sábado, 28 de fevereiro de 2015

BEM HAJA POR TER VIVIDO MR. SPOCK!

Há períodos fascinantes na vida de muitas pessoas. Descobertas, chegadas, alvoradas radiosas e partidas para a aventura espiritual como só o conhecimento proporciona. A série televisiva Star Trek abriu a mente de muitos ao desconhecido, à imaginação, ao fascínio da ciência e da ficção sobre ela. A magia dos habitantes humanoides de Vulcano, por demais inteligentes e insensíveis a sentimentalismos – sem deixarem de ser pessoas boas – , dotados duma intuição francamente premonitória, era intrigante e apelativa. Pois a personagem Senhor Spock, interpretada por Leonard Nimoy, sobrancelhas excessivamente arqueadas, orelhas como flechas erguidas ao céu, o conselheiro inexorável, calculista de inflexível acerto, quase dedução matemática a superar os atributos da estatística como ciência de previsão, muito impressionou a minha geração, e em particular a mim mesmo na transição da adolescência para adulto jovem, universitário, bom aluno de matemática, adepto do rigor e iniciante de medicina, a minha paixão de criança até hoje.
Leonard Nimoy faleceu agora aos 83 anos, cumprindo o ciclo da vida, incontornável. A notícia fez manchete no planeta. Foi um acontecimento natural, que se lamenta, obviamente, e deixa um travo de amargura. Tais pessoas são sempre primas chegadas de toda aquela Humanidade que as pôde conhecer e admirar. Contudo, importante e inesquecível, superior ao fait divers, é a memória coletiva do universo que impressionou e o quanto a sua produção estética e intelectual sensibilizou a abertura ao saber e o deleite espiritual erudito em tanta gente. Bem haja por ter vivido Mr. Spock!
Fevereiro 2015

Henrique Pinto

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

GUILHERME VALENTE E A TRANSFORMAÇÃO DO PRESENTE

Continuam as celebrações duma efeméride ilustre. Sobre o meu textosito «O Papa Germanófilo», recebi vários comentários elogiosos. Na altura abstive-me de lhes dar mais relevo para não enfatizar as razões.
Todavia, nada melhor como estímulo, para continuar uma Obra, que percebê-la. E ter sempre em atenção as lições de Chomsky sobre a degenerescência burocrática e a ênfase dos egos. Entendi por bem fazer hoje a transcrição deste pequeno texto laudatório, escrito por quem é, a meu ver, o mais interessante dos editores livreiros em Portugal (Gradiva), o amigo Guilherme Valente, porquanto ele põe o dedo na ferida, a necessidade de repensar o presente em torno das práticas institucionais quotidianas:
“Caríssimo Companheiro e Amigo:
Gostei muito do seu texto e considero oportuníssimo que o tenha escrito. 
Lembrar  os grandes ideais e as grandes causas que estão na origem e fizeram crescer o movimento rotário é absolutamente  necessário para que a nossa ação tenha substância e se renove. E uma  dessas causas é a causa da paz, que o texto do Henrique evoca,  e que hoje,   cada dia mais dramaticamente,  parece dever voltar a ser  um imperativo para todos nós.
É preciso que os nossos encontros de convívio e companheirismo salutares sejam também, continuem a ser  -- como foram nesses momentos fundadores marcantes que refere no seu texto. -- animados pela atenção e a intervenção  solidária nos grandes problemas da humanidade. Julgo ser este espírito o que, afinal, dá sentido e unidade e vitalidade ao movimento Rotary.
Abraço do seu companheiro e amigo,
Guilherme Valente
São sobretudo os maiores fautores duma nova praxis, como Marion Bunch ou Guilherme Valente, por exemplo, imparáveis em transformarem o presente quase futuro, que mais me entusiasmam nos dias de hoje.
Henrique Pinto



