pegue, tal é o desvario no atropelar das leis, na contenção, no rigor (de acordo com juristas eminentes), no quotidiano. Sempre entendi e nas últimas décadas fiquei mesmo convencido, é a Justiça que está a montante de toda a estrutura económica e social. Se a justiça é injusta e formalmente imprópria para consumo, desaparecem os sustentáculos políticos e morais duma nação. 
Enfatizou-se nestes dias um coro de lamentos e temores quanto a esta falha grave do sistema por parte de pessoas que pensam o fenómeno. Se boa parte dos cidadãos eleitores é abúlica, atávica e iletrada, maleitas de terapêutica demorada quando existe, qualquer burlão incumpridor bem falante, demagogo fútil ou encostado, leitor apressado duns livrecos ultraliberais ou apenas oportunista, pode, pelo mau exemplo, contribuir para a perpetuação deste status. Também uma justiça injusta dificilmente abre terreno à minoração da pobreza ou ao ajudar da igualdade de oportunidades.
Henrique Pinto

Junho 2015

sábado, 13 de junho de 2015

GOVERNANÇA DE LIVRECOS

É óbvio o genocídio social das classes médias…
Os comentadores do futebol vertical ou em altitude (que ignorância!) pressagiam algo de acrobático e uma bola a passar-se muito acima das suas cabeças. Talvez por isso mesmo, ao referirem-se ao «famosíssimo» Estádio Nacional de Santiago do Chile, a propósito do jogo entre a seleção deste país e a do Equador (Copa América), tão pouco soubessem a razão para tal renome. E no entanto foi ali que na segunda metade de Setembro de 1973 foram mortos e estropiados milhares de cidadãos em nome do dinheiro. O
derrube do governo socialista de Salvador Allende pelas tropas dum ditador burlesco e enfadonho, com o apoio da CIA, reinstalou no país na forma mais contra social um mando de capitalismo extremo, fero e vil. Os povos têm dificuldade em aprender quando tolhidos pelo gládio ou a verborreia dos incumpridores de promessas, transfigurados ou não em «santinhos» dos arrabaldes «lupenados».


Os mesmos messias encontraram eco na gestão Reagan para uma experiência económica mais canibalesca. Este novo modelo económico hoje proeminente da Europa à China é tão injusto para o grosso da humanidade como as heranças de Estaline a Hitler. Evaporam-se as pessoas concretas, as classes médias empobrecidas, dominam os «empresários» herdeiros dos resquícios públicos e sociais.
No final dos anos trinta do século passado a família do médico Segismundo Freud emigra para Inglaterra, onde já se encontrava parte da descendência, perseguida pelo regime do «sargento austríaco». Vamos encontrar na pintura do neto Lucian, artista sensível, carnal - treze filhos de quatro mulheres -, retratos expurgados da expressão de sentimentos, não raro personagens duma carnalidade viva esboçados sob uma luz forte. Os seus temas são as pessoas com as suas vidas distintas – amizades, família, colegas, amantes e crianças -, gente retratada «não pelo que quer ser mas pelo que é», relacionadas com a «esperança e a memória, a sensualidade e a participação, a verdade...». Salta da psicanálise dos estudos do avô, vertida no seu surrealismo de juventude, para a mais alta expressão do figurativo, quase premonitória duma certa sociedade hodierna, de irrequietude consciente e descrente, ou de vagas de desesperados, todos não mais que números.
É a singularidade a massificar-se por força dessa ideologia económica livresca, em muitos casos genuína, a lembrar aos portugueses o frémito igualitário de todos os leitores apressados de 1974, prenhes de soluções de governança para o mundo.
Para a emersão desse mundo privado de sentimentos resta-nos a tal irrequietude consciente que atemoriza o amplo espetro político do Eurogrupo, da aliança comercial Europa-América e quejandos ou os raros diretórios estalinistas, residuais, como em Portugal.
Henrique Pinto
Junho 2015



quinta-feira, 11 de junho de 2015

REPASSAR SAUDAÇÕES NA DESPEDIDA

Passam quase dois anos sobre a minha abdicação voluntária, longamente pensada como um fim de ciclo, do meu trajeto como gestor cultural. Eis algumas cartas de amigos próximos sobre essa alteração substantiva do meu estatuto no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes. Bem hajam. Hp

