domingo, 31 de outubro de 2010

CAVACO SILVA ESTA SEMANA NA ESCRITA DOS ANALISTAS DO EXPRESSO




MAIS CINCO ANOS PARA QUÊ?

(…) Quando Cavaco Silva diz que se candidata em nome do futuro e da esperança, convém parar para pensar no assunto. Nos últimos vinte cinco anos, desde 1986, ele ocupou por quinze anos o cume do poder, apenas tendo de se submeter a um interregno de dez anos esperando que Jorge Sampaio terminasse os seus dois mandatos (…).
Nestes longos quinze anos de poder que já leva, Cavaco Silva passou dez como primeiro-ministro e dispôs de condições únicas e irrepetíveis maiorias absolutas, paz social, dinheiros europeus a perder de vista.
(…) quando saiu disse e escreveu que tinha feito todas as “reformas da década” e do futuro: da justiça, da educação, do fisco, da saúde, do financiamento da segurança social, da habitação, das Forças Armadas, das empresas públicas, da flexibilização do mercado
de trabalho e das finanças públicas. Palavra de honra que é verdade: ele garantiu que tinha feito tudo isto. E como sabemos, nada disso estava e está feito – e por isso é que chegámos à beira do precipício.
Nestes cinco anos que leva de mandato presidencial, Cavaco Silva recebeu um país com problemas sérios e entrega ao julgamento dos eleitores um país à beira da falência e não apenas financeira: também económica, social, educacional, jurisdicional, moral.
(…) Invoca a sua autoridade de professor de Finanças para dominar bem esses assuntos, mas de que serviu ao país, nestes cinco anos, o seu doutoramento acerca das consequências da dívida pública?
(…) O seu grande trunfo eleitoral são, pois, os auto-elogios que tão generosamente dedicou a si próprio. Nada mais: não teve uma palavra sobre o país, sobre os tempos que se
vivem, sobre o que terá de ser feito e o que não pode continuar a fazer-se. (…)
Miguel Sousa Tavares





CONTAS FURADAS

(…)Tanto se esforçou por associar a sua recandidatura ao acordo para a viabilização do Orçamento, escolhendo a data a preceito, como explicou Marcelo Rebelo de Sousa e, afinal, saíram-lhe as contas furadas. Cavaco Silva é o primeiro Presidente que se declara candidato e, no dia seguinte, tem de convocar o Conselho de Estado para responder a uma ameaça de crise política. Não se pode dizer que seja o melhor começo.
A crise favorece-o porque, nos tempos de incerteza que aí estão, os eleitores tendem a agarrar-se ao que já conhecem. Por isso se percebe muito bem que invoque o trunfo da experiência. Mas nada está garantido. Muito menos quando o Presidente-candidato faz campanha contra si próprio em pleno discurso de apresentação. É o que acontece quando pergunta onde estaríamos hoje sem os seus apelos e alertas. Sabendo-se que

dificilmente poderíamos estar pior, esta é a fórmula mais eficaz para tornar claro o rotundo fracasso de tais alertas. (…)
Fernando Madrinha











GERAÇÃO CAVAQUISTA

(…) Quando Cavaco chegou ao governo de Sá Carneiro eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. E durante dez anos, coincidindo com os primeiros anos da minha vida independente, vi uma das maiores oportunidades do século passar ao lado deste país. Rios de dinheiro desperdiçados e um modelo de desenvolvimento de pernas para o ar. Um país de patos bravos, esquemas, cursos, fantasmas, Oliveira e Costas, Dias Loureiro, Duarte Lima. E um primeiro-ministro que às perguntas difíceis respondia com bolo-rei na boca e à contestação com bastonadas.
Quando Cavaco saiu eu já tinha 26. No seu egoísmo estrutural, enterrou o seu partido por causa de um tabu. Perdeu as presidenciais porque o país ainda se lembrava do mar de escândalos em que se afogava o seu governo em fim de mandato. Quando finalmente foi eleito eu tinha 36. Foram cinco anos de um estadista pequeno, entre a paranóia das escutas que nunca existiram e a ausência nas cerimónias fúnebres do único Nobel da Literatura português. (…)
Daniel Oliveira


