quarta-feira, 26 de agosto de 2015

AS PESCAS EM CORTEJO FÚNEBRE

Portugal tem a maior zona económica exclusiva (ZEE) na Europa. Todos a cobiçam.
De pouco vale ao país andarem por aí uns náufragos de ideias a carpirem a não aproximação ao mar – um dos nossos ícones históricos – se pouco ou nada fizeram, se pouco ou nada fazem, a defendê-la. A Espanha teve capacidade negocial para, ao tempo da PAC e duma das carpideiras lusas, preservar a sua agricultura, as suas pescas. Aqui compraram-nos tal opção. Resta saber que foi feito do custo da transação.
Agora acontece o desastre no país das sardinhas. Reduziram-nos, sob a bandeira da preservação da espécie (tese mal demonstrada) as quotas de apanha de tais peixinhos saborosos, este ano para níveis miseráveis, no próximo ano, diz-se, para um escalão mortal para as nossas pescas.
Compreende-se que os restantes países queiram tomar conta da ZEE portuguesa. Não se compreende que Portas e janelas assobiem para o ar, ou se divirtam no blá, blá, blá do supostamente feito, e que as negociações em Bruxelas tenham esta natureza irrevogável, de cortejo fúnebre.
Henrique Pinto

Leiria, Agosto 2015 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

DELÍCIAS DE CASCAIS E O OCEANO


A Casa da Guia é um dos recantos maravilhosos de Cascais. Aquela faixa estreita entre o Farol da Guia e o oceano tem todo o tipo de lojas de utilidade imediata. E além disso possui não sei quantos restaurantes e das mais belas esplanadas do mundo. Que encanto.
Quando era miúdo a malta ia até ali de bicicleta a visitar o farol.
Num dia em que a sirene dos bombeiros tocou cinco vezes, aviso de desastre no mar, e as viaturas passaram em Santa Marta com a leveza permitida pela substituição ilimitada das peças, qual mecânica dos cubanos, o pessoal cavalgou as bicicletas, quais cowboys, deixando as sandálias sobre as rochas, e lá se foi um tanto mais longe, até ao Cabo Raso. Aí encalhara o grande navio Hildebrando carregado de automóveis.
Também aí há agora um bar muito interessante.

Tais acidentes são hoje impossíveis. O oceano virou efetivamente um objeto de prazer mesmo se molhar um pé. A sua contemplação, no silêncio ou envolta numa boa conversa, costa além, é uma das novas delícias de Cascais. A vila está agora a concluir uma outra iguaria para os sentidos, inteligente, um roteiro singular, o Bairro Museológico.
Henrique Pinto
Leiria, Agosto 2015

TALVEZ SÓ A DECO POSSA IMPEDIR TAIS DESMANDOS

No liberalismo económico moderno são as empresas, e já nem tanto os empresários, a «conduzirem» a sociedade. Aos cidadãos reserva-se-lhes um papel secundário. Mesmo se as empresas se destinam a angariar fundos para formação de recursos humanos de aeroportos inexistentes!
A saga das privatizações, como ora voltou a ser imposto à Grécia pelos alemães para logo lhe ficarem com catorze aeroportos, é este o rosto do fero capitalismo liberal, leva à venda ao desbarato do erário público. O fato de a EU declinar apreciar o negócio TAP em função do baixo custo da transação pode assemelhar-se a cena humilhante, pelo ridículo. Mas cá para mim tenho-o por algo bem calculado pelo vendedor.
Grandes empresas como a EDP e a PT, passadas por inteiro para o setor privado «visando» prestarem um melhor serviço ao cidadão, são o que se vê, um quase monopólio e um vendedor de feira.
Imagine-se como consumidor a passar da empresa universal para a de venda de energia elétrica. Não apenas se arrisca a pagar um valor pela transferência, que é ilegal, como o podem por a pagar mil kw por mês (nem muitas fábricas o logram) para levarem quase um ano a verificarem-lhe o contador, por muito que implore.
A PT não tem qualquer controlo a não ser indireto, através das queixas à DECO. O seu produto MEO tinha no ano transato dois preçários substancialmente diferentes, sendo a mesma a matéria vendida. Muitos utilizadores em final de contrato tentaram passar para o tarifário mais barato. Qual quê!? Alguns conseguiram mudar de fornecedor, contrariando assim o ímpeto de fidelizar clientes dos gestores da empresa. Mas, custará mesmo a crer sendo verdade, houve gente a quem a empresa voltou a ligar à MEO, ilegitimamente, quando as pessoas já tinham um outro fornecedor de serviços de televisão, obrigando-se estas a duplo tarifário, durante meses, contra todos os devidos protestos. Rasa o inacreditável.
São os benefícios para o cidadão advindos das empresas quase doadas a novos proprietários.
Alguém dizia das leis num país, devem ser poucas e boas. Nós temos leis para tudo na mesma proporção do incumprimento. Pois está para aí a chegar uma que obriga à apresentação do cartão de cidadão para aviar uma receita médica. É o disparate legislador levado ao paradoxo. Venham-me cá com explicações supostamente lógicas que eu lhes direi!
À falta de protestos formais ou públicos talvez só a DECO possa impedir tais desmandos.
Henrique Pinto

Leiria, Agosto 2015