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

DA MÚSICA JUDAICA À DANÇA ANDALUZ

Um fim de semana pródigo em lazer cultural é um empurrão no sentido do bem estar e da saúde mental.
Gosto das conversas enroladas, cada fato a pegar no anterior, demoradas, calmas, inspiradas, plenas de humor e raciocínio, que se escoam sem tempo, apanágio de sábados e domingos invernosos.
Gosto da arte em praticamente todas as formas de expressão. Entendo as linguagens estéticas como alimento do intelecto e do gosto. No fundo, tal e qual como a vida ou sendo a vida da vida.
Perguntaram-me num destes dias, «como acha que vai a cultura em Leiria?» Adivinhei o vir a caminho a consigna costumeira do não se faz nada. E atalhei. Pois vou constatando haver hoje muitos pequenos núcleos suscetíveis de crescerem e darem uma boa panorâmica cultural dentro de alguns anos, como um longo tapete verde, cor da esperança. O que é verdade, aflora da frutificação dos exemplos, e pode tornar-se um caso muito sério de exigência e bom gosto.
Leiria é uma cidade descuidada, com pouco sentido estético. Mas mantém, apesar do seu ar desprezado, uma judiaria enorme, lugar herança de muitos cristãos novos também. É suposto ali ter sido impresso o primeiro livro em Portugal, as Tábuas de Abraão Zacuto. Levaram Vasco da Gama à Índia. No centro desse aglomerado de casas a desmoronarem-se está o Edifício do Orfeão Velho, o mais antigo dos prédios da sua época, erguido em 1607 (só tem paralelo nalgumas paredes do Palácio dos Ataídes). Tem na sua estrutura vestígios dos diferentes destinos que vieram a caber-lhe. Cobertos, por uma questão de proteção, estão os nomes escritos na parede, onde ficava o topo das camas, dos oficiais das guarnições de Wellington, por longo tempo sedeados na cidade.
É o edifício ex libris do Orfeão de Leiria, onde tudo se passou depois de 1962 até à inauguração do seu edifício escola. Que lugar mais adequado para fazer um concerto de música judaica ou de autores judeus? O clarinetista Luís Casalinho e o percussionista António Casal, ambos professores do Orfeão de Leiria, entidade promotora, um dueto improvável, tal a dificuldade em fazer a transcrição para marimba e xilofone da maioria dos temas, encantaram-nos com a música de John Williams, o compositor de praticamente todos os filmes de Spielberg (importantíssima a ilustração visual de Auschwitz e a musical do filme A Lista de Schindler), até à de Ravel, Milhaud ou Schoeller.

Tratar dos quadros e da leitura de permeio e ir assistir a uma demonstração balética foram os passos seguintes. Leiria começou por ter apenas o Conservatório do Orfeão como escola de dança vocacionada, que continua em alta, destacado pela maior qualidade e inovação artística na Dança Contemporânea. Mas Leiria é hoje a cidade portuguesa com maior número de escolas baléticas. Dentre este pelotão que apareceu depois do Orfeão há também algumas pontuadas por qualidade e prémios, nomeadamente o Estúdio K, a da Clara Leão e a de Annarela. Foi esta escola a dar-me o gosto de ver boa dança, mormente num pas de deux brilhante de duas iniciadas e numa classe de dança andaluz. Parabéns a todos, quem pôde apreciar e quantos produziram qualquer dos eventos.
Fevereiro 2015
Henrique Pinto
NB: Quadros meus do autor Dinis Marques

A EUROPA ALEMÃ

É perfeitamente natural que o dirigente sionista, com o desígnio histórico de pôr fim à diáspora judaica, fazendo afluir todos os judeus a Israel, esteja a cumprir com os seus preceitos de fé, a defender a não assimilação dos judeus nos países onde vivem. Por muito pouco polido que um tal discurso possa parecer a outras crenças ou descrenças, como se ouviu em França aquando do affair Hebdo. Todavia, o forçar a nota no atual contexto não deixa de nos parecer insensatez ou insensibilidade quando tal fé germina mundo inteiro e onde quem a professa está muito mais seguro que no atual estado sitiado e securitário, herdeiro do Reino de Israel, mas ainda não reconhecedor das restantes autonomias, nomeadamente a dos vizinhos cujas tribos também já ocuparam o seu atual território. Aliás, um fato vulgaríssimo na Europa e em África. 

Despedido da tropa, preso por agitador, ridicularizado pelas suas fracas qualidades como émulo de Van Gogh, acabando a pintar paredes, invejoso do alheio, da vida estável e próspera de muitos judeus que conhecera, tanto no seu país como ali na cidade onde adornou, o pobre cabo cismou planos de grandeza e vingança e consumou-os no crime mais horrendo da história. Não é vulgar tal odio ser apanágio de pessoas com uma determinada deficiência, mas também não é caso raro ou nunca visto. O economista tem mão de ferro sobre todos os desfavorecidos – mesmo se estes, nalguns casos martirizados por povos diferentes, principalmente no século vinte, tenham sido ainda vítimas dos seus governantes e de alguns dos seus ricos -, vê-os invariavelmente como párias, gastadores, inúteis, parasitas.

Há muito os partidos tradicionais deixaram de representar quem quer que seja. Obviamente, uns estão mais longe do interesse dos cidadãos em relação a outros. Há quatro anos esboçou-se entre nós um princípio de exaltação da cidadania, primeiro numa candidatura presidencial, depois no concurso autárquico.

Não tenho quaisquer dúvidas, essa candidatura solista (mesmo com os entraves internos no seu percurso, mormente assessorias menos indicadas), se tivesse nascido hoje sairia vencedora. Mas apareceu fora do tempo e o desfecho inesperado da sua trajetória ainda faz muita gente arrepiar-se com desdém. O movimento da cidadania está vivíssimo na Catalunha e até certo ponto marca presença no Podemos e no Syrisa. E tem uma extensão crescente em Portugal, na liberdade e descontentamento, embora de forma inorgânica. Se fossemos condenar tais correntes como de extrema esquerda, quando mobilizam boa parte dos eleitorados, que diríamos de PSD e PS, bem como fatia de leão dentre a nossa imprensa, onde os dirigentes mor militaram em grupos maoistas ou trotskistas?