Caro amigo,
No momento em que cessa as funções que ao longo de tantos anos e tão intensamente vividos exerceu, quero, desde logo, felicitá-lo pela riqueza desse percurso, pelos sucessos alcançados, pelo reconhecimento público em que se traduziu; foi toda uma vida de dedicação à causa pública e à cultura; os feitos falam por si. Quero, também agradecer-lhe todas as atenções com que sempre me distinguiu, nas mais variadas circunstâncias. E quero, finalmente, manifestar-me o seu dispor no tempo futuro que agora começa e para o qual lhe desejo as maiores venturas.
Um abraço, com amizade,
Carlos André

Caro Dr. Henrique Pinto
Estimado amigo
Apraz-me apenas duas palavras. Simples mas sinceras.
Uma de reconhecimento pela obra que deixou, conferindo prestigio à cidade de Leiria, edificando uma "escola" que moldou a "fisionomia" da arte da cidade que me acolheu há mais de 30 anos.
Outra de agradecimento por tudo o que fez, não só pela nossa cidade, como pela região e também pelo nosso País.
Um enorme muito obrigado Dr. Henrique Pinto.
António Martinho

Nenhuma decisão que implique com a necessidade de mudar para outras mentalidades deve ser adiada para além do desejável. Por isso entendi chegado o momento. Mas não parti. Vou andar por aí como me recomendam alguns amigos. Em outubro verão, o meu livro já está impresso. É um estudo cientificamente validado e ao mesmo tempo testemunho e memória, longamente amadurecido. Entretanto, queiram ver mais algumas reações amigas:

Caríssimo Dr. Henrique Pinto:
É com uma nítida estranheza que leio a sua mensagem e compreendo a nova realidade: o Orfeão de Leiria sem si. A nostalgia é inevitável pois, sempre conheci e vivi esta casa suportada no Diretor que todos estimavam e reconheciam imenso valor.  
Existiram conquistas, perdas, sinergias, divergências, desafios, sucessos, suor, riso, lágrimas... Mas, apesar de tudo, muito amor. Amor pela Arte, Amor pela Casa OL. Foram muitas as dificuldades que a instituição passou e que, sem a sua ajuda, não teriam sido possíveis ultrapassar. O Dr. Henrique Pinto foi e será sempre o Grande Pilar do OLCA. 
Visto que estamos em época estival - que é como quem diz, com as mentes em velocidade cruzeiro, pouco expeditas, e a recuperar energias para o que se seguirá - o discurso que lhe é merecido vai requerer de mim um
cuidado superior, ao qual não poderá faltar toda a gratidão e deferimento que por si nutro. Fui claramente apanhada de surpresa e, neste momento, não quero falhar nas palavras. Assim, resumo, por agora, o meu sentimento com um Grande OBRIGADO e o desejo de que saboreie os próximos tempos com a calma e o prazer que uma vida plena lucrou. E já agora, pontuada de orgulho dos próximos projetos deste seu filho Orfeão de Leiria. 
Com afetuosos cumprimentos, 
Catarina Moreira

Dr. Quero agradecer-lhe a simpática carta de cessação de funções.Mas mais importante, não se retire, ande por aí, que faz falta.
José Ferreira
Exmo. Senhor
Dr. Henrique Pinto
Meu Estimado Amigo
Ao Abrir o computador e ao encontrar o e-mail que me enviou, esperava uma qualquer comunicação, mas nunca a informação constante do mesmo que, segundo declara, é enviada em primeira mão.   Não posso deixar de lhe agradecer esta deferência, que é prova da grande amizade que nutre pela minha pessoa.
Depois da tomada de posição, que tinha assumido publicamente, sempre esperei que mantivesse a presidência da direção da nossa associação até ao fim do mandato.   Claro que respeito a sua tomada de decisão e, desde já, aproveito para lhe agradecer a confiança que lhe mereci.   O imenso trabalho que desenvolveu à frente do Orfeão de Leiria nunca será esquecido e ainda bem que deseja continuar a colaborar, agora em novas funções.
Eu e minha mulher agradecemos os seus votos de felicidades e desejamos-lhe muita saúde para poder continuar a engrandecer o Orfeão de Leiria.
Um grande abraço reconhecido
João Eliseu

Exmo. Sr. Dr. Henrique Pinto,
Nesta hora de despedida da liderança do Orfeão de Leiria, não podemos deixar de lhe transmitir uma palavra de agradecimento pela qualidade do trabalho desenvolvido. Só uma liderança forte, dinâmica e empenhada poderia ter afirmado este projeto, dando-lhe a dimensão e importância que hoje tem, quer regional, quer nacionalmente. 
Certos de que pessoalmente continuaremos a cruzar-nos noutros projetos de vida, agradecemos tudo o que fez por esta comunidade. 
Direção da Nerlei

Podemos tentar fazer cenários de acordo com a experiência e o saber. Apesar de tudo o futuro não deixa de ser uma incógnita. Tomei a minha decisão longamente sopesada. Sair no momento que tomo por certo. Fiz a minha escolha, a minha aposta como o pai Moreira de Figueiredo fez a sua há trinta anos. Acho que não vou ter razões para me contristar. E ajudarei sempre que puder responder.

Caro Henrique Pinto     
Recebi a tua mensagem comunicando teres cessado as funções de Presidente da Direção do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes, que agradeço.Compreendo que seja necessário fechar um ciclo na liderança do OLCA, entidade herdeira da melhor tradição cultural da cidade, mesmo que certamente tal decisão não seja, felizmente, por incapacidade tua, pois continuarás a colaborar com a direção e em particular nas atividades que indicas.A construção da atual estrutura, foi uma obra de fundo, na cidade e no panorama cultural e do ensino artístico do país, sendo inquestionável o papel determinante que a liderança que agora termina, desempenhou no crescimento, consolidação e diversificação das várias valências.Acredito e desejo sinceramente, que a dimensão atingida, e os mecanismos do seu funcionamento sejam suficientes para suportar o seu próprio peso, não deixando soçobrar esta obra provavelmente única em Portugal e até para além dele.
Gostava de ter a certeza que os ciclos de vida das instituições determinam oportunidades e podem ser positivos para a marcha da sua finalidade ao serviço das pessoas e das comunidades.Dominas como ninguém o conhecimento destas matérias, pelo saber prático e teórico acumulado, e por isso, quero acreditar, que este momento da história do OLCA, é também um novo momento de afirmação, com outros protagonistas, dos quais não havendo ainda uma avaliação histórica da sua ação, possam, como há 31 anos, serem, pelo seu perfil, merecedores da confiança de quem transmite o testemunho.
Desejo pois, neste momento, felicitar-te e agradecer todo o trabalho que já desenvolveste em prole da cultura deste país, que continuarás certamente a desenvolver, e que hoje, como outrora, os vários pontos de vista sobre uma mesma realidade, não inviabilizem quando estão em causa valores universais, a cooperação e trabalho coletivo, ao serviço de todos e do bem comum. Um abraço.

António Moreira de Figueiredo

Muito Boa Tarde Exmo. Doutor Henrique Pinto,Não sabia que ia cessar as suas funções como Presidente da direção do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes, assim sendo quero-lhe desejar Felicidades para o Futuro e dizer -lhe que eu como ex-aluna e professora do Orfeão de Leiria estou extremamente grata pelas contribuições feitas ao longo dos anos pelo Doutor e o senhor deixará com certeza saudades entre funcionários e professores desta casa Saudações artísticas musicais e dançantes, 

Katy Nascimento (da Dança do projeto 0-5)

Exmo. Sr. PresidenteDr. Henrique Pinto Encarrega-me o Sr. Presidente da Assembleia Municipal da Marinha Grande, Telmo Ferraz, de em seu nome pessoal e em nome do órgão a que preside, de agradecer todas as deferências com que sempre foi tratado por V. Exa. no decorrer do seu longo mandato.Agora que cessa funções da Presidência do Orfeão de Leiria, manifesta vontade que continue com sucesso no futuro, quer na sua vida pessoal quer na sua intervenção cívica.
Apresenta os melhores cumprimentos pessoais e amigos. 

Gabinete de apoio à AMPaula Moreira

Exmº Sr. Dr. Henrique Pinto: Recebemos a sua missiva de comunicação da cessação de funções como Presidente do Orfeão de Leiria, o que registamos, manifestando-lhe o nosso vivo apreço pela forma como prestigiou a cultura de Leiria e como sempre procurou colaborar com esta escola secundária Afonso Lopes Vieira.  A utopia concreta da militância cívica é feita de dádiva absoluta e despojamento pessoal, sendo que quem dirige instituições como estas, só o pode fazer na lógica do serviço público de que o Dr. Henrique Pinto é um supremo exemplo. E, como escreveu Mia Couto " ...enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva".Desejamos-lhe as maiores venturas pessoais na nova etapa de vida.Com os melhores cumprimentos e estima pessoal, 
 
Pedro Melo Biscaia Diretor da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira

Caro Dr. Henrique Pinto, 

É com alguma surpresa que recebi a notícia de que cessa funções enquanto Presidente da direção do OLCA, não pelo assunto em si, pois já me tinha referido da sua intenção de se afastar, mas por pensar que não seria tão cedo que isso acontecesse. Congratulo-o pela sua dedicação de longos anos à instituição e pelos resultados conseguidos, fazendo votos para que este virar de página da sua vida lhe traga as maiores felicidades. 
Com amizade. 

Miguel Sobral CidDiretor Adjunto Fundação Calouste Gulbenkian / Deputy Director

Caro Companheiro Henrique Pinto, 

Fiquei muito surpreendido com o seu email!Reconheço e agradeço o elevado contributo que tem dado a todos os aspetos da vida do Orfeão.Desejo-lhe a continuação de dias felizes na situação mais folgada em que passou a estar. Um abraço

Manuel Vieira

Exmo. Sr. Dr. Henrique Pinto 
No seguimento da vossa comunicação com Ref.ª 265/2013, datada de 01-08-2013, venho por este meio felicitar pelo trabalho desenvolvido e agradecer sempre a disponibilidade e excelente colaboração que sempre demonstrou no exercício das suas funções e desejar-lhe as maiores felicidades par esta nova fase da vida, e, acima de tudo com muita saúde. Com os melhores cumprimentos,O Presidente da Câmara Municipal

João Salgueiro

Ciclos de vida
Tudo tem o seu tempo. E quanto maior for a «absorção» por uma paixão, menor é o campo de visão para o universo. E se uma fase da vida institucional está cumprida só há que sair dela. Mesmo quando dói. Quando os pais amparam os filhos à distância, ouvi ao padre Idalmiro, será que gostam menos deles?

Caro amigo Henrique Pinto
A obra ímpar que fica fala por si, pelo que considerações extra serão sempre curtas e desajustadas.
Saber sair a tempo e passar bem o testemunho é apenas engenho e arte para alguns. Acredito que seja o caso, como deve imaginar.
O dever está cumprido.
Há ciclos na vida de cada um que se cumprem, mas nunca nos devemos esgotar eternamente nalgum deles. Parafraseando o Dr. Jorge Sampaio (embora de forma adaptada), há mais vida para além das instituições...sem que isso signifique que delas não curemos, com conta, peso e medida, como diria o povo.
Força para os novos projetos, para as novas figurações, para os novos caminhos.
Obrigado pela atenção e pela mensagem.
Abraço.

João Cunha

Henrique,
Quero felicitar-te pelo concretizar de um objetivo há muito delineado. Parabéns pela Grande Obra construída nestes 31 anos e muitíssimo obrigada pela extrema dedicação de cujos frutos, eu e minha família, usufruímos. Muitas felicidades para a nova etapa da tua vida.Um abraço.

Clementina Antunes


Bom dia Dr. Henrique
Antes de mais peço desculpa por ter saído mais cedo, mas a minha família sem mãe, não funciona... Fiquei surpreendida ontem com a sua comunicação de cessar funções, pois só o esperava no final do mandato. Foi um " ficar sem chão" assim de repente. Mas tudo correrá bem. O Orfeão ficou em boas mãos. O Arq. Carlos Vitorino parece um homem dinâmico e capaz de orientar o barco. Precisaremos sempre do seu apoio. Pessoalmente ainda me sinto, por vezes, perdida, mas tomo esta passagem pelo Orfeão como mais uma aprendizagem e um desafio na minha vida. Tudo farei para apoiar o Carlos, e contribuir para a continuação do seu trabalho.Um beijo com muito carinho,

Dora Subtil

Buenos días, Henrique 



Pasé el fin de semana fuera de Leiria y cuando llegué, ayer, me encontré con la sorpresa de tu salida del Orfeão. Espero que sea por querer descansar y no por motivos (salud).
Te deseo lo mejor y espero que tu salida se deba a nuevos proyectos porque de lo que yo conozco de Henrique Pinto no es hombre para estar parado.  

Un saludo






 
Maria Jesús
Todo o mundo é feito de mudança
Trinta anos não são trinta dias. A consciência de bem fazer atenua a síndroma da separação, pelo menos da gestão. Mas não é fácil, pese embora tratar-se de decisão amadurecida que passou pela formação duma equipa seguidora. As muitas cartas de saudação, especialmente em mês de férias, comovem-me sobremaneira. Tenho vindo a repassá-las aqui. A todos obrigado pela amabilidade com um Bem haja.


Dr. Henrique Pinto Encarrega-me o Sr. Diretor da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Prof. Doutor José Carlos Rodrigues Gomes, de agradecer a V. Exa. o vosso ofício n.º 265/2013, de 1 de agosto,  e de lhe apresentar  votos dos maiores sucessos pessoais e profissionais. Cordiais cumprimentosHelena GasparSecretariado da Direção
Caro Dr. Henrique Pinto,  Apenas para lhe enviar um forte abraço, reconhecido pelo esforço pessoal com que se dedicou a fomentar a cultura na nossa cidade e região e a levá-la a inúmeras geografias do nosso mundo.
Um abraço a toda equipa do Orfeão de Leiria Conservatório das Artes, com certeza da continuidade do trabalho e com a qualidade a que já nos foram habituando.  Com os melhores cumprimentos,
Best regards,
Carlos SilvaDirector do Estabelecimento de Ensino ISLA/Universidade Lusófona

Exmo. Sr. Presidente da Direção do OLCA,Dr. Henrique Pinto Depois de ter recebido a missiva de v/ Exa., onde anuncia a cessação de funções, não posso deixar de evidenciar o magnífico trabalho que desenvolveu à frente do Orfeão de Leiria e de uma vasta e competente equipa, da qual o Agrupamento Dr. Correia Mateus se orgulha de ser um parceiro educativo. Na expetativa de que continue a fazer o bem e a espalhar a experiência e competência pessoal em nome de grandes causas e projetos, desejo-lhe um futuro de merecido repouso, reflexão  e meditação intelectual nas "novas funções". Com os melhores cumprimentosO Diretor

António Oliveira
Exmo. Senhor Dr. Henrique Pinto
Acuso a receção da carta de V. Exa. de 1 de Agosto pp e agradeço a comunicação que faz acerca da cessação de funções como Presidente da Direção do Orfeão de Leiria.Aproveito a ocasião para lhe manifestar o gosto que foi, para o Santuário de Fátima, poder ter mantido com o Orfeão de Leiria e o seu presidente as melhores relações.Na certeza de que a Obra realizada ao longo destes anos perdurará ainda por muito tempo, desejo-lhe as maiores felicidades e peço receba os meus melhores e gratos cumprimentos.O ReitorP. Carlos Cabecinhas

Por Henrique Pinto
Agosto 2013


quarta-feira, 10 de junho de 2015

DEIXEM ENRIQUECER UNS TANTOS!

Ouviam-se amplamente os acordes do hino pátrio com a banda desfasada da voz de Elizabete Matos, das grandes sopranos do mundo. Acontece. Sobreposto a este evento nobre o repórter televisivo, com uma falsa postura de menino de coro, falava alto e bom som num direto. Estupidez mesmo, não é?
Vi condecorado o senhor Mexia – não lhe invejo o ordenado, a emparceirar com o de Jorge Jesus – e apenas me lembro, governa um monopólio onde se praticam preços descomunais, e, ao cliente, invariavelmente maltratado, retira toda a razão. Estas distrações, por parte de quem condecora ou é assim alvo de homenagem, têm um significado político muito feio.
Disse-me um dia um bom amigo, gestor dum dos melhores Lares de Seniores do país, de preços acessíveis, «dou instruções para os técnicos tratarem cada um dos residentes pelo seu título académico». Inteligência e bom senso. Sabe ser o contrário uma despersonalização, e no caso vertente, a não menorização do utente com uma vida longa.
Ouvi a um ilustre magistrado português ser típico da magistratura em geral suprimir a todos os cidadãos arguidos (incluindo quantos nem culpa formada têm) o tratamento por senhor juiz, senhor doutor, senhor padre. Ou seja, nem Orwell foi tão longe! Deixa de haver pessoas concretas.
Claro, isto também é moda. E não me refiro à tipificação pós-moderna para não ouvir a risada amiga do Joaquim Vieira. Embora o seja. Este estalinismo rejuvenescido é originário dos cursos de gestão de recursos humanos daquele instituto superior cujo diretor se arvora em escriba ultraliberal. De lá se podem ler também das piores teses de mestrado do mundo cosmopolita. Veja-se bem quanto tais polos opostos se assemelham.
O reflexo está no comportamento dos trabalhadores mais novos duma enorme panóplia das grandes empresas portuguesas, privadas ou ainda não, de suposto serviço público.
O rapaz que muito prometeu e a tudo faltou, uma questão de mito urbano como refere (tão arrependido está a ponto de só ver dependurados em braços alheios «sacos de promessas», afligido com o cheiro de «bacalhau a pataco» da Rua do Arsenal), enveredou por uma rota ultraliberal. Fruto disso privatizou a esmo, à custa do meu e doutros bolsos, para, no limite, lograrmos tão péssimo tratamento como utilizadores.
Volto a Orwell, «todos são iguais», não é? «Mas há uns mais iguais que outros». O ultraliberalismo sempre conduziu os países, com prazos diferentes, a populações de apenas dois patamares, muitos pobres e não muito ricos. Um dos líderes chineses de há uma década dizia mesmo dentro do partido, «deixem enriquecer uns tantos».
Leiria, Junho de 2015

