quinta-feira, 9 de abril de 2015

UM CORPO PARA CADA CORPO

1 Cérebro de Farinha

À moda têm sido apontados padrões alimentares a rasar o entendido por criminoso. Está a esticar a corda para a obesidade. Quer vender. Conhece bem o universo, um crescendo de pessoas com excesso de peso, um problema civilizacional.
Ao comparar-se um supermercado da zona centro com um de nível médio no Algarve fica-se aturdido. Ao sul a oferta é exuberante em géneros de teor elevado em açúcares e gorduras. É o que alemães e holandeses, de comida paupérrima e à base de fast food, mais procuram.
Está aí o livro Cérebro de Farinha de David Perlmutter e Kristin Loberg. Há créditos a aureola-lo. Condena o radicalismo das dietas da moda. E releva a noção de todo o regime alimentar dever ser uma ode ao equilíbrio dos nutrientes. A máxima de Lavoisier (a diferença entre medicamento e veneno é apenas uma questão de dose), faz melhor absorver tal equilíbrio. De acordo com a doença, idade, sexo e vontade do indivíduo sujeito a dieta, este pode comer de tudo na dose certa. Os autores asseveram mesmo que «o destino do seu cérebro é ditado pelo que come todos os dias», a condenarem o consumo descontrolado de Hidratos de carbono (HC).

2 Doença cardíaca coronária, antioxidantes, etc.

A publicidade veicula todo o tipo de drogas antioxidantes. Nas doenças do coração e vasos (dcc) chega a ter o patrocínio médico. Comam-se os produtos adequados e eles lá estão presentes. Veja-se a eficiência dalguns, as vitaminas, quanto a tal finalidade.
A vit. A está na cenoura, batata doce e no bife de fígado. Os beta carotenos, antioxidantes, reduzem a oxidação do colesterol mau. A vit. B1 (cutícula do arroz, levedura de cerveja, grãos, gema de ovo, fígado, rim, carne de porco, peixe, 
amendoim, noz, legumes e vegetais verdes e folhosos), é essencial ao metabolismo dos HC. As Vit. B6, B12 (peixes, carnes, ovos, queijo e leite) e Folatos (brócolos, espinafre, ervilhas, feijão, lentilha ou laranja), favorecem o metabolismo de proteínas afins a dcc, doença vascular periférica e AVC. A Vit. C (frutos vermelhos, kiwi, pimento vermelho e verde, tomates, espinafre e sumos de toranja, laranja e limão) relaciona-se com risco de AVC e dcc. A Vit. D (exposição solar e salmão, ostras, ovos, leite, etc.) orna o metabolismo cálcico. Pode ter efeitos na pressão do sangue. A Vit. E (alimentos de origem vegetal como óleos e sementes; gema do ovo, fígado e gordura a envolver a carne), é um poderoso antioxidante.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Consulta de Nutrição Clínica
Página facebook: Nutrição Clínica ao Alcance de Todos




DRAMA A PRETO E BRANCO

Um simples acaso, uma referência de Alice Vieira no FB, atraiu-me para um documentário escorreito e interessantíssimo na RTP 2 feito por António Pedro Vasconcelos, sobre o escritor José Rentes de Carvalho. Não li coisa alguma da sua Obra. Quem sabe se por isso mesmo mais fascinado fiquei com a oralidade fluente e sábia sobre a espiritualidade portuguesa, esta dramaticidade ímpar ainda prevalente feita de rústico e ignorância, de esperteza saloia. Uns tontos aparecem sempre quando menos se espera com as suas propostas desestruturantes, quantas vezes eivadas de oportunismo. Quase todos se julgam donos de alguém. São enganados mas mantém-se 

fieis. Também nos corpos de polícia uns se têm por superiores a outros. Acontece o mesmo nas magistraturas. Depois, estas querem ter ascendente sobre aqueles. E the show must go on, dir-se-ia em Hollywood. Uns tantos, num gradiente mais intenso por relação a outros, entendem a preservação do seu currículo como dependente do espetáculo. Há sempre alguém a fazer-nos crer na prevenção como resultante de atitudes punitivas ou de práticas descontínuas. Poucos são aqueles a entendê-la como consequência de exemplo e persistência. Ter-se-á lobrigado evidência científica nas Operações Páscoa ou Natal como tendo qualquer papel na redução da sinistralidade rodoviária? Não só não existem quaisquer provas válidas disso, pelo menos no 
referente aos portugueses, como só tal poderia afirmar exatamente quem não os conhece. E no entanto aí temos homens seguramente bem intencionados a multar a jusante da ratoeira que há muito perdura por incompetência do Estado. Quem em seu juízo pode pensar noutra coisa que não a caça à multa operada de modo furtivo? Os comandos gravam os seus diretos para as televisões, convencidos. E tais operações renderão às corporações algum capital político em negociações posteriores.
Um quarto de milhar de 250 doentes com cancro esperam pela libertação de verbas para as respetivas cirurgias urgentes. Ninguém se incomoda. Num quadro assim, ante o féretro anunciado, todos os poderes cantam louvaminhas ao serviço público de saúde. Vai a enterrar o que de melhor o país produziu, num cortejo integrado pelas camorras urbanas da saúde, última medalha para o liberalismo económico. Exatamente quando por todo o lado se exaltam as virtudes do feito por aqui (e se recriam quadros
semelhantes) como uma esperança para o humanismo global. E que fazem os lusos neste entretanto? Comprazem-se na mentira sobre putativos presidenciais imbuídos pelo atávico não orgânico, veem no cinismo ridente dum político o ar benquisto da sua praxis, abominam o povo sempre insurgente desde há muitos milénios, inconformado, sofredor, humilhado e logo altivo, o admirável povo grego (evoca-o assim Churchill), como um potencial inimigo, logo desprezível. É um espírito a preto e branco, teatral, sem nuances.
Henrique Pinto