Afinal, as motivações de cabos de guerra desocupados, ministros e deputados à beira do desemprego político e políticos sobranceiros e transitórios, são muitas vezes bem mais causadoras de desequilíbrios, dessolidarização e estados de não paz, que os povos de quem se julgam donos e senhores.
Fevereiro 2015
Henrique Pinto  

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

I BELIEVE IN ANGELS

Em História não há ses, dizia meu professor Luís Ardisson. Mas há consequências e ilações.
Homens e mulheres pessoas más, donos do mundo sanguinários, ditadores, diabos vivos, sempre os houve. O mal é um atributo dos homens contraposto ao bem.
Extirpar um mal pela raiz, qual cancro a minar um corpo, belo ou não, é sempre uma aventura. Se não for possível preveni-lo há que curá-lo. Mas a cirurgia tem de ser rigorosa.
Os homens aboliram a pena de morte porquanto ela, para além de irremediável punição de putativos inocentes, em nada contribuir para a harmonização da humanidade. Os exércitos usam-na para desmoralização das tropas inimigas. Mas…
Havia um ditador no Iraque (país laico de muçulmanos e cristãos). Era um ditador de desmandos e gabarolices. O clã Bush, dos EUA, primeiro como apoio às empresas de armamento onde tinha interesses, depois sabe-se lá qual a razão válida, atacou e mais tarde invadiu o país do ditador, e executou-o.
Havia um ditador na Líbia (país de grandes interesses na Europa). Era um ditador exotérico, grandiloquente, louco como todos os ditadores. O senhor Hollande, na única ação de vulto conhecida depois de distribuir pizza em motoreta, acolitado pela NATO, apoiou as tropas rebeldes, o ditador foi morto e esventrado gratuitamente.
Ambos os países são hoje o grande palco da Al Qaeda e do neo Califado Islâmico. O mundo assiste às cenas mais dolorosas desde sempre, numa violência gratuita e feroz, supostamente em nome do profeta Maomé. E a podridão resultante, como gangrena, mina as diplomacias e a estabilidade em todos os cenários.
O «olho por olho, dente por dente», é belo na Obra de Shakespeare. Aí, aos valores negativos associados às figuras das filhas mais velhas do Rei Lear, Regan e Goneril, contrapõem-se os de Cordelia e do conselheiro Kent, a materializarem um dos mais significativos elementos na concretização do ideal de justiça: a verdade. Nada têm de ascendente do ódio como medida de retaliação. Já Mahatma Gandhi disse há um século, «De olho por olho e dente por dente o mundo acabará cego e desdentado».
Acredito nos anjos (tal a canção dos Abba recriada em Mama Mia, I believe in Angeles) e no mal, corporizados na humanidade. Repudio ostensivamente, tanto as medidas extremas presentes em ambos os exemplos, quais soluções para o paraíso. E acho ignóbeis todas as situações de tolerância espúria e egocêntrica  para com as emanações do mal, seja por estratégia ou incompetência mimetizada na bonomia. Os pactos germano soviético e o Tratado de Munique, ambos feitos com Hitler, primeiro pela Rússia e depois por Inglaterra, bem como a cedência a Mussolini a troco duma aliança contra natura, sacrificando a Etiópia (uns e outra evitáveis se Chamberlain tivesse mais dotes diplomáticos e coragem para o discernimento), deram origem ao conflito mais sanguinário da história humana.
Fevereiro 2015 
Henrique Pinto

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

INFARMED, ASAE, MINISTÉRIOS DA SAÚDE E DA AGRICULTURA, UM BOM COMEÇO?

Costumo desconfiar de muito sol em dias de chuva. Mas nesta semana ASAE e INFARMED deram conjuntamente um passo muito importante. Vejamos…
Quando desde há anos se dá a maior ênfase à Medicina Baseada em Provas em Portugal há mais produtos farmacológicos à venda sem qualquer teste de validade científica do que produtos medicamente comprovados quanto aos seus efeitos na saúde.
Se até as universidades chinesas puseram agora em questão boa parte das receitas da «milagreira» sabedoria oriental, nós temos este caos ingovernável, que tem um efeito negativo tão poderoso sobre a saúde como o tem para a economia a Evasão ao pagamento de impostos. A diferença está em que, aqui, quase tudo se passa legalmente. E, em muitas situações, sob a égide «o que é natural é bom». Nada parece menos autêntico.
Isto nada tem a ver com serem produtos comparticipado pelo ou não pelo Estado. Tem a ver com a generalidade dos produtos vendidos por multinacionais como Celeiro, pela totalidade das Ervanárias e com a grande maioria dos vendidos hoje em Farmácias (cosmética, emagrecimento, vigor sexual, etc.).
Quando muito, alguns são autorizados (administrativamente, mais nada…) pelo Ministério da Agricultura.
Pois bem, o sucedido nos últimos dias com a fiscalização sanitária foi proibir no mercado 28 dos 100 produtos analisados, por conterem substâncias ativas nada condizentes com o exposto na rotulagem. Eram, sobretudo, «coisas» usadas para emagrecer e ter mais força na … líbido.
É pouco? É sim senhor. Mas admito poder ser um bom começo.
E, quem sabe, o consumidor possa aprender a ser mais responsável com o que adquire para seu benefício. Bem sabemos ser difícil, quando os programas da TV com maior audiência entre os cidadãos de menor literacia, ainda hoje assisti, propagandeiam longo tempo semelhante banha da cobra. Claro que é publicidade enganosa. Mas se os produtos não são ilegais…
Fevereiro 2015
Henrique Pinto



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O RECÉM CHEGADO

Respondo torto a quem me pisa os calos. Se estou num projeto entusiasmante escolho os que julgo melhores. Só é bom executante o fazedor sem ódios nem ressentimentos. Tratando-se de cultores da arte chego mesmo a dizer, uma má pessoa jamais consegue ter a grandeza dum artista. Nunca me recusei a trabalhar com pessoas de mim discordantes. Por isso, confesso achar que me sentiria deslocado num fórum (numa sala, por grande que seja…) onde não cumprimentasse um novo colega do projeto comum quando até os seus diretos contendores o fizeram. Mas tive a infelicidade de ver isso agora no final dum Conselho Europeu.
Certa ocasião, finado um familiar muito querido, fui agradecer aos meus colegas, enfermeiros e auxiliares por todas as gentilezas prodigalizadas durante o internamento. E pela primeira e única vez na vida aconteceu-me, um deles pareceu aceitar a minha gratidão mas com um tom ostensivo de desprezo, de superioridade. Pensei depois, é pessoa que se julga no direito de não considerar, ao menos por um instante, alguém poder discordar ou saber mais do que ela sem ser da sua perspetiva política, económica ou área profissional.
Sabe-me bem apelar à memória de alguns dos homens marcantes da história europeia contemporânea. Melhor se expressa, por comparação, a pequenez política e intelectual destes novos arautos da «supremacia rácica» na política. Algo tão horizontal e subtil, mavioso, a fazer de Le Pen não mais que uma amostra.
Estive no jantar em que Jacques Delors preiteou Azeredo Perdigão. Ninguém melhor que ele soube valorizar a herança política da grandeza da fortificação tornada União Europeia. Beyen foi dos «Fundadores» da União menos conhecidos, admirado pela afabilidade e à-vontade nas relações sociais e pela sua vocação internacionalista. Churchill, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, acreditava, só uma Europa unida poderia assegurar a paz. Conservador, de boas relações com liberais e trabalhistas, o seu objetivo último era eliminar definitivamente as «doenças» europeias do nacionalismo e do belicismo. Testemunha do horror da fome nos Países Baixos no fim do maior conflito mundial, Mansholt tinha fé numa Europa capaz de se tornar autossuficiente do ponto de vista alimentar e garantir a todos um abastecimento estável de alimentos a preços razoáveis.
Jean Monnet, vinhateiro de Cognac, inspirador do «Plano Schuman», que previa a fusão da indústria pesada da Europa Ocidental, dedicou a vida à causa da integração europeia. Conselheiro político nas duas grandes guerras logrou convencer Roosevelt, e o isolacionismo americano depois da hostilidade surda de Chamberlain, a apoiar os aliados europeus contra o nazismo político-militar. Robert Schuman, advogado de alto nível e ministro dos Negócios Estrangeiros francês, é tido por um dos promotores mais marcantes da unificação europeia. Altiero Spinelli, federalista inabalável, promoveu o chamado «Plano Spinelli», proposta do Parlamento Europeu relativa a um Tratado para uma União Europeia federal. Esta 
proposta, aprovada pelo Parlamento em 1984 por esmagadora maioria, constituiu uma importante fonte de inspiração para a consolidação dos Tratados da UE ao longo das décadas de oitenta e noventa. Konrad Adenauer, democrata pragmático e unificador incansável, primeiro Chanceler da República Federal da Alemanha, contribuiu, mais do que qualquer outra pessoa, para alterar a história da Alemanha e da Europa do pós-guerra. A reconciliação com a França, acérrimo inimigo milenar, foi um pilar fundamental da sua política externa. Em 1963, assinou com Charles de Gaulle um Tratado de amizade entre os dois países, a assinalar um ponto de viragem histórico e um dos marcos do processo de integração europeia.
Nenhum destes homens relegaria para uma segunda oportunidade a saudação a um recém chegado.
Fevereiro 2015
Henrique Pinto