Henrique Pinto

«QUINÉ», UM HOMEM PARA TODAS AS ESTAÇÕES




















(…) Na heráldica imaginária das memórias a figura do encenador Joaquim Manuel de Oliveira, o «Quiné», do seu percurso enquanto criador teatral e lutador político, bem como as performances do grupo de teatro que criou em 1972 no Orfeão de Leiria, o GTOL (muito embora convidado desde 1964 a constituir um grupo cénico, chegando a trazer o encenador Fernando Gusmão a conferenciar no edifício histórico da Rua Latino Coelho), o GTOL, que incluía gente nova e vários dos antigos amadores do teatro na casa, constitui uma rutura epistemológica cultural, institucional e local, esse sinal de bom agoiro da lenda.
O escritor e encenador Luís Mourão recorda o contributo societário do Quiné em Leiria, enquanto ator e encenador (depois do OLCA esteve ainda no Ateneu Desportivo de Leiria, como antes passara por companhias amadoras e profissionais, também a fazer teatro), como marcante da simbologia do teatro nesta fase.
Diz ele com doçura: «A chegada, tranquila, de Quiné à cidade marca um momento decisivo de agregão e recuperão dos núcleos centrais da paupérrima vida cultural de Leiria de início dos anos 60. Do seu corpo, agigantado por uma imparável paixão pela arte de representar, retiram-se então inspirações criativas revigorantes no Teatro e no Cinema e uma geração em debandada para, fosse onde fosse fora daqui encontra, precariamente é verdade, boas razões para ficar mais um pouco. O seu contributo, coletivo, para a formação das sucessivas gerões de homens e mulheres cultos e críticos, empenhados seriamente na transformação das misérias, do inevitável, é inestimável. É-lhes cada vez mais acessível, aqui mesmo, propostas de espetáculo mais abertas e interessantes, Sean O'Casey para além de Gil Vicente ou as codias inteligentes de Eugene Labiche como exorcismo dos horrores de Armando Tavares. Se olharmos com atenção, na génese desta extraordiria transformaçã
silenciosa encontramos, com certeza, a curiosidade insaciável e o vigor operário do Quiné. Um vigor e uma curiosidade criativa que ele soube manter intactos a ao fim. Tinha, temos todos criativos, gestores, espectadores uma ideia de Teatro. O Quiné transportou a sua mesmo quando parecia natural abdicar dela. E eu, que penso Teatro de uma forma bem diversa, percebo-o muito bem. A questão central é, relativamente, simples: o Teatro, as artes cénicas ou performativas em abstrato, são tanto mais Arte quanto a sua capacidade de transformar o outro, de lhe permitir pensar um futuro mais interessante, uma nova realidade que corresponda como um mapa tatuado no corpo aos seus anseios.
Transformar o outro foi aquilo que, com uma singeleza fantástica, o Quiné soube fazer melhor. Transformar – entre a mais aguda crítica, o despertar dos mais radicais sentimentos de justiça, o encantamento e o desvario. Esta é uma história quase toda por escrever. Mas, é história de parte fundamental da vida cultural de Leiria».
Se desde os primeiros instantes outras práticas artísticas se desenvolveram no Orfeão de Leiria, em determinado momento houve necessidade de alargar ainda mais as atividades internas. O contexto político suscitado pela «Revolução dos Cravo como ficou conhecido o movimento militar que depôs o ancien regime, com o fim da censura às influências culturais e teatrais suscetíveis de minarem o status político, o lançar de peças nunca representadas, o alargamento das temáticas, o teatro assume a função de «veicular uma mensagem crítica e socialmente empenhada (), revoluciona o formalismo estético (Carvalho, C. 2004), e acompanha e protagoniza a ânsia generalizada de mudança propondo-se como agente social transformador.
Foi deste modo que o GTOL (Cabral, J. 1980; Pinto, H. 2010), levou à cena peças como: «Diário de Anne Frank» (os ensaios vêm desde antes da queda do regime), com um impacto enorme, os horrores da vioncia extrema sobre o Homem, tema, trabalhado na adaptação do texto pelo Quiné, 
reforçavam as convicções democráticas;  «O  Dispensário»,  história centrada no espaço gélido e austero de um dispensário médico da Irlanda do início do culo XX, por onde desfilam aqueles para quem a vida mais o tem para oferecer que sofrimento, dor e morte; «O Pinto Calçudo», qo bom é ter sempre qualquer coisa que nos defenda das dificuldades, que podem surgir, muitas vezes, quando menos  se esperam,  o problema das dificuldades do quotidiano; «Frei Bartolomeu dos Mártires» (obra que participou no I Encontro do Arquivo Histórico Dominicano, realizado no Mosteiro da Batalha em 1981, a convite desta entidade), da autoria do seu encenador, Joaquim Manuel de Oliveira Quiné, e posteriormente readaptada exatamente em 1983, tal como «A Viagem de Senhor Perichon», de Labiche, codia de costumes bem-humorada e contundente, entre outras. Em 1989 o Grupo de Teatro partiu para uma nova estética e estreou peças como Mário, Eu próprio, O Outro, de Jo Régio ou A Farsa de Mestre Pathelin, com a direção artística de Luís Mourão.
Bartolomeu dos Mártires, mestre na escola dominicana do Mosteiro da Batalha, a sua doutrina deu brado, proclamar a liberdade congénita de todos os homens num mundo em guerra e no cume da escravatura, ou tomar as posições  de vanguarda que assumiu como arcebispo de Braga (ele que se dizia Frei Ninguém) no Concílio de Trento, é uma personagem singular, uma personalidade cativante e motivadora de atenção ao Outro (Oliveira «Quiné», J. M. 1990).
Há pois no período imediatamente posterior a 25 de Abril, e particularmente em 1983 (ano do segundo resgate financeiro de Portugal pelo FMI) e anos seguintes, a influência marcante no GTOL de Erwin Piscator (a Acão teatral deveria instigar a mudança social), do teatro de Bertolt Brecht, e do seu «distanciament de construção e representação (ele acreditava que o teatro poderia criar um clima intelectual propício à mudança social), fazendo sentido o Teatro  Épico e Documental na vida quotidiana e em construções  cénicas como Bartolomeu dos  Mártires,  ou ainda antes  deste  período, dum realismo  de cores  fortes, inconformista, de certo modo os resquícios do ideário social das luzes como também o dos séculos XIX e XX em Portugal, o neorrealismo, a esperança na «construçã dum homem mais digno e feliz (que vem desde o pós guerra de 1945 no culo que passou).
O grande exemplo do naturalismo de Stanislavsk(antes  do seu encontro com Anton Tchekov, que o faz acrescer-lhe, mesmo se com outro fim, a revelação psicológica da personagem, o realismo psicológico), presente na encenação de Na dne (No fundo) de Gorki, «onde aquela vida miudinha que nos outros espetáculos servira apenas de pano de fundo ao drama dos protagonistas, passava para primeiro plano: cada fala nascia no e do contexto de uma pequena ão quotidiana – jogar às cartas, cozer, cozinhar em que se consumava a vida dos miseráveis retratados por Gorki ()», (Molinari, C. 2010), es presente em boa parte dos trabalhos de «Quiné» anteriores a Bartolomeu dos Mártires. Mesmo se na cidade de Leiria chegou a existir gente a trabalhar na esteira de Stanislavsky, mas a um nível mais rebuscado.
Qual o significado propriamente dito que estes espetáculos [os de Piscator] podiam ter, em que o espectador devia sentir-se fatalmente esmagado por eventos maiores do que ele e condicionado por muitas evocações (), por um determinismo férreo, é difícil de dizer. Contudo, tinham obviamente um grande valor no plano cognitivo (), bem como no plano da tomada de conscncia, na medida em que Piscator era genial ao encenar com extrema clareza o gigantesco material envolvido» (Molinari, C. 2010).
Em Portugal o teatro dito naturalista, teve sucesso em duas iniciativas profissionais na capital, no princípio do século XX, a do Teatro Livre e a do Teatro Moderno. «() Estas duas iniciativas, aplaudidas pela imprensa progressiva, atacadas pelos jornais conservadores, cuja «contiguidade ao movimento da propaganda republicana» Óscar  Lopes   acertadamente sublinhou e resultava não só da personalidade  cívica dos seus mentores e aderentes como dos temas levados à cena (que punham em causa as desigualdades  sociais, a moral e a justiça burguesas, o celibato dos padres), representaram um marco importante na evolão do nosso teatro, tanto pela revelação de novos autores, atores e encenadores, como pela afirmação polémica de uma atitude combativa frente ao marasmo da vida teatral portuguesa» (Rebello, L. F. 2000). Mas lograram também uma notável influência.
Afinal, é nos dramas didáticos que «Brecht dá os exemplos mais claros daquilo que entendia por teatro político: um instrumento de conhecimento dialético (). Os dramas didáticos não são  tão úteis  aos  espectadores  quanto aos  autores  que, adotando uma postura ativa e consciente diante dum dado problema, conseguem apreender os seus termos efetivos  e indicar as suas  posveis soluções  que não são  necessariamente  as  do autor (Molinari, C. 2010).
«Quiné», um autodidata, ao ter a capacidade de trabalhar tanto o naturalismo (o de origem lusa no dealbar do culo XX, como o da influência do Stanislavsky da primeira fase), o neorrealismo ou o teatro político (inspiração de Piscator e Brecht), numa íntima relação com o diferente, qual celebração da heterogeneidade, é em sentido filosófico um pós-moderno precoce, e o resultado deste seu labor identifica a sua produção mais tardia no OLCA como eminentemente pós-moderna ou prefigurando já o pós-modernismo.
E as sociabilidades geradas pelo teatro de tal raiz no seio do associativismo, meio onde tinha um pendor catalisador e veiculador, estimulavam um saudável sentido transformador. Mas pode ainda dizer-se que este «realismo de larga implicação socia (Cruz, D. I. 2001) ou a tradição de «drama de atualidad ou «drama socia, caracterizado por uma estética realista-naturalista, de temática social, aperfeiçoada ao longo do século XX, e em especial depois de Abril de 1974, é «um bom exemplo da evolução modernista que este realismo de cariz social sofreu» (Carvalho, C. 2004).
Leiria 2011
Henrique Pinto
In Do Estado Novo ao Pós-modernismo Cultural