UM PAÍS PORREIRO

(…) Aqui chegados, ao modelo falhado, devíamos estar a arregaçar as mangas e a cavar um novo trilho, com gente nova. Certo? Errado. Cavaco Silva, que foi o maior responsável desse modelo falhado, recandidata-se como se nunca tivesse estado lá e confessa-se “triste” com a nossa crise; e o homem que o PSD arranja para a mesa das negociações com o PS, sobre este documento mítico que dá pelo nome de Orçamento, é o mesmo que conhecemos do tempo de Cavaco primeiro-ministro. Ou seja, um dos responsáveis. Entre Catroga e Teixeira dos Santos, descubra as diferenças. (…)
Clara Ferreira Alves


O PRESIDENTE ESTÁ TRISTE

«Sinto tristeza com a situação que vivemos» - esta frase do Presidente da República foi a manchete do Expresso na semana passada. Um homem triste é um chamariz para as mulheres, e mais de metade da população é do sexo feminino.
(…) a pessoa habitua-se à tristeza e depois já nada a espanta, nada a revolta, nada nela se move a não ser a embriagante obediência a essa tristeza, capaz até de a imunizar contra os problemas do mundo. (…)
Inês Pedrosa

NOTA: trata-se de extractos dos textos publicados pelos autores na edição de Expresso de 29-10-2010, que reproduzo com a devida vénia. HP

FOTOS: Cavaco Silva, doutoramento em Iorque; Miguel Sousa Tavares; Cavaco Silva caricaturado por Gon; caricatura de Cavaco Silva; Fernando Madrinha; Cavaco Silva caricaturado por Nelson Santos; Cavaco Silva com Dias Loureiro; Daniel Oliveira; Cavaco Silva tomando posse como ministro das finanças no governo de Sá Carneiro; Clara Ferreira Alves; Cavaco Silva caricaturado por HenryCartoon em Carturing; Inês Pedrosa; Cavaco Silva em Esgares (publicação inglesa); Cavaco Silva caricaturado por Quino em Forum Tuga
.

sábado, 30 de outubro de 2010

CHOPIN, COM A DEVOÇÃO DOS SÍMBOLOS SAGRADOS

Como em relação a Wagner, Van Gogh Victor Hugo ou Jorge Amado, entre outros, segui o itinerário do compositor e pianista Chopin com devoção, de Maiorca a Paris, revendo a paixão inflamada com George Sand, Varsóvia e de novo Paris, onde morreu jovem, tuberculoso.
«Uma bomba pode destruir uma casa. Mas não o espírito de uma nação. Os polacos celebraram o seu 200 anos depois», escreve-se em Actual de 23 de Outubro evocando Chopin.
E diz mais Luciana Leiderfarb neste Suplemento do Expresso. «Uma cidade pode ser o que não é. O que era antes de a reduzirem a escombros. E pode por isso ser muito mais do que é; a irreal sobreposição das
suas ruínas com o que se construiu a partir delas. Os habitantes de Varsóvia já se habituaram a falar dessas várias cidades que coexistem na sua. Gostam de dizer que tudo pode ser destruído, mas tudo, até o mais pequeno e insignificante, pode ser reerguido – porque é assim que a história se escreve e é assim que os polacos sobreviveram às (muitas) tentativas de os subjugar».
Este ano celebraram o bicentenário do nascimento de Chopin «com a devoção que se dedica aos símbolos sagrados».
No Festival Música em Leiria evocámos também esta efeméride. Orgulhamo-nos também de, por ele, terem passado ao longo dos anos os melhores intérpretes mundiais deste polaco genial.
Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: Frederic Chopin; Varsóvia; Frederic Chopin (duas fotos); George Sand