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

GRÉCIA E LÍBANO, UMA LIÇÃO DE HISTÓRIA

Um arquiteto grego residente em Lisboa questionava-se na noite após as eleições, «radical o Syrisa? Sim, quando tinha 3%, mas com 36%...». Mas a imensa imprensa generalista, voluntariamente ou não servidora dos interesses da grande banca, da política neoliberal e da usura alemã, não consegue olhar assim para o terreno nem discernir qualquer sentido de dinâmica e de alternativa à política económica vigente. Tal como em 1938-40, este alheamento só servirá para adiar o problema. Os verdadeiros radicalismos avolumar-se-ão. A nova Grécia pode augurar uma política nova, no que é um study case. Atentemos na cogitação de Sousa Tavares da qual transcrevo um excerto:
(…) «Se a Europa – isto é, a Alemanha – forçar o Governo de Tsipras a capitular, muita gente ficará feliz com o desfecho. Mas são inconscientes: estarão apenas a 
antecipar o fim da Europa. A capitulação e humilhação da Grécia detonará, entre muitos povos da Europa, uma onda de ódio antialemão e de frustração com Bruxelas que será terra fértil para extremismos e radicalismos bem mais perigosos e incontroláveis. O desespero nunca foi bom conselheiro. A chancelarina Merkel devia meditar na célebre frase de Kennedy: “os que tornam impossível a revolução pacífica tornam inevitável a revolução violenta”.
Não, isto não é uma história de criancinhas, como quer esperançosamente pensar Passos Coelho. Isto é política a sério, política dura, feita de escolhas difíceis, de opções que vão marcar os tempos. Coisas que os dirigentes europeus atuais já esqueceram. Mas, quer eles queiram acreditar quer não, nada vai ficar na mesma. É impossível».
Miguel Sousa Tavares,
Com «Se nós não somos a Grécia é porque somos parvos» In Expresso de 31/1/2015 
  
Desde a ação dos ingleses na queda do império otomano (ficou famosa a saga de Lawrence da Arábia, transformada em filme), os territórios do Levante (Transjordânia e Palestina) e da Mesopotâmia (Síria e Iraque) não mais tiveram paz. Ao invés da primeira grande guerra, foram as ambiguidades de Chamberlain em 1938-40 que favoreceram a liberdade com que Hitler se rearmou, não evitando a guerra que arrastou consequências imprevisíveis cujos efeitos perduram. A criação do Estado de Israel, inevitável mas envolta nas ambiguidades posteriores à segunda grande guerra, e a mais que imprópria invasão da península arábica, décadas depois, pela dinastia Bush e aliados ingleses, acabariam por soprar continuadamente o braseiro regional. Hoje toda a problemática da área estendida da Síria ao Mar Vermelho é maior que a expressa por um tabuleiro de xadrez (144 posições), tantos são os problemas e pontos de vista. Uma breve peregrinação pelo vale de Becka, como o feito pela Clara, desvenda essa paleta de cores políticas tingidas pelo choro e sangue de milhões de inocentes, e desconhecida para muitos:
(…) Faris costuma apontar os sírios a dedo, diz que têm “uma cara distinta, nada parecida com a libanesa”. Traços, duros, escuros. Os sírios são semitas, mas os olhos afundados são resultado da guerra e não da raça. Respondo-lhe que aquilo é racismo. Faris olha para longe, para o sol pálido e o mar batido pelo vento invernoso, encolhe os ombros, está zangado: “Racismo? Vivemos com guerras, invasões, temos uma Green Line guardada por tanques no meio de cidade, temos armas em casa, toda a gente tem família assassinada, temos os piores vizinhos do mundo, Israel e a Síria, 
temos o Hezbollah a mandar em nós, temos os palestinianos que ninguém quis, temos os extremistas, temos os terroristas, fomos destruídos várias vezes, e você, que vem de um país perfeito, Portugal, acha que somos racistas? Quando ninguém nos ajuda e os sírios nos tiram os salários, os empregos? Eu acho que somos muito normais, dada a nossa História. Olhe em volta, isto não é um restaurante normal, com o melhor peixe do mundo, de um país normal? Se os outros fossem como nós…» (…)
Clara Ferreira Alves,
Com «Allahu akbar!» In Expresso, 31/1/2015

Em boa verdade vale a pena reler Churchill, um génio previdente e conservador. Há uns anos, quando em Paris, via que artigo de quem se prezasse transcrevia frases de Santo Agostinho. Hoje é o primeiro ministro inglês, perdedor das eleições depois de ganhara guerra, a inspirar e iluminar as preocupações de quem estuda a envolvência política e social. Confesso que me deslumbro sempre ao relê-lo.
Fevereiro 2015

