quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

«A ROTARY FOUNDATION E A PAZ PERMANENTE» EM CALDAS DA RAINHA

Convidado a estar hoje aqui no Rotary Club de Caldas da Rainha, ainda no rescaldo das celebrações do 108º aniversário do nosso movimento, para conversar um pouco sobre a nossa fundação, Rotary Foundation, agradeço penhoradamente a gentileza. É imensurável o meu júbilo em face da vossa gentileza, companheiros.
Agora, no segundo Fórum Rotary pela Paz Global que o actual  Presidente de Rotary International, Sakuji Tanaka, meu amigo de há mais duma década, convocou para este ano à escala do planeta, realizado em Honolulu, no Hawai, foi oradora principal a senhora Aung San Suu Kyi, líder do movimento democrático de Miammar (antiga Birmânia) e Prémio Nobel da Paz, que certamente teremos o gosto de ver em Lisboa na
Convenção Mundial de 2013. Ela afirmou, ao enfocar o papel das instituições democráticas na garantia dos direitos humanos, «o tipo de paz que queremos é muito simples: queremos a paz permanente!».

Lisboa no contributo para a paz permanente
Quando eu e o nosso amigo comum Frederico Nascimento, governador do Distrito 1960 em 2003, sonhámos trazer para Portugal um evento tão grandioso como a Convenção Mundial de Rotary International, e conseguimo-lo, também expressámos um sentimento semelhante. Quisemos associar o nosso país à mais firme e reprodutível das mensagens para uma paz permanente no mundo com o contributo de Rotary.
É exactamente essa a missão da Fundação Rotária de Rotary International. Capacitar os Rotários a avançarem na compreensão mundial, na boa vontade e na paz, através das melhorias na saúde, no apoio à educação e na minimização da pobreza, entre outros vectores. Neste sentido a Rotary Foundation funciona como o Banco de fomento de Rotary para apoiar as iniciativas mor destes instrumentos para a paz possível. A paz absoluta, erssa será porventura inalcançável. Mas é um objectivo que podemos e devemos continuar a perseguir de qualquer forma a todo o instante.
Sedo o Banco de Rotary, financiado exclusivamente por doações voluntárias, não deixa por isso de ter acções próprias, e em muitos casos estas confundem-se em absoluto com as do próprio movimento Rotary International que suporta.
É aqui que por vezes alguns Rotários menos esclarecidos dizem, «voluntário não, eu contribuo mensalmente com a minha quota». Não é verdade, essa quota mensal destina-se exclusivamente (no per capita que segue para Zurique) para as despesas correntes de sustentabilidade e de organização de Rotary International no mundo.
O grande movimento Paz no Mediterrâneo, promovido pela Comissão executiva mundial das CIP, comissões interpaíses de Rotary International, lançada no ano passado no Conselho da Europa, e que agrupa praticamente todos os países do mediterrâneo, conta já com o envolvimento e suporte da Rotary Foundation.
O assassínio de heróis rotários
Provavelmente será anunciado na Convenção de Lisboa o fim da transmissão do vírus da poliomielite no mundo – pese embora o número crescente dos nossos colaboradores assassinados na Nigéria nos últimos
dias, mas já depois de feita a imunização nacional –, o que não significa o fim da campanha Pólio de Rotary International e seus parceiros internacionais.Este caminho não foi nem será curto ou fácil. Ainda ontem o pastor Kitawala, na República Democrática do Congo, incitava os
seguidores da sua religião a não vacinarem as crianças contra a pólio ou quaisquer outas doenças, e já hoje, mudando de posição (é a conhecida transformação do Rei Elefante, que podeis ver em vídeo), caminha ao lado dos nossos propósitos. O Plano estratégico 2013-2018 de Erradicação da Polio e de Fim do Jogo, como é oficialmente reconhecido, incluirá a certificação do processo e o tornar mais forte a imunização de rotina até ao fim da certificação. É, sobretudo, o sedimentar das lições extraídas dos fracassos e sucessos no processo de

erradicação, dos resultados dos avanços tecnológicos substanciais a que se lançou mão, particularmente nos últimos dozes meses, para se transmitir a herança da experiência acumulada neste processo para outras intervenções globais em saúde no planeta.
O Óscar da Academia americana de cinema atribuído agora a Jennifer Lawrence, na categoria de melhor actriz, pelo  desempenho na comédia dramática «Guia para um final feliz», onde se aborda a problemática da bipolaridade, poderá significar o reforço da atenção em termos mundiais para a doença mental. No que o desempenho da Rotary Foundation e dos clubes rotários, particularmente em Portugal, deverá ser muito significativo, dependente do grau de sensibilidade e motivação dos Rotários.
 
