quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

QUEM DE BOM SENSO SE AFASTARIA DA GULBENKIAN?


Henrique Pinto e Vitor Faria, Novembro 2013
Ao tempo da vereação de João Eliseu valorizou-se sobremaneira o património toponímico da cidade de Leiria com os nomes de personalidades de vulto do universo da cultura de algum modo ligados a eventos singulares por aqui.
Procurei que Leiria honrasse o maior benemérito das Artes em Portugal concedendo-lhe a perenidade nas memórias das gerações numa mera placa toponímica. Calouste Gulbenkian proporcionou a criação da Fundação Cultural com o seu nome (FCG), à qual se reconhece soberana influência e ascendente na cultura em Portugal, França e Inglaterra. Enquanto eu presidi ao Orfeão de Leiria a FCG investiu em Leiria -financiamento e serviços - vários milhões de euros e diplomacia da cultura incontornável. Quem de bom senso e sentido de futuro se afastaria desta instituição!?
Apareceu a tal avenida com dignidade para ter a chancela de tão ilustre mecenas e eis que, ao invés do esperado, a batizam como Papa Francisco. Nada tenho a opor a tal decisão.
Há mais gente que o desejável a pendurar na lapela, injustamente, as honras de «gente da cultura». Ou por se movimentarem bem no bas fonds dos partidos e com tal benesse são presidentes de quanto mexe com fazer umas jantaradas de preito ou a edição duns folhetos. Como se os bibliotecários qual classe fossem viveiro de ministros ou quem ordena a colagem de anúncios à cerveja nas pedras seculares dum castelo devesse ser administrador da FCG. O seu tirocínio é esse.
Francisco merece todas as honras no mundo católico pelo rearranjo da Igreja, pelo aggiornamento necessário e por tão sabiamente conquistar os corações. É em certa medida um grande homem da cultura universal, inesquecível. Sê-lo-ia sempre mesmo sem o topónimo de Leiria. Este, bem mais falta faria ao patrono dos maiores empenhos culturais ao país e à cidade, personalidade quase olvidada na mente dos mais jovens e aculturados. Julgo eu, fazer cultura passa um pouco pela escolha duma alternativa deste género.
Henrique Pinto

Dezembro 2015
João Eliseu e Manuel Mota, Novembro 2013

TANTA GENTE INTELIGENTE...



Afinal fé e esperança são conceitos mais práticos que o imaginado. Não fossem eles e até poderia supor-se, como Jerónimo costumava alvitrar, isto é tudo «farinha do mesmo saco. Tenho confiança em António Costa – eu, marinheiro a navegar em águas não partidárias -, dentro das contingências europeias, e como o governo de Itália, está a resolver de supetão esta desgraçada mentira dos bancos. Até que ponto iria o rol de argumentos do constructo neoliberal a tal respeito se a maioria política fosse hoje outra? Como é possível haver tanta gente inteligente, vivendo a latere deste extremismo capitalista, a acreditar num breviário que deitou às malvas a social-democracia genuína?
Não se enterra de todo o machado do «fostes vós quem o fez…» tão ao jeito da nossa idiossincrasia política, uma propensão fatal para fugir às suas próprias debilidades, como o foi bater no líder do 18º governo já fora do tempo. Porque esse tropismo tão do género a borboleta e a luz, fará parte do ADN da má política, como diz o pessoal da bola. E é extensível, como metástases, a toda a administração da sociedade, da modesta coletividade desportiva à mais requintada instituição cultural. Do «viver acima das possibilidades» e o «gastaram tudo» ao  «só deixaram dívidas…», é um passinho de tartaruga. Mesmo quando há Obra feita e dívidas só mesmo as do coração.
Quando a tão infeliz tradição se junta o fator humano, a desfaçatez e o mau caráter, os resultados podem ser os mais injustos e cruéis.
Henrique Pinto

Dezembro 2015
Forte de São João do Estoril, residência oficial de Salazar

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DESVARIOS FESTIVOS

Foto Adéle
Fora em adolescente e jovem adulta a mais bela entre todas, aquela que jamais teria dificuldade em escolher um parceiro, tantos os galifões de toda a sorte a cirandarem à sua beira. Chegou a ser eleita misse. E logo casou.
Pessoa de rara inteligência, custa a crer como engordou tanto em poucos anos e ganhou um índice de massa corporal acima dos 30%, uma obesidade doentia. Os riscos de doença cardíaca aumentaram. Subiu-lhe a tensão arterial, eventualmente com raízes também familiares, até níveis perigosos. O descontrolo no que come excessiva e compulsivamente, para mais abusando dos hidratos de carbono de alto valor energético, atravessa um quadro de ansiedade, porventura nascido das tensões conjugais. A sexualidade bem fruída de início tornou-se-lhe coisa rara, o marido busca paragens de carnes menos flácidas e a sua autoestima quase se esvaiu num desvario de tranquilizantes por medicação e noites mal dormidas.
Foto Health and Fitness
É uma história real, circular – todos os fatores clínicos agudizam os restantes. Comer todas as iguarias natalícias que veja pela frente será a tendência natural nesta jovem, tal a dificuldade em controlar-se.
A ideia feita de haver épocas especiais de tolerância ao abuso é absurda. «É Natal, nada lhe faz mal, nesta altura não há dietas» é uma tontice. Imaginem-se as noites de sexta-feira em qualquer cidade alemã. A cerveja corre como a água nos rios em tempo invernoso. A embriaguez e o desacato invadem as ruas até ser dia. O grosso daquela gente não sorve uma gota de álcool durante a semana. Já as gentes do Mediterrânio são mais dadas ao consumo em excesso orgíaco de todos os fritos e doces da avozinha aquando das quadras festivas.
Moda elegante para mulheres menos magras
Ora, quase todos os regimes alimentares saudáveis se comprazem com um ligeiro desvio natalício. Um tal regime pressupõe já alguma disciplina que tolherá os abusos. Não será por comer a rabanada ou a filhó que se cai no excesso.
Mas há pessoas propensas a ler, ouvir e ver tudo quanto é a «melhor» forma de se manter longe da gordura, todo e qualquer chá ou mistura de ingredientes com o dom miraculoso de as fazerem perder peso, toda e qualquer droga que conduza à elegância, a miríade de dicas para se manter em forma. E em verdade existem todas estas opções avulsas por aí sem qualquer regulamentação para o seu controlo. Se até o Herbalife é anunciado na TV!
Uma destas devoradoras de informação tão prolixa entrou-me consultório adentro e sem cerimónias lá vai disto, «olhe, eu não acredito em nada que o senhor me diga, só cá venho por descargo de consciência, já experimentei tudo!». E levanta a saia com estudada sensualidade a pôr a nu a abastança de carnes que a deprime.
Henrique Pinto, Professor Doutor

Médico especialista graduado em Nutrição Clínica
In Diário de Leiria

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DIVÓRCIO E COMIDA

Jeniffer Lopez com ex marido 
Então a boa prática televisiva para se comer saudável é cada estação ter um maître de alta cozinha a ensinar como fazer um prato complicado e indigesto, calórico por demais, mesmo se agradabilíssimo ao olhar? É um mau serviço público. Inverte-se de todo a pirâmide do bem comum.
À moda dos casamentos de Hollywood ou Las Vegas, tão espampanantes e inopinados, em geral esvaídos de sentido de forma ainda mais célere, o Pedro juntara-se à Manuela ungido pela santidade de Fátima. A sua obesidade forçara-o a seguir um regime dietético medicamente prescrito. Nada difícil de pôr em andamento. Eram, contudo, as empregadas da mãe, orientadas pela realeza moribunda da senhora da casa, quem lhe preparava o peixe grelhado, a carne excelente e variada, os legumes e vegetais verdes, a salada, doses pesadas na balancinha digital. Com elas ele não piava, eram as seis refeições diárias saborosas e  a horas, sem nunca ter fome.
A vida a dois alterou-lhe todo o planeamento alimentar. Ele nada praticara de restauração e Manuela era uma menina de comer no quiosque Vitaminas do shopping, de mistura com iogurtes e saladas (com mil ingredientes). Passaram a sentar-se no restaurante praticamente todos os dias e, se ela pouco mudou naqueles três meses ele recuperou o peso anterior, voltou ao médico, fez análises e prova de esforço, contou o seu desvario alimentar e ouviu o esperado e indesejado discurso. A partir daí as rosas matrimoniais ganharam espinhos. A conservadora do registo redigiu o auto, a mãe recebeu-o de braços abertos.
O drama desta família instala-se em milhares de lares de pessoas que seguramente comeriam melhor se mais soubessem como fazê-lo. Alguém dizia que nunca se sabe como criar um filho. Outros poderão pensar do mesmo jeito no que se refere à comida. Ora bem, nas sociedades mais urbanas de hoje há um leque amplo de pessoas qualificadas que nos podem ensinar a fazê-lo.
A Violeta e o Paulo, ainda solteiros, tomavam todas as precauções alimentares e assim continuaram vida fora. Ela tinha uma diabetes não insulinodependente. O regime alimentar que o médico lhes sancionara fazia-os sentirem-se bem e a senhora arriscou mesmo privar-se dos antidiabéticos orais. Mas ambos praticavam de há muito o exercício físico moderado, uma caminhada de 30 a 40 minutos por agora, às vezes uns cem passos de step num dos degraus da casa, davam uso às bicicletas ao domingo e criaram hábitos no bairro. Sabiam do exercício físico ajudar: a proteger a mulher contra a diabetes; a diminuir o alto risco cardiovascular (peso a mais, hipertensão, história familiar, etc.). A alimentação é tão vital quanto a medicação. Num e noutro caso deve procurar-se o melhor apoio.
Henrique Pinto, Professor Doutor

Médico graduado em Nutrição Clínica
Praia do Pedrógão ao entardecer

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

FIADORES E INFIÉIS

Africa Peace Conference em Nairobi, Quénia, 2003
Tenho esperança de a truculência baixar de tom e de cariz. Tenho esperança na continuidade longeva deste equilíbrio negocial. Quem sabe se, conjugadas estas duas versões de fé bem-intencionada, o rincão pátrio possa abrir-se mais ao diálogo, à tolerância e às regras mínimas do viver a democracia.
Estamos habituados ao discurso do ping pong e ao lançar do opróbrio sobre os antecessores, rivais ou juízes quando se alteram os mandatos ou o jogo corre mal. É uma praga generalizada.
Helena Roseta no Parlamento, 1975
Na derradeira reunião que marcou a minha saída, há meses anunciada, dum longuíssimo mandato diretivo, eu disse por amizade e brincadeira ao fazer aprovar uma auditoria financeira, «nada me livra de ao chegar à porta já me estarem a roer na casaca». Se tal veio a acontecer ignoro. Sei que volvidos anos continuo sendo eu um dos fiadores de conta caucionada que se destinava a evitar atrasos no pagamento aos trabalhadores.
Não vejo um espírito semelhante na comunidade! Diga-se também que nem sempre é por língua atrevida de quem chega. Muitas vezes quem aflui estraga. Todavia, a regra está em deixar degradar-se ao máximo aquilo que se vai deixar. Nada comparável ao espírito patriótico dos almirantes franceses perante a sua esquadra – afundaram-na no porto de Marselha -, quando em vias de ser integrada pelas tropas de Hitler. O hábito é prevalecer a mesquinhez de apoucar os sucessores, quais infiéis.
Henrique Pinto

4 de Dezembro de 2015
Debate sobre Envelhecimento Ativo com António Salles

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

DIA MUNDIAL DA SIDA, SÓ OS BURROS NÃO MUDAM…

Marion Bunch com Henrique Pinto em Birmingham, Inglaterra, em 2009
Desde 2002 estive intimamente ligado à prevenção de doenças virais à sua maior escala. Todavia, especializei-me em Saúde Pública há mais de 35 anos. O aparecimento da SIDA deu-se poucos anos depois. Os jornais noticiavam de forma esparsa cada nova vedeta atingida pela doença. Invariavelmente a notícia referia a comunidade gay de São Francisco nos EUA.
A Newsletter da RFHA alusiva ao Dia Mundial da Sida
Como praticamente todas as generalizações apressadas a atribuição da causa aos homossexuais, imediata, gerou profundos equívocos e perplexidades. A resposta da comunidade homossexual não se fez esperar. Preveniu-se pela disseminação da palavra e pelo uso amplo do preservativo. E a taxa de incidência, paulatinamente, cobriu todo o leque de pessoas com relações sexuais e as crianças vítimas dessas relações indefesas.
Vi céticos ativos entre nomes hoje gurus da Saúde na comunidade científica. Vi-os também duas décadas mais tarde dentro do próprio movimento rotário. Assisti com desgosto à prática infeliz dos políticos a proibirem a importação de retrovirais (África do Sul), criando a maior incidência do flagelo. Vi os milhares de disparates que a respeito circulam na Internet. Claro, é banal dizer-se «só os burros não mudam». Mas todo o cuidado é pouco.
Marion Bunch e o marido com Henrique Pinto e Graça Sousa em 2007
Já contei várias vezes, conheci Marion Bunch, então líder mundial contra a SIDA, numa Conferência Magna de Rotary em Nairobi, no Quénia. A morte dum filho adolescente após uma transfusão de sangue (isto passou-se nos Estados Unidos, embora também tenha acontecido por cá sem que ninguém tenha sido ungido pela justiça), em vez de a relegar para um infindo chorar levou-a a pensar no Outro. E a Obra fez-se. A RFHA, Rotários combatendo a SIDA junta hoje dezenas de milhares de pessoas à volta do mundo, e sobretudo em África, logrando apoios, distribuindo os retrovirais, multiplicando a palavra, construindo enfermarias…
Henrique Pinto em Atlanta com colegas do Sudão, Nigéria e Serra Leõa, empenhados no combate às doenças virais em África, em 2004
Quando em 2007 a trouxe a Portugal, no que ficou conhecido como A Convenção de Viseu, deixou centenas de apaniguados da causa, verdadeiramente apaixonados.
Hoje é Dia Mundial da Sida. Podemos lembrar Marion Bunch no seu exemplo e passar uma palavra a ampliar a força da efeméride. Estejamos atentos ao Outro necessitado de ajuda e conselho. Não descuremos o apoio à ciência e à investigação.
Henrique Pinto

1 de Dezembro 2015
A escritora de Coimbra Anabela Pais, minha amiga, escreveu Não Há Inverno Sem Lágrimas, um romance de amor envolvendo um médico, professor universitário, surpreendido pela SIDA

BOM AUGÚRIO

Adalberto Campos Fernandes
Em Portugal os debates televisivos sobre futebol e política têm a mesma estrutura. Os defensores de cada uma das principais capelinhas, servindo-se da linguagem nós versus vocês repetem a cantilena dos argumentários oficiais. Não há qualquer inovação discursiva numa ou noutra cadeia emissora. Nas entrevistas os argumentário à la carte funcionam da mesma forma. Aos arguentes apenas interessa perguntar sobre fait divers eventualmente fraturantes, incómodos, num sadismo intolerável e de interesse formativo menor.
Passámos anos a bramar contra a legislação eleitoral por via do impedimento a construírem-se novas maiorias pelo método de Hondt num terreno de voto consolidado. Eis que a população votante proporciona a possibilidade legal e legítima para o tido por inalcançável. Desde a Queda do Muro de Berlim fez agora 25 anos o grosso da política, da esquerda à direita, inclinou-se francamente para a direita. A social-democracia clássica (PSD e PS em Portugal) perdeu brilho. A esquerda comunista caminha para a social-democratização.
António Costa ao centro
É natural que o balão discursivo situacionista de até há dias perca substância no próximo devir. E, se não no futebol mas na vida do dia-a-dia, possamos ouvir outras opiniões.
Durante anos assisti ao denegrir da minha primeira especialidade médica, a saúde pública. Aqueles detentores da saúde como meio de enriquecimento ao instante e bem assim todos os aspirantes a tal graduação, bem como os minados pela inveja do conhecimento, sempre a minaram. Quando vi o seu ascendente por todo o mundo em paralelo com o bombardeio mortífero a que era sujeita no meu país desenhei montes de cenários explicativos, mas sem sucesso. Eis que o governo em funções tem um especialista desta matéria, e dos bons, na pasta da saúde.
Nos anos 90 li, em muitas obras sobre economia com as expetativas como motor, citações de Santo Agostinho no lado humanista. Foi chão que deu uvas… A política virou campo exclusivo da economia e as pessoas feitas coisas, sem expetativas, deixaram de importar. Nalguns políticos esse discurso é obsessivo, dum só sentido. Por isso o pensamento e as estéticas, agitadores da vida, deixaram também a harmonia oficial. Termos por ora um ministro da saúde pública e um ministro para a cultura é uma representação social da exaltação da vida no país. Serve-me como indicador de bom augúrio.
Não ponho as mãos no fogo por rigorosamente ninguém. Mas não deixo de mostrar o meu respeito pelos artífices desta possibilidade de maioria. Estou confiante na sua capacidade para manterem a harmonia essencial à sua exequibilidade no bem-fazer.
Bom seria também a social-democracia sobrenadante do caldo espúrio do ultraliberalismo económico, sufocada, aproveitar o momento e poder libertar-se desse jugo.
Henrique Pinto
1 de Dezembro 2015 
Mário Soares, João Soares e Fernando Medina


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

FELIZ EPÍLOGO

O filme A Ponte dos Espiões, uma excelente obra de Spielberg com Tom Hanks (descendente duma família micaelense), evoca uma troca de espiões urdida em Berlim em 1962, das épocas mais duras da guerra fria. Vivia-se aqui o período do regime totalitário de Salazar marcado pelo início da guerra colonial em África, pela debandada dos continentais a salto, rumo à Europa, e a terceira vaga emigrante dos açorianos para a América do Norte.
O filme, pedagógico e cru, cuja história se inicia em 1957 com a prisão dum espião soviético em solo estadunidense, só em frases curtas nos lembra atravessar-se por lá à altura um inferno não menos doloroso, o da caça às bruxas de MCcarthy.
Aqui, o homem político mais autoritário depois de Salazar acaba o esperado último mandato numa atmosfera íntima de quase ódio e de pública intolerância dado o seu manifesto encosto conservador. Com ele vão-se também os grandes dogmas do neoliberalismo, presos numa linguagem de carroceiro, o esbulho de todos para proveito de alguns. O país empobrecido e com um Estado mínimo ficaria totalmente aberto à livre invasão do capital selvagem se tal praxis durasse uns meses mais.
António Costa com a sua têmpera, perseverança política e astúcia negocial, logrou uma solução de governo moderada, resgatando a esperança para milhões de cidadãos. É talvez o melhor epílogo para o entrosamento dum filme com a história do mundo e as histórias do tempo no seu argumento. No tempo, nada é desgarrado. Podem existir finais felizes.
Henrique Pinto

Leiria, Novembro 2015 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O COMER BEM DISTINGUIDO COM O NÓBEL DA ECONOMIA

Rui Vitória
A revolução do conhecimento médico dos últimos trinta anos e do seu entrosamento social e económico é absolutamente extraordinária. O impacto na fatura alimentar é relevantíssimo. O fato de o Prémio Nobel da Economia deste ano ter sido atribuído a um investigador preocupado com o Consumo, Pobreza e Bem estar (título do último livro de Angus Deaton) é a tal respeito bem significativo.
Temos a um tempo a generalização do fenómeno da inflamação a situações até há pouco impensáveis, como a obesidade – e a sua relação com a doença cardíaca, a diabetes e a hipertensão, por exemplo -, ou aos mecanismos da depressão. Daí a recomendação médica para a alimentação incidir, num e noutro caso, no reforço da dieta em matéria anti-inflamatória como os ácidos gordos ómega 3 e a generalidade dos antioxidantes, designadamente as vitaminas da dieta alimentar.
Angus Deaton
Alguém disse das transmissões nervosas, com toda a propriedade, assistir-se paulatinamente à materialização do espírito. Veja-se a doença de Alzheimer e a de Parkinson associadas à falta ou ao defeito estrutural de proteínas diferentes.
Um fenómeno tão diverso como o sucedido, entre outros, com o futebolista húngaro do Benfica Miklós Fehér, falecido num ápice em pleno campo, conhecido pelo nome imediatíssimo de síndroma da morte súbita – vi-o em crianças na urgência, um sofrimento horrível para as famílias e profissionais -, tem afinal uma origem muito semelhante.
Ao olharmos Rui Vitória, o atual treinador do futebol deste mesmo clube, custará a entender como alguém tão ligado à atividade desportiva e uma figura pública, passível de ser tomada por exemplo, não cuida minimamente da forma física. A sua obesidade excessiva associada a ventre tenso e dilatado, indiciam sofrimento do tubo digestivo perfeitamente regulável através da ingestão dum mero chá de linhaça, de frutos secos e água, inseridos numa dieta saudável menos calórica.
Ao evocarmos as doenças reumáticas logo nos ocorre tratar-se de doença dos velhos com dores nas articulações. Todavia, a grande maioria deste conjunto de cerca de cem doenças ocorre em crianças, jovens e adultos, sobretudo as mulheres. Gastam-se toneladas de medicamentos para a inflamação e litros de cálcio, e, quantas vezes, minimiza-se a importância da alimentação saudável. Os ácidos gordos ómega 3 e 9, protetores do sistema vascular mas também anti-inflamatórios, presentes na sardinha, atum, salmão, bacalhau, azeite, linhaça, frutos secos, leite, carne e ovos, são uma necessidade absoluta.
Estamos num período histórico de mercado sem fronteiras e dum certo laxismo das autoridades no respeitante à tolerância em relação a consumos alimentares deturpados e a alimentos e medicamentos não recomendáveis. A boa como a má qualidade do consumo alimentar, avaliada desde os patamares da mico à macroeconomia, marcam o perfil do país.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica
In Diário de Leiria 24/11/15
Henrique Pinto e Andreia Pinto




quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SOB O SIGNO VIRGEM

António Costa no Mercado de Santana, Leiria
Vivemos sob a égide do signo Virgem. A frase «é a primeira vez» anda por aí. Pois é mesmo a única singularidade neste processo eleitoral. De resto todo o clima é contido dentro das baias constitucionais e da legitimidade. E para problemas novos há soluções novas. A vozearia de prós e contras, igualmente legítima, mostra mais de iliteracia política, e daí a intolerância democrática, que de razão. Restam as considerações de caráter, mais perigosas, ou a divagação sobre as motivações. Dirão uns, «pura ambição política» de António Costa. A existir, será ilegítima desde que enquadrada no instituto democrático? Conheço o mesmo vai para muitos anos e sempre o tive por um homem bom, competente e plural impulsionado pelo Servir e pelo querer fazer. Todavia, como catalogar a política de Passos Coelho, toda ela plasmada no livrinho escrito por ele antes de se lançar para o governo? Podia ter seguido uma via social-democrata tradicional mas quis a solução neoliberal, o maior dos males da sociedade contemporânea como prega Francisco. Conheço Passos há muitos anos. Fiz com ele um debate a convite do PSD. Também não o tenho por interesseiro material. No entanto, a sua motivação era francamente o desígnio do poder liberal.
Henrique Pinto

Novembro 2015

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

NEM TUDO O QUE BRILHA É OURO!

Numa fase intensa da vida, era novo e fazia muita clínica, um dos meus utentes, o senhor Labaredas, aparecia-me com os dedos grandes do pé ou os tornozelos verdadeiramente em brasa. As dores fortíssimas davam-lhe jus ao apelido. Logo entrava dizendo – assemelhava-se a Álvaro Malta quando fazia «propaganda» médica, cantarolava uma ária mal aflorava à porta do médico -, «foram mais umas perdizesinhas, senhor doutor». Bem podia eu reiterar-lhe ser melhor evitar a carne de caça, vísceras, peixes gordos ou azuis e marisco. Pouco lhe importava manter ou não um regime com leite e derivados, ovos, cereais, massas alimentares, verduras e hortaliça. Não controlado o desejo o mais ambicionado era sempre o óbvio, aliviar as dores.
Henrique Pinto com Marion Bunch, de Atlanta, uma das líderes mundiais contra a SIDA, ora condecorada na Casa Branca
Na altura o processo alimentar não era ainda condicionado pelos média ou empórios industriais, ao contrário de hoje. Rareavam os profissionais mal informados a desaconselharem isto ou aquilo com base em supostos artigos científicos.
Todavia, quantas são as pessoas desesperadas com o glúten ou a lactose, por exemplo? São muitas. Aos portadores de doença celíaca (intolerância ao glúten) é-lhes recomendado evitar alimentos com glúten, desde farinhas de trigo, centeio, aveia e cevada, cereais do pequeno-almoço (exceto arroz e milho), pão, biscoitos, bolaria, massas alimentares e bolachas. Entretanto deve saber-se, é necessário recorrer ao clínico ao verificarem-se, na criança ou no adulto, diarreias frequentes com fezes moles e volumosas, alterações da barriga (distendida e saliente), irritabilidade, perda progressiva do peso, anemia, baixa do rendimento escolar, paragem do crescimento, ausência ou perturbações da menstruação e, no adulto, baixa de fertilidade ou mesmo esterilidade. O drama pode atingir a paranoia ao atentar-se na provável presença de glúten numa imensidão de alimentos, desde maioneses, salada de tomate, enchidos e presunto, peixe congelado, espargos de lata, certos cafés instantâneos, algumas verduras congeladas, a marcas de açúcar ou medicamentos. Mas a frequência do fenómeno é baixa.
O exercício físico deve acompanhar um regime alimentar saudável
Situação idêntica é a da suposta intolerância à lactose, doença provocada pela falta da enzima lactase, transformadora do leite. Se na doença celíaca o glúten deve ser abolido da dieta, aqui nada de mal ocorre se a quantidade de leite ingerida for pequena. Também os queijos, curados ou frescos, e o iogurte são bem tolerados.
Então porquê o cisma contra carnes vermelhas, sardinhas assadas (não há restrição científica alguma contra o consumo razoável destes produtos), leite, alimentos com glúten (a moda nos EUA), fruta e água, e por aí adiante, tanto por receio do cancro, como pelo pavor de engordar? Para lá da iliteracia alimentar subsistem interesses piores que o Cabo das Tormentas.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica
In Diário de Leiria




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

É SÓ FUMAÇA

Véronique Terrasse, porta-voz da Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC) - um órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS) a que não compete fazer doutrina de saúde -, lançou alarme desmesurado. Se os jornalistas a cobrirem a conferência de imprensa saíram altamente confundidos, o público em geral por todo o mundo ficou ainda mais confuso.
Dias depois a própria OMS procurou pôr água na fervura, a tranquilizar consumidores de carne vermelha e de carne processada e a própria indústria. Entre nós as corporações de carnes e da hotelaria, através de peritos qualificados (alguns bastante diferenciados), lograram transmitir bom senso e moderação através dos média. Quanto à Saúde pouco mais se ouviu além do Dr. Mário Durval, impreparado e desconhecedor, e de uma ou outra voz no Prós e Contras (RTP canal Um).
Véronique Terrasse
Estudos efetuados desde 2002 sugeriam que os pequenos aumentos no risco de vários tipos de cancro (mesmo se riscos pequenos para a saúde pública), podiam estar associados a um consumo muito elevado de carne vermelha ou processada. Foi pedido à Agência (que não faz investigação) para produzir prova (associação de causas, nunca de apreciação do risco) quanto à carcinogénese destas carnes. O Grupo de Monografias do IARC fez uma meta análise de 800 estudos epidemiológicos. Estes nem eram absolutos. E classificou o consumo de carne vermelha como provavelmente cancerígena para o ser humano, baseada na prova limitada (há associação positiva entre exposição ao agente e cancro mas não se pode afirmar não haver enviesamento nas conclusões), sobre o uso alimentar desta carne provocar cancro (principalmente o do colon e reto). A carne processada foi classificada por igual com base na prova suficiente para fazer tal associação cancerígena (apenas em 10 estudos). Aliás, todos os produtos sujeitos a altas temperaturas (até as sardinhas assadas) produzem químicos cancerígenos.
Francisco George, um dos melhores diretores gerais da saúde de sempre em Portugal
Sabe-se ser a carne, a alternar com o peixe (incluindo as sardinhas assadas), de elevado benefício para a saúde, ingerida com moderação nas doses medicamente prescritas. Fatores cancerígenos existem à volta de 400 na nossa dieta. Classificar (estabelecer a força da prova), como se fez, e apenas para a carne processada, não é estabelecer grau de risco. Mesmo assim não se pode equipar ao perigo do tabaco, amianto ou do álcool. De acordo com as estimativas mais recentes, cerca de 34.000 mortes/ano por cancro em todo o mundo são atribuídas a dietas muito ricas em carnes processadas. Aliás, estas nem constam num regime alimentar saudável dado serem fator de risco para as doenças cardiovasculares. Um dia não diz dias! Estes números contrastam com as mortes por cancro no mundo/ano devidas ao tabaco (um milhão), ao álcool (600.000) e à contaminação do ar (mais de 200000).
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica
Bolseiro OMS e Consultor internacional
In Jornal de Leiria
Novembro 2015


  

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O DIA DA IMPLOSÃO CHEGARÁ!

A família Mccartney
A Fátima Campos Ferreira promove há anos um programa de diálogo no canal um da televisão. É um trabalho perseverante, muito esforçado, nem sempre conseguido, tão vasta é a diversidade de aproximações a um tema. Para as pessoas atentas este amplo espetro de opiniões, longe de confundir, pode também abrir-lhes os espíritos.
O tema candente das carnes vermelhas, demonizado pelo enviesamento da informação desde a origem até ao produto final, e sobretudo as confusões relacionadas com quantidades e risco, abriu a porta a correntes várias sobre o tipo de alimentação.
Por detrás da oratória esteve sempre presente o grau de risco quando ele, para os produtos em causa, não está definido ou é comparativamente muito pequeno. 
A exploração intensiva da pecuária é passível de sustentar o aquecimento global do planeta
Lembro-me de algumas batalhas duras onde fui interveniente em nome da Saúde. Quando a água de abastecimento da cidade era de recolha superficial no rio onde, a montante, era vazada quantidade imensa de matéria orgânica. Esta, misturada com o cloro para o tratamento produzia químicos organo-clorados de comprovada cancerinogénese para o sistema urinário humano. Não fora ter a imprensa do meu lado e teria sido banido.
Empresas de fabrico de pasta de papel fabricavam resíduos passíveis de alta contaminação microbiológica depois vertidos da lagoa de retenção para o mar e inundavam as praias. O coletor submarino foi a solução encontrada depois de muito suor e ódio.
Alimentação saudável
Em 50 restaurantes mais frequentados, quer nas zonas de acesso à cidade como nos mais centrais, 49 tinham contaminação microbiológica continuada. Caiu também sobre mim o Carmo e a Trindade. E no entanto estava determinado com rigor o risco relativo. Obviamente, o caciquismo no aparelho da Saúde era tremendo, hoje os média têm também outra liberdade.
As quantidades de carne, vermelha ou branca, a ingerir saudavelmente estão perfeitamente definidas em função da idade e peso. É a isso que se chama comer com moderação. Os exageros, acima ou abaixo desses patamares, como em tudo na vida, são motivo de doença. A observância dos limiares estabelecidos entra nos pressupostos de estilos de vida saudáveis.
Agora, há cambiantes a ter em conta, desde os regimes estritamente carnívoros aos absolutamente verdes. Os primeiros são um erro absoluto, falta-lhes boa parte das vitaminas e minerais essenciais presentes nos produtos da terra. Aos segundos exige-se uma ampla diversidade de vegetais e leguminosas para suprir a necessidade do todo em aminoácidos, sobretudo da parte das proteínas de qualidade, as de alto valor biológico, existentes numa pequena dose de carne. E requerem ainda suplementos vitamínicos e minerais.
Os produtos sujeitos a altas temperaturas produzem aminas tricíclicas e hidrocarbonetos policíclicos, químicos classificados como potencialmente cancerígenos
A DGS, Direção Geral da Saúde elaborou manuais para ambos os regimes ao alcance dos profissionais. E a ciência impregna agora parte considerável da discussão editada.
De radicalismos (reais ou inventados pelos tacticismos) não precisamos. Mas quando Paul Mccartney foi ao Parlamento Europeu clamar contra os efeitos deletérios para o aquecimento global do planeta resultantes da vasta exploração pecuária, não era capricho de vedeta. Se a comunidade científica e um contingente imenso de fazedores de opinião clamam contra os malefícios da mesma natureza, e também da qualidade do ar, atribuídos aos combustíveis fósseis, estão dentro da razão. Todavia, ambos os problemas implicam revoluções empresariais, sociais e políticas específicas de grande vulto que a mundialização do comércio e indústria vêm tolhendo. Seguramente, chegará a altura da implosão de tais pressupostos.
Henrique Pinto
Novembro 2015


PS. Artigo 890 do Blogue Medicult
Os combustíveis fósseis, o aquecimento do planeta e a deterioração da qualidade do ar

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

COM A VERDADE ME ENGANAS

Um instituto científico tão prestigiado como a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC), órgão da OMS, Organização Mundial de Saúde, mas a que não compete fazer doutrina de saúde, desferiu um profundo golpe na credibilidade do seu trabalho. Não creio que este imbróglio das carnes vermelhas e das carnes vermelhas transformadas possa ser atribuído em exclusivo à inépcia e impreparação da porta-voz do IARC, a press officer Véronique Terrasse.
Tratava-se tão só de classificar estas carnes em cancerígenas ou não. Feita uma meta análise a 800 estudos epidemiológicos apenas 10 eram taxativos para as carnes processadas e nada permitiu concluir para as não processadas.
Além do mais, classificar (a especialidade do organismo) não é atribuir-lhe um grau de risco. Que, mesmo assim, em termos de saúde pública e quanto ao cancro do cólon e do reto é um risco pequeno, a anos-luz do atribuído ao tabaco, ao álcool e ao ar poluído.
Para o comum da população mundial e para os profissionais este anátema precipitado, particularmente sobre a carne processada (cachorros quentes, presunto, fiambre, salsichas, carnes em conserva, carne seca e os preparados e saladas com base na carne) foi por demais confuso e desmobilizador. Como se voltássemos à canjinha de pombo do tempo dos nossos avós.
A carne (com moderação, como tudo na vida) alternando com o peixe fornece a totalidade das proteínas de alto valor biológico essenciais à vida. Não há qualquer diferença nutritiva entre carnes vermelhas e carnes brancas.
A mediatização de chofre, e sem referências a risco, sem o papel mediador da comunidade científica e dos órgãos sanitários em cada país, acaba por revelar uma incompreensível e vulnerável aptidão comunicacional em termos de educação para a saúde, ao invés da organização mãe, a OMS.
Henrique Pinto
Novembro 2015




terça-feira, 27 de outubro de 2015

E SE A CABEÇA FOSSE DE FÉRIAS?

O estado da infeção hospitalar em Portugal é penoso, de amplitude soberba e muitíssimo grave. Abstenho-me de dissecar e de comentar a meia dúzia de casos ora vinda a público – no Hospital de Gaia - inscritos entre os vários milhares de desfechos fatais em cada ano em Portugal ocorridos sem notícia... É um fenómeno estrutural, sim! Mas a sua prevalência assenta em anomalias comportamentais e cognitivas dos profissionais e administrações a todos os níveis.
O silêncio face a tal quadro não difere em natureza da estridência que rodeia o fenómeno nutricional. As razões do desvario educacional em nutrição, infelizmente matéria transacionável disputada hoje da universidade às cabeleireiras, estão, em geral, exaustivamente explicitadas por mim numa dezena de artigos online. Não maçarei com isso os meus leitores.
É infindável o universo humano a não comer ou beber qualquer coisa três a quatro horas depois de jantar, no baixar à cama. É como se a hipoglicémia fosse pecado venial, o corpo não tivesse metabolismo de base ou o cérebro e outros órgãos vitais abalassem para férias.
Pois a química e as funções cerebrais são influenciadas pelas mudanças de curto ou longo prazo na qualidade do regime alimentar.
A glicose é o principal substrato energético do cérebro, o «carvão animal» como lhe chamava o professor Gomes da Costa. A ingestão de proteínas e aminoácidos podem influenciar a passagem do sangue para o cérebro de alguns destes, dependendo da qualidade dos já funcionantes como aminoácidos transportadores, localizados na barreira sangue cérebro. Esta não é propriamente um portão. Trata-se do labor duma ampla diversidade de transportadores, que pululam nos capilares do cérebro, e impedem ou promovem a entrada nele de moléculas ali indesejáveis. Aqueles aminoácidos vão servir para a variedade e complexidade da gordura incorporada nos neurónios, nomeadamente para a transmissão elétrica neuronial dos estímulos e respostas sensoriais e motoras.
Daí a importância crucial para cérebro e visão representada pela nutrição logo no período fetal, bem como no desenvolvimento posterior do indivíduo. É ainda essencial o adequado suprimento em vitaminas e minerais, particularmente do zinco (a deficiência deste provoca dano neurofisiológico). Tal nutriente influencia o apetite, o gosto, o cheiro, a visão e o ânimo e pode ajudar a tratar a anorexia. Nos idosos e em doentes psiquiátricos, as dietas pobres e com défice de vitaminas do complexo B e vitamina E, podem conduzir à perda de memória, depressão, demência e outras perturbações cerebrais.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria, Outubro 27/15