Henrique Pinto 
             

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

NA MÓ DE CIMA

Todas as histórias começam por «era uma vez…». Mesmo se houver registo de se terem repetido vezes incontáveis. No momento da assunção de encargo a nível tão elevado, folgo para que se encontre bem física e animicamente e nunca lhe faltem coragem e clarividência.
Rejubilo por me ser dada ocasião de apreciar a sua postura como um governante de não Entente.
Afastei-me um pouquinho da política «dos primos» e «dos donos disto tudo». O nosso ambiente comum é pródigo nisso. Suponho ter deixado assim alguém feliz.
Nunca conversámos desde a sua propositura. Mesmo sendo enorme a estima por si, apadrinhei indiretamente a sua entrada. Sinto ser meu dever contar-lhe por alto dois episódios rocambolescos e risíveis, que, creio, só um bom amigo saberá, e apenas devido ao tagarelarmos regularmente num almocinho a meio caminho, aqui no Grémio.
Gostava ainda de lhe dar conta em primeira mão do convite do nosso maior, o Chairman Ray. Neste momento eu julgo ser a pessoa há mais tempo no mundo no exercício de conselheiro mundial da organização.
Pois bem, há uns anos insisti com um colega para continuar a ser membro ativo duma das comissões de relacionamento internacional. Tinha-se demitido uma vez mais de todas as tarefas políticas. Já voltou a fazer tal coisa depois disso. Nunca mais me respondeu na sequência do meu insistir. Nem atendeu telefones. O primeiro-ministro do país irmão queria os dados com urgência. Incumbiu-me o nosso primeiro à altura (embora à altura nunca tenha estado), a ser assim eu devia subtrair da lista o reticente.
Ano e tal passado sobre este evento sou surpreendido com o voltar do assunto à tona de água numa reunião de antigos governantes. Afinal o demissionário fingidor terá escrito um mail a todo o mundo desancando-me de alto a baixo. Eu saneara-o, dizia.
Era tarde para estar-me a chatear com respostas. Soube que esse e mail me teria sido endossado para endereço usado até deixar a governação. Tampouco tinha a noção de tal poder ainda existir dez anos depois de o ter extinguido. Nunca cheguei a ver semelhante texto do género samizdat. Fui inteirado do seu conteúdo por interposta pessoa.
Quero ser eu a torna-lo sabedor doutra cena pícara dos nossos rapazes, mesmo se não original. Podia ser hoje diretor mundial se o ministro dos assuntos exteriores tivesse tido outra postura menos ensimesmada. A tida não vai trazer-lhe compensação alguma, seguramente. Portugal só voltará a fruir a possibilidade de indicar um candidato daqui a 16 anos e para ser um dos credíveis não lhe basta ter usurpado cargos. E tanto pior se já molhar os sapatos. Se um dia vier a cruzar-se com o Denham, o sueco, num destes meetings hoje triviais nas nossas funções, pode perguntar-lhe como tudo aconteceu, se entender fazê-lo, e logo verá. Sentirá com certeza a pele a arrepiar-se, senão mesmo a vergonha, dado o ridículo da posição portuguesa. Até o candidato vencedor confessou ter-se sentido estupefacto. O maná caíra novamente do céu.
Tive o dito ministro dos assuntos exteriores por bom amigo até ao dia em que, competindo-me presidir à comissão da Ordem para indicação do secretário-geral, ser surpreendido pelo voto contra o candidato apontado por este seu admirador, em conjunto com o nosso amigo dos encontros do Grémio. A inesperada oposição, inabitual, vinha precisamente dos colegas citados atrás. Desenhara-se uma aliança espúria, tão corriqueira na politiquice envolvente, o improvável convénio maçonaria e Opus dei e o fato de ambos chegarem a tentar esmurrar-se uns tempos antes em reunião de antigos governantes. Um pouco como costumamos pensar das doenças e outras desgraças, geradoras de infelicidade nos vizinhos, nunca esperei ser picado por semelhante veneno. Só mais tarde percebi o conflito de interesses desses dois cavalheiros em relação ao colega proposto.
Nos últimos anos precisei de motorista para deslocações grandes. Isso implicava pedir favores a terceiros para horas menos convencionais. Pensei ser melhor não incomodar mais ninguém para tal. Apareço a espaços. É bem possível continuar neste limbo. Cada vez seleciono mais as cerimónias/atos em que estou presente.
Mesmo assim, foram anos por demais trabalhosos em termos internacionais. Só no respeitante a fundraising arranjei perto de três milhões dos governos, endossados diretamente por estes às Nações Unidas. Jamais alguém o conseguira. Está nos relatórios mundiais.
Pois acredite, nunca li qualquer referência agradável ou não por via disso. Compreende, há que fazer marcação à zona como no futebol.
Não sou pessoa de me zangar com alguém, meu caro. Nem mesmo com quem deveria ter-me zangado. Mas o «primismo» não faz o meu estilo. E menos ainda me conforta a mentalidade viandante, aquela já ofuscada no derrube do III Reich. Em quase cinquenta anos de dirigente sempre estive na mó de cima. Só por incompetência me deixaria afetar por historietas pífias.
Fevereiro 2015

Henrique Pinto

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

AMONG THOSE LONG TIME ADVISERS FOR POLIO IN ROTARY INTERNATIONAL

Once again I was selected by RI President and Chairman Elect of TRF to be advocacy advisor on Polio in the term 2015-16. It is a great honor to accept such an invitation, which I‘ve copied under this mention. It is also a great privilege since I’ve been performing this task in RI/TRF, uninterruptedly, since 2002. After Bob Scott retirement I think I’m among the oldest advisers in our organization. Better than this important invitation it will be, only, the celebration of the victory over Polio virus all around the world in 2018. I hope I can live to celebrate it together with everybody that has worked to offer that wonderful gift to the world.
Henrique Pinto

«Dear Henrique Pinto:
It is my pleasure to invite you to serve as Adviser of the PolioPlus Advocacy Advisers in RI/TRF.  The term of this appointment is one year, effective 1 July 2015 and continuing until 30 June 2016. Congratulations for your selection!
I believe this committee is important, and you were carefully selected for the committee. In fact, for the first time this year, your appointment to the committee, and other proposed committee appointments, were reviewed and approved by the Trustees at their January meeting, prior to any invitations being issued.
I also want to mention that President Elect Ravi and I have worked together on our selections for the RI and TRF committees to avoid duplications of appointments and to assure that all appointees are held in high regard by both organizations. Moreover, as a general rule, we have tried not to overwork our committee members by limiting their appointments to no more than two committees in total (…) ».

Ray Klinginsmith, Chairman-elect
The Rotary Foundation Trustees, RI



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O PAPA GERMANÓFILO PIO XII E A EXPRESSÃO MAÇÓNICA EM FORMA DE BULA

Os jovens Rotaract de Leiria vão organizar uma conferência sobre Rotary e maçonaria. É um excelente tema. Porquanto em certos meios de conservadorismo mais duro no mau sentido, há ainda quem de vez em quando nos atire à cara com essa hipotética miscigenação. Tanto quanto sei nunca tal problema se pôs dentro do movimento onde a opinião democrática e solidária é a tónica, não havendo destrinça entre religiões ou entre os crentes de qualquer fé e os agnósticos e ateus. O movimento é não político, não classista e não religioso. Com certeza que houve e haverá maçons e membros da Opus Dei na organização, hoje como no passado. Como existem democratas-cristãos, sociais-democratas, liberais, socialistas e porventura outros, cristãos de todos os matizes, judeus, muçulmanos, hindus, budistas…
O culto ecuménico é uma tradição nos grandes eventos do movimento. O meu amigo Xeique Munir, Imã da mesquita de Lisboa, já integrou várias destas cerimónias, duas delas promovidas por mim, em conjunto com bispos e oficiantes de todos os credos referidos.
Há contudo duas posições lapidares sobre a matéria que durante anos distorceram a verdade e as opiniões.
A Sociedade das Nações, como um estaleiro para a Paz mundial, no sentido que lhe dá Churchill, existia desde 1922 e antecedeu a criação em 1945 da Organização das Nações Unidas. A dada altura, a Alemanha de Hitler, reorganizando-se militarmente ao contrário do consignado no Tratado de Versalhes, abandona a Sociedade das Nações. Os Rotários viam na sociedade um instrumento de materialização do seu fim último «A Paz e a Cooperação entre as Nações, entre os Povos».  
Numa conferência promovida por Rotary em 1943 na Londres do black out os participantes reforçam a posição da Conferência de Ministros da Educação, ocorrida um ano antes na mesma cidade, e abrem caminho à formação da UNESCO, organização para a educação, ciência e cultura da ONU, tal como existe hoje.
Aquando do fim da guerra a delegação do Rotary International, integrada por quarenta e nove rotários, foi a maior entre todas as Organizações não-governamentais participantes na Conferência de Fundação das Nações Unidas, realizada em 1945 em São Francisco.
Portanto, falar de Paz e de organizações suas propulsoras era assunto de há muito banal em Rotary, e discutia-se abertamente o assunto semana após semana. Como tal, eram feridas a extirpar pela calúnia e pela má política, no seio das forças do eixo.
O Papa germanófilo Pio XII praticamente condenou Rotary International quase que em forma de bula.
O anátema lançado, tanto por Hitler e Mussolini (mesmo antes de este se ter virado para a Alemanha, abandonando os defensores da Sociedade das Nações), por dali ter obtido o assentimento pela anexação da Etiópia (à altura chamada Abissínia), como por Pio XII, apodou o movimento de maçon.
No livro Hitler's Pope: The Secret History of Pius XII, (Penguin Books), de John Cornwell, o autor chega a citar uma carta deste Papa endossada a Hitler, que ouso transcrever:
Ao ilustre, Herr Adolf Hitler, Führer e Chanceler do Reich Alemão!
Aqui, no início de nosso pontificado, desejamos assegurá-lo de que permanecemos dedicados ao bem-estar espiritual do povo alemão confiado à sua liderança. Imploramos que o Deus Todo-Poderoso conceda a eles aquela verdadeira felicidade que advém da religião.
Recordamos com grande prazer os muitos anos que passamos na Alemanha como Núncio Apostólico, quando fizemos tudo que estava ao nosso alcance para estabelecer relações harmoniosas entre a Igreja e o Estado. Agora que as responsabilidades de nossa função pastoral aumentaram nossas oportunidades, muito mais ardentemente oramos para alcançar este objetivo.
Que a prosperidade do povo alemão e seu progresso em cada parte venha, com a ajuda de Deus, fruir!
Neste dia, 6 de março de 1939, em Roma, na Basílica de São Pedro, no primeiro ano do nosso pontificado.
Papa Pio XII
Curiosamente, é sobre o Papa Pio XI que recai, erradamente, o epíteto de pró-alemão. Ora Pio XI foi até escolhido para arbitrar o diferendo germano-polaco, por ser dos membros da Cúria mais independentes. Essa fama de «germanófilo» que se lhe colou é absolutamente injusta. Era um homem cultíssimo, no ideário das luzes, racional, um grande matemático. Tal ápodo na sua pele deve-se exatamente a uma quase que traição feita pelas assessorias do Papa que o antecedeu, porquanto, sem o avisarem, emitiram acordo favorável à posição alemã. 
Como muita gente sabe, no Jubileu de João Paulo II consagrado, entre outros movimentos, a Rotary International (já Paulo VI esboçara gesto semelhante), o sumo pontífice, no seu discurso, pôs termo, definitivamente, a tal aleivosia, abençoando os quase 50000 rotários do mundo presentes na Praça de São Pedro, propositadamente tendo em vista a cerimónia.
Fevereiro de 2015
Henrique Pinto




terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

MANUEL LEMOS E OS PORTUGUESES, E CINEMA, OPINIÕES E EXTREMOS

No filme, bom e barato, «Whiplash – Nos Limites», ensaia-se a conquista da excelência mediante a repetição excessiva, às vezes brutal como na «formação dos marines» ou, face à frustração dos nossos militares privados da guerra, em muitos dos nossos quarteis com recrutas, e Jorge Leitão Ramos, tal como eu, toma essa experiência limite como um bom motivo de análise. Acrescento, não se tratando dum texto fílmico neo realista, sei de casos de maestros exatamente assim. Todavia, se o realizador Damien Chazelle, quiçá por ser jovem, encerra a obra com um final feliz, aí está para o crítico o seu desvario, a cair na vulgaridade. Como se, qual darwinista extremo, negasse a importância da vontade, da determinação, da superação do próprio por uma autoestima alimentada. Um desenlace menos sorridente seria a descrença na psique humana. Já Francisco Ferreira, fazendo a sua leitura de «Black hat, Ameaça Na Rede», a película do veterano Michael Mann, realizador dos meus preferidos de há muito, diz maravilhas da obra pela originalidade do tema, a beleza estética, e por aí adiante. Ora, contraponho-lhe, nem os efeitos especiais conseguem fazer deste filme, a tratar o crime cibernético, tão glosado até cansar, em algo sugestivo. Até o casting é desmesurado, um gigante a encher um ecrã quando o papel exigiria alguém ajustado. Acho-o uma estopada. Ambos os filmes são candidatos a Óscares. E uma opinião é tão só uma ajuda para melhor descodificar e situar uma Obra. Felizmente, cada um tem a sua.
Mas serão todas as opiniões de respeitar por cada um de nós? Não, obviamente, quem se lembraria de achar razoável dizer-se «em Portugal só passa fome quem quer», atribuída a Manuel Lemos, provedor das Misericórdias portuguesas? Já se ouviu a um serventuário do regime, o economista César das Neves, dislates como «só não trabalha quem não quer». Tenho Lemos por homem inteligente desde os tempos em que foi chefe de gabinete. Deve haver algum mal entendido, não consigo imaginá-lo a fazer papel tão triste. Não obstante costumo recomendar, «se ouvirem um homem inteligente a dizer disparates, cuidado, algo está errado».
Os fanatismos são todos iguais, sejam desportivos, nacionalistas e patrioteiros, políticos, religiosos, gastronómicos… Fogem todos ao razoável. Um político da minha estima pessoal (ao contrário da sintonia política, inexistente), confessou-se em público pelo perder as estribeiras e ofender a mãe dos árbitros quando a ocasião surge, como um suposto mau julgamento daqueles a estragarem o resultado ao clube do coração. Daí tudo ser expectável.
Fevereiro 2015

Henrique Pinto