terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

MANUEL LEMOS E OS PORTUGUESES, E CINEMA, OPINIÕES E EXTREMOS

No filme, bom e barato, «Whiplash – Nos Limites», ensaia-se a conquista da excelência mediante a repetição excessiva, às vezes brutal como na «formação dos marines» ou, face à frustração dos nossos militares privados da guerra, em muitos dos nossos quarteis com recrutas, e Jorge Leitão Ramos, tal como eu, toma essa experiência limite como um bom motivo de análise. Acrescento, não se tratando dum texto fílmico neo realista, sei de casos de maestros exatamente assim. Todavia, se o realizador Damien Chazelle, quiçá por ser jovem, encerra a obra com um final feliz, aí está para o crítico o seu desvario, a cair na vulgaridade. Como se, qual darwinista extremo, negasse a importância da vontade, da determinação, da superação do próprio por uma autoestima alimentada. Um desenlace menos sorridente seria a descrença na psique humana. Já Francisco Ferreira, fazendo a sua leitura de «Black hat, Ameaça Na Rede», a película do veterano Michael Mann, realizador dos meus preferidos de há muito, diz maravilhas da obra pela originalidade do tema, a beleza estética, e por aí adiante. Ora, contraponho-lhe, nem os efeitos especiais conseguem fazer deste filme, a tratar o crime cibernético, tão glosado até cansar, em algo sugestivo. Até o casting é desmesurado, um gigante a encher um ecrã quando o papel exigiria alguém ajustado. Acho-o uma estopada. Ambos os filmes são candidatos a Óscares. E uma opinião é tão só uma ajuda para melhor descodificar e situar uma Obra. Felizmente, cada um tem a sua.
Mas serão todas as opiniões de respeitar por cada um de nós? Não, obviamente, quem se lembraria de achar razoável dizer-se «em Portugal só passa fome quem quer», atribuída a Manuel Lemos, provedor das Misericórdias portuguesas? Já se ouviu a um serventuário do regime, o economista César das Neves, dislates como «só não trabalha quem não quer». Tenho Lemos por homem inteligente desde os tempos em que foi chefe de gabinete. Deve haver algum mal entendido, não consigo imaginá-lo a fazer papel tão triste. Não obstante costumo recomendar, «se ouvirem um homem inteligente a dizer disparates, cuidado, algo está errado».
Os fanatismos são todos iguais, sejam desportivos, nacionalistas e patrioteiros, políticos, religiosos, gastronómicos… Fogem todos ao razoável. Um político da minha estima pessoal (ao contrário da sintonia política, inexistente), confessou-se em público pelo perder as estribeiras e ofender a mãe dos árbitros quando a ocasião surge, como um suposto mau julgamento daqueles a estragarem o resultado ao clube do coração. Daí tudo ser expectável.
Fevereiro 2015

Henrique Pinto

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