Abril 2015

quinta-feira, 2 de abril de 2015

PELA BOCA MORREM OS CORAÇÕES (II)

1 Jéssica Athayde e a anorexia
A modelo Jéssica Athaíde confessa a sua anorexia nervosa numa publicação cor-de-rosa. Fá-lo com aparente tato. É algo tão difícil de tratar. Exige uma política doméstica muito atinada e consistente. Não deve ser assunto banalizado no discurso. Haverá algum médico a recomendar suplementos de cálcio perante a osteoporose já instalada? Talvez. Mas não deve. Uma estação de televisão que, como as outras, não coloca pessoas muito responsáveis a falarem daquele distúrbio alimentar, passa o mesmo cavalheiro, de paleio tipo vendedor de banha da cobra, a promover um produto com tal fim (ao estilo entrevista, quem sabe para não parecer publicidade), em reality shows diferentes ao longo dum mesmo dia. Muitas pessoas fazem a sua «aprendizagem» alimentar em fontes desta natureza, impróprias e enviesadas.
Ocorre exatamente o mesmo com a generalidade dos suplementos alimentares, vitamínicos e minerais, expostos nos pórticos das farmácias e para farmácias em Portugal. Quanto ao grosso da coluna não se lhes conhece qualquer evidência científica credível no concernente aos seus efeitos.
É um género de informação errónea florescente também ao nível da doença cardíaca coronária, patologia de letalidade substantiva, contudo evitável mediante o seguimento duma alimentação saudável.

2 A alimentação na doença cardíaca coronária

Os micronutrientes estão implicados no contrariar a predisposição para a aterosclerose e na manutenção da função contrátil do coração.
Uma variedade imensa deles está envolvida na regulação da função do miocárdio e a suplementação pode eventualmente fazer melhorar os sintomas nalguns indivíduos. Todavia, por norma é suficiente a dieta adequadamente elaborada em desprimor da toma de suplementos (quase sempre de efeitos benéficos não demonstrados pela investigação). É o caso das vitaminas A, B1, B12, C, D e E, e do mineral potássio, presentes em quantidade suficiente na alimentação equilibrada ou nas pessoas expostas ao sol (caso da vitamina D).
Não obstante, é cada vez mais reconhecido como sendo vulgar na população em geral a deficiência subclínica dalguns destes e outros micronutrientes. Os seus níveis benéficos adequados devem ser olhados como componentes essenciais duma dieta equilibrada. Conseguir a sua ingestão em altos níveis através duma dieta rica em frutos e vegetais, como no estilo Dieta Mediterrânica, pode contribuir para a redução da incidência de doença cardíaca coronária (DCC).

3 Comer hidratos de carbono?

Agora, a pergunta mais comum que os utentes me dirigem é quanto a deverem ou não comer hidratos de carbono. Pois bem, não vejo mal algum se a consciência sobre a dieta se faz pelos livros, revistas, internet, etc. Porém, é relevante as pessoas poderem dirigir-se aos profissionais qualificados para mais certeiramente se habilitarem a exercer o seu sentido crítico. Para o fazerem em segurança. Qualquer ser humano consciente sabe que não deverá auto mutilar-se. Assim não deverá por igual proceder no que respeita à ração alimentar. Nas doses apropriadamente calculadas para a ação terapêutica, idade, peso e sexo, todos os indivíduos têm de ingerir hidratos de carbono, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais, fibra e água numa base diária. Tudo o resto está por provar.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Consulta de Nutrição Clínica
Página facebook: Nutrição Clínica ao Alcance de Todos
In Diário de Leiria





quarta-feira, 1 de abril de 2015

«THE GO BETWEENS» NA CIDADE

«O Século do Bem Estar», livro que publiquei no ano 2000 com prefácio do Professor José Guilherme Sampaio Faria, foi apresentado pela minha ministra e amiga, Dra. Maria de Belém Roseira.
No essencial, o livrinho apoiado e distribuído pelo ministério da saúde, incluía uma investigação sobre o bem estar. Nos momentos do parto o século XXI auspiciava uma era de ilimitada qualidade de vida, mesmo para boa parte da Humanidade sofredora.
A deriva do liberalismo económico, tanto nos países herdados do comunismo como nos da social democracia, constituirá um intermezzo de duração imprevisível. Neste ínterim os investimentos no bem estar público serão mais lentos.
Todavia, mandemos às malvas os «putos» do ISCSP e licenciaturas primas com as frases imberbes do género «viver acima das possibilidades». Em contraciclo as pessoas e as autoridades que lhe estão mais próximas, cansadas da miséria intelectual, vão construindo alternativas de vida melhor, mais sã, com exercício físico, divertimento, vida.
As corridas e caminhadas multiplicam-se. Os percursos para passeio apeado ou de BTT ganham ascendente sobre outros melhoramentos. O construído pelo POLIS à beira do rio Lis, em Leiria, a começar no ISLA e prosseguindo até à freguesia da Barosa, é por demais atraente. O rio, a Senhora da Encarnação, o novo «look» da 
Igreja de São Francisco, o marachão, os açudes, pontes e comportas, o Bar Restaurante Pé do Rio, o Castelo, namorados beijando-se em frenesim, as torres de escalada, as rampas para skaters, espécie de go betweenes de Gonçalo Velho, os campos verdes e arvoredos, o circo, formam um todo muito sugestivo, agradável. 
Este percurso, com mobiliário urbano de bom estilo, infelizmente maltratado pelo narcisismo dos supostos artífices dos graffiti, não é apenas mais uma estrutura para o bem estar, é um ingrediente de novos estilos de vida.
Henrique Pinto

Abril 2015