Caixa de ferramentas para a paz
E se dou tanta ênfase ao Projecto Pólio e à subsequente melhoria global da saúde, é porque esta é a maior realização de saúde pública mundial feita pelo sector não público. É por ser o maior envolvimento da Fundação Rotária de Rotary International. Foi um processo que obrigou a alterar em Conselho de Legislação boa parte das regras de Rotary e alguma filosofia. Mas é, com certeza, uma das iniciativas de maior relevo de sempre de aplicação da caixa de ferramentas para a paz no mundo.
É por demais fácil a qualquer um de vós aceder ao modo de uso de qualquer das múltiplas opções de apoio da Fundação aos projectos dos clubes, vulgo subsídios. Mas relevo a importância do como foi possível chegar aí. Vejamos então em traços mais que breves o trajecto da Rotary Foundation, da sua criação até aos nossos dias.
Para toda a pessoa imbuída pelo espírito e prática de Rotary, é emocionante chegar à sede mundial do movimento, em Evanston, Chicago, e envolver-se naquela liturgia. A foto da praxe com o busto de Paul Harris, a saudação amiga do porteiro, nada mais que o companheiro do Rotary Clube Nº 1 a quem, por escala, calhou aquele dia de voluntariado, a visita ao museu do primeiro clube rotário situado no edifício sede do movimento.
Fundado a 23 de Fevereiro de 1905, quando o advogado Paul Harris desejou corporizar num clube de profissionais o espírito de amizade que ele tinha sentido nas pequenas cidades da sua juventude, em 1921 já tinham sido formados clubes semelhantes em todos os continentes e em 1925 o cientista e humanitarista  Albert Schweitzer, o compositor Sibelius ou o escritor Thomas Mann, estavam num qualquer dos 2000 clubes entre os 108000 aderentes. E é em 1917 que o presidente de RI, Arch Klumph, propôs a criação dum processo de doações voluntárias para constituir um fundo com o «propósito de fazer o bem no mundo». Este momento é o instante fundador da Rotary Foundation. Este fundo era já de US$5.000 em 1925.
Mas é necessário um longo caminho para a Fundação tomar o rumo que hoje tem. Todavia, é só em 1947, após a morte do fundador de RI, que a criação do Fundo em Memória de Paul Harris permitiu a efectiva criação da Fundação de Rotary International. Nasce nesse ano o primeiro dos seus programas, as Bolsas de Estudo. Só em 1965 se criaria novo programa, o Intercâmbio de Grupos de Estudos, início efectivo duma espiral de crescimento e envolvência planetária imparável.
A paz através do serviço
A Grande depressão do final dos anos vinte nos EUA e a II Guerra Mundial foram épocas de constrangimento para o crescer da Fundação. Mas as necessidades para uma paz duradoura estimularam cada vez mais o seu crescimento. E a transição gradual dum Rotary eminentemente virado para o companheirismo, solidário mas muito autocontemplativo e fechado, para um Rotary de companheirismo no Serviço (a consigna do presidente Sakuji Tanaka é mesmo marcante a esse respeito, «A Paz Através do Serviço), fez o seu caminho. Um percurso que tem o acmen na Campanha de
Erradicação da Pólio do mundo. O slogan «Que a mão esquerda não veja o que a mão direita dá» foi decididamente abolido em favor do marketing mundial pela solidariedade, para a angariação de fundos dentro e fora do movimento. Os primeiros Fóruns mundiais tiveram lugar em 1987-88 e conduziram às pós graduações em Paz e Resolução de Conflitos.
Este programa, que levou à edificação dos Centros Internacionais de Formação para a Paz e Resolução de Conflitos, é hoje uma das bandeiras mais desfraldadas ao vento das necessidades. É suposto que os companheiros rotários sejam líderes na promoção da cooperação, da paz e da resolução bem sucedida de conflitos através das suas vidas, das suas carreiras e actividades de serviço. E que devam sentir-se felizes quando o logram fazer ao mais alto nível. Os graduados destas formações universitárias de Rotary, realizadas em parceria com universidades de primeira água (Chulalongkorn, em Bangkok, Tailândia; Duke University e Universidade da Carolina do Norte, nos EUA; International Christian University, em Tóquio, Japão; Universidade de Bradford, em Yorkshire, Inglaterra; Universidade de Queensland, em Brisbane, Austrália; e universidade de Uppsala, na Suécia), estão hoje nos terrenos dolorosos do mundo, empunhando o estandarte de todas as organizações transnacionais pela paz, a realizarem tarefas da maior importância no âmbito da sociologia e do Serviço para a emancipação de indivíduos e grupos de risco. E cada um de nós pode propor o seu candidato a esta saga.
São múltiplos os subsídios (e os fins específicos), atribuídos pela Rotary Foundation, num processo que se tem vindo a simplificar ao longo do tempo. O Plano Visão do Futuro há três anos em curso, um período experimental para o ensaio de novas modalidades de apoio a programas humanitários e o de uma estrutura diferente para a organização das subcomissões em cada distrito, abrangeu 100 distritos candidatos (entre os quais o D 1970), e passará a definitivo no ano rotário 2013-14. É como que uma nova era que se abre no movimento.
O «luxo» do ministro da educação de Maputo
O presidente eleito de RI, meu amigo Ron Barton, comentando agora o Fórum do Hawai (o primeiro foi em Berlim e o terceiro será em Hiroshima, três palcos carismáticos, três ícones da destruição pela guerra), referiu-se ao Projecto de livros de Santo António, no Texas, e à emoção generalizada ao verem-se as crianças com livros novos. É apenas um dos muitos projectos do género no âmbito do combate à iliteracia a que Rotary se associa. E é também um dos mais populares. Um outro bem notável é o de cooperação com a Fundação da cantora norteamericana Dolly Parton, que coloca livros junto de múltiplas comunidades em todo o mundo e oferece um livro por altura do nascimento de cada criança dos EUA.
Mas os subsídios equivalentes do passado como os subsídios globais no presente, foram e são iniciativas impactantes de grande êxito. Quando o ministro da Educação de Moçambique ora compareceu à cerimónia de inauguração das novas instalações escolares em Maputo, referiu-se-lhes, diz-nos o nosso companheiro Rui Amaral, como «de luxo». Na verdade mais não são que instalações dignas (que serão monitorizadas por Rotary no futuro imediato), em face da extrema indigência do passado próximo. E tudo graças às verbas colectadas pelo Rotary Club de Maputo e pelo Rotary Club de Skanderborg, na Dinamarca, transformadas e potenciadas na versão Subsídio Global da Rotary Foundation.
Reitero-lhes, companheiros e amigos, todo o financiamento da Rotary Foundation é feito através de donativos, de caracter voluntário, particularmente de Rotários, individuais ou de corporações, como por exemplo, o da Fundação Bill e Melinda Gates. Doações estas em que parte do dinheiro capitalizado durante três anos é depois devolvida aos distritos, sendo que outra parte é canalizada para o Fundo permanente de sustentabilidade a programas. A variante de contributos para a gestão da Fundação Rotária porventura mais popular e generalizada – e porque
representa também uma distinção daquele a quem se atribui o emblema e o diploma correspondentes – é o Paul Harris Fellow Award. Foi instituído em 1957 para demonstração de apreço e encorajamento por doações, para o que era então o único programa da Fundação, as Bolsas de Estudo. 
A Fundação Rotária Portuguesa
Vai longa a minha peroração e já alguns companheiros dirão, «olha mais um que não liga nada à Fundação Rotária Portuguesa (FRP)!». Não é nada disso e antes pelo contrário, meus amigos. A FRP foi criada pelos Rotários portugueses num período muito penoso do país e bem duro para os nossos conterrâneos, antes ainda do ascenso da Rotary Foundation. Honra seja feita aos seus promotores e continuadores. Tem tido um papel notável na formação dos jovens e no combate à iliteracia. Houve um período de incompreensão do seu papel, até porque os seus Estatutos estavam obsoletos e os contributos tinham caracter compulsivo. Esta situação já foi ultrapassada. A FRP vira-se agora para novos horizontes e funcionando na base do voluntarismo dos clubes. Mas, ao contrário dalguma ignorância reinante em certo momento, na verdade existem mais de 2000 fundações semelhantes em todo o mundo. O importante é não esquecer o papel da Rotary Foundation. Ora, aqui neste ponto, o rotarismo português até há algum tempo, não era muito claro. Uma razão acrescida para eu corresponder ao vosso significativo interesse.
No entanto, a Rotary Foundation é o suporte da obra inigualável de Rotary em todo o mundo e sobretudo no mundo dos mais necessitados. É uma obrigação moral de cada Rotário contribuir em cada ano (Every Rotarian, Every Year, slogan da Fundação, em pouco que seja e independentemente da fórmula adoptada, para o sucesso dessa obra.
Rotary Club de Caldas da Rainha
25 de Fevereiro de 2013
Henrique Pinto