MARGARIDA PINTO CORREIA E SEU PAI, DOIS SÍMBOLOS


O dia estava lindo, solarengo, promissor. Estávamos conversando descontraidamente, Fernando Nobre, eu e a Margarida Pinto Correia, na esplanada da Pousada Santa Iria, em Tomar, antes de partirmos para a estrada, em campanha. Conheci-a em 1990 em funções políticas semelhantes às que, desprendida,
voluntarista de sempre, desempenha hoje. Foi natural evocarmos a memória de seu pai, catedrático da Universidade de Lisboa. Tive o privilégio de conhecê-lo mais de vinte anos antes de conhecer a Margarida, quando entrei para a Faculdade de Medicina de Lisboa, era ele então assistente de patologia médica. Mestres e colegas mais velhos falavam-me dele com o maior enlevo. Um familiar meu estava muito doente, pedi-lhe que me desse a sua opinião. Hoje como em todos estes anos nunca duvidei que lhe salvou a vida. E o mestre tornou-se a meus olhos quase um mito.
No Congresso de Gastrenterologia de 2003 o professor Tavarela Veloso, seu presidente, dedicou a sessão inaugural a este vulto maior da medicina portuguesa, que morreu cedo, doente desde os 57 anos.
Na colectânea de textos da Sessão de homenagem prestada ao professor Pinto Correia, publicados na Revista da Sociedade de Ciências Médicas, em Abril de 1991, o Professor Gouveia Monteiro, de Coimbra, meu saudoso mestre, outra figura ilustre da Medicina portuguesa, intitulou a sua intervenção como «O Professor Pinto Correia e a gastrenterologia moderna». Na realidade, em larga medida a modernização deste ramo médico em Portugal ficou a dever-se à sua intervenção através do trabalho intenso e persistente que desenvolveu durante toda a sua vida.
Foi vice-reitor da Universidade de Lisboa.
Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: Fernando Nobre, Margarida Pinto Correia e Henrique Pinto (foto J. Amaral Antunes); Margarida Pinto Correia; Professor José Pinto Correia; Fernando Nobre, Margarida Pinto Correia e Henrique Pinto (foto J. Amaral Antunes)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AS AVENTURAS DUM AMIGO PERSISTENTE


Há pessoas que são engraçadíssima uma vida inteira, não tanto pelo que dizem ou produzem, mas sobretudo pela forma como se comportam ou encaram a vida.
Aquele meu amigo foi sempre um aventureiro, destemido e cheio de ideias. Em jovem apanhava tubarões, coisa só para alguns. Já na meia idade, ainda que sem muito experimentar, tentou o parapente. Safou-se dessa, alguém o viu pendurado numa árvore, esperneando. Inventor de sempre construiu um submarino. Foi-lhe fácil conseguir um piloto e lá se fez o lançamento ao mar, dia de festa. Estão a ver o resultado, valeu ao intrépido comandante a celeridade no abrir a escotilha e pôr-se a salvo, tal a velocidade com que o fundo do mar vinha ao seu encontro.
Mas a pesca e a caça depressa lhe fazem esquecer os empreendimentos menos bem sucedidos e nada lhe custa encontrar amigos para os seus entreténs. Em tempos de caça ao cabrito o novel farmacêutico integrou a equipa que se atreveu serra adentro. Eis que por detrás da folhagem próxima o líder sentiu a agitação própria da presa. Pontaria assestada, disparou, pum, pum!
Bem, lá fomos juntos noutro dia ao hospital. O farmacêutico, cravejado de chumbo dos pés à cabeça, nem conseguia lamentar ter-se metido na aventura.
Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: Tim Tim; Obelix

«EAT, PRAY, LOVE» e «THE TOWN»

É sempre um deleite observar a excelente representação artística, como acontece hoje nos ecrãs portugueses com Julia Roberts e Bem Affleck, ou, no passado, com Warren Beaty, Faye Dunaway e Steve McQueen, por exemplo.
O mais recente filme de Julia Roberts baseia-se no livro «Eat, pray, love», de Elizabeth Gilbert, que suscitou a sanção de Oprah Winfray e que, segundo A Única, «socorreu milhões de mulheres de casamentos que já tinham chegado a um beco sem saída». Julia diz nesta revista o que mais a atraiu no filme, «o facto de a protagonista revelar uma enorme alegria só por poder visitar sítios novos, pessoas novas, e de guardar essas experiências com uma reverência muito especial».

Claro que é possível fazer essa mesma leitura no filme de Ryan Murphy, produzido por Brad Pitt. Todavia, é uma obra demasiado longa, de ritmo bem ronceiro e à procura de tudo o que é exótico, desde a beleza de Manhattan, de Roma, Nápoles, Nova Dheli ou Bali, o ioga, a música brasileira ou Espanha (através do actor Javier Bardem), numa caldeirada da Nazaré, belíssima pelos peixes e confecção, mas com pouco sal.
Quem se pode recordar dos filmes Bonnie and Clyde, de Arthur Penn, recentemente falecido, estrelado por Warren Beatty e Faye Dunaway, ou de Thomas Crown Affair, de Norman Jewison, 1968, com a mesma actriz e o malogrado Steve McQueen, e da sedução que imprimiram aquando da sua estreia? Pois Ben Affeck, agora no papel de realizador ( depois de Gone, Baby, Gone), actor principal e produtor, apresenta-nos The Town (A cidade), com imensas semelhanças de argumento em relação a qualquer daqueles filmes, quase parecendo uma remake do segundo. É um registo agradável pela qualidade representativa e ritmo, mas longe da exaustão construtiva e simbólica de qualquer dos precedentes, sobretudo do primeiro.
Em todo o caso gostei de ver qualquer das películas agora em exibição.
Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: A actriz Julia Roberts; o actor/realizador Ben Affleck; anúncio do filme The Thomas Crown Affair, de Norman Jewison, 1968; Cena do filme Bonnie and Clyde, de Arthur Penn.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A ILHA DO PICO NA HISTÓRIA DA REPÚBLICA


O picoense Amaro Justiniano de Azevedo Gomes é uma das figuras açorianas destacadas na exposição «A República - figuras e factos» patente ao público no Museu da Indústria Baleeira, em São Roque do
 Pico, no âmbito das comemorações do Centenário da República, de acordo com o Jornal do Pico (JP) de 22 de Outubro deste ano.         
Dos seus seis irmãos, Manuel de Azevedo Gomes (nascido em Santo Amaro em 1847), foi também oficial da marinha, e Francisco Azevedo Gomes, casado com D. Gabriela Gomes, foi sogro de Vitorino Nemésio. Esta curiosidade suscita outra. A Dra. Luísa Nobre, casada com o Dr. Fernando Nobre, presidente da AMI e actual candidato a presidente da República, é neta daquele escritor da ilha Terceira, Praia da Vitória, também ele visitante assíduo da ilha do Pico e hóspede habitual do casal Tibério Ávila, médico – a quem cita no livro Mau tempo no Canal – e D. Isaura Mattoso, irmã do historiador A. G. Mattoso, autor dos manuais de história que muitos de nós tivemos no liceu.
Em homenagem à bisavó, Luísa e Fernando Nobre deram à sua filha mais nova o seu nome, Gabriela.
Ainda segundo o JP, Amaro Justiniano de Azevedo Gomes, nascido na freguesia de Piedade, na ilha do Pico, chegou a capitão-de-mar-e-guerra em 1908, teve acção de relevo nas então colónias ultramarinas, foi capitão de porto de Angra do Heroísmo e subdirector da Cordoaria Nacional (1908-10), cargo que chegou a acumular com a presidência do Conselho de Guerra da Marinha.
Foi um homem proeminente na primeira República. Foi ministro da marinha e do ultramar no governo provisório (7 de Outubro de 1910 a 3 de Setembro de 1911). Eleito deputado pelo círculo de Lisboa, em 1911, foi igualmente senador, em 1921, pelo círculo de Angra do Heroísmo, ano em que chegou a vice-presidente do Senado.
Assinale-se que também o primeiro presidente da República (como o segundo) foi um açoriano, Manuel de Arriaga, natural da cidade da Horta mas a quem muitos atribuem nascimento na ilha do Pico.

Henrique Pinto
Outubro 2010
FOTOS: Fernando Nobre, candidato a presidente da República, a esposa Luísa e a filha mais nova Gabriela; Amaro Justiniano de Azevedo Gomes, ministro da marinha na primeira República; Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República (1911-15); Vitorino Nemésio, natural da Praia da Vitória, ilha Terceira, genro de Francisco de Azevedo Gomes

MANUEL ANTUNES, UM HOMEM SINGULAR


Quando foi inaugurado o novo Hospital da Universidade de Coimbra a lista de espera de doentes para cirurgia cardiotorácica era infinda. Foi nessa altura que, dentre os saudosos senadores da Universidade, o Professor Doutor Ramos Lopes alertou para a carreira proeminente, académica e de cirurgião, dum jovem português em Joanesburgo, na África do Sul, de seu nome Manuel Antunes, que fora assistente do mítico Professor Christian Barnard, pioneiro nos transplantes cardíacos. Era importante ainda que muito difícil atrair o seu contributo profissional para Coimbra, o que veio a acontecer.
Entre muitos outros atributos pessoais Manuel Antunes está hoje entre os três ou quatro melhores especialistas do mundo no tratamento de válvulas cardíacas, sem recurso à sua substituição. E é um cidadão exemplar e solidário.
Foi este notável que o Rotary Club de Leiria presidido pela jurista Manuela Santos distinguiu ontem como Profissional de Mérito, no decurso dum jantar muito concorrido na Quinta do Fidalgo, na Batalha (Tromba Rija).
Como a maior organização mundial de serviços à comunidade, os rotários pugnam, nomeadamