terça-feira, 27 de outubro de 2015

E SE A CABEÇA FOSSE DE FÉRIAS?

O estado da infeção hospitalar em Portugal é penoso, de amplitude soberba e muitíssimo grave. Abstenho-me de dissecar e de comentar a meia dúzia de casos ora vinda a público – no Hospital de Gaia - inscritos entre os vários milhares de desfechos fatais em cada ano em Portugal ocorridos sem notícia... É um fenómeno estrutural, sim! Mas a sua prevalência assenta em anomalias comportamentais e cognitivas dos profissionais e administrações a todos os níveis.
O silêncio face a tal quadro não difere em natureza da estridência que rodeia o fenómeno nutricional. As razões do desvario educacional em nutrição, infelizmente matéria transacionável disputada hoje da universidade às cabeleireiras, estão, em geral, exaustivamente explicitadas por mim numa dezena de artigos online. Não maçarei com isso os meus leitores.
É infindável o universo humano a não comer ou beber qualquer coisa três a quatro horas depois de jantar, no baixar à cama. É como se a hipoglicémia fosse pecado venial, o corpo não tivesse metabolismo de base ou o cérebro e outros órgãos vitais abalassem para férias.
Pois a química e as funções cerebrais são influenciadas pelas mudanças de curto ou longo prazo na qualidade do regime alimentar.
A glicose é o principal substrato energético do cérebro, o «carvão animal» como lhe chamava o professor Gomes da Costa. A ingestão de proteínas e aminoácidos podem influenciar a passagem do sangue para o cérebro de alguns destes, dependendo da qualidade dos já funcionantes como aminoácidos transportadores, localizados na barreira sangue cérebro. Esta não é propriamente um portão. Trata-se do labor duma ampla diversidade de transportadores, que pululam nos capilares do cérebro, e impedem ou promovem a entrada nele de moléculas ali indesejáveis. Aqueles aminoácidos vão servir para a variedade e complexidade da gordura incorporada nos neurónios, nomeadamente para a transmissão elétrica neuronial dos estímulos e respostas sensoriais e motoras.
Daí a importância crucial para cérebro e visão representada pela nutrição logo no período fetal, bem como no desenvolvimento posterior do indivíduo. É ainda essencial o adequado suprimento em vitaminas e minerais, particularmente do zinco (a deficiência deste provoca dano neurofisiológico). Tal nutriente influencia o apetite, o gosto, o cheiro, a visão e o ânimo e pode ajudar a tratar a anorexia. Nos idosos e em doentes psiquiátricos, as dietas pobres e com défice de vitaminas do complexo B e vitamina E, podem conduzir à perda de memória, depressão, demência e outras perturbações cerebrais.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria, Outubro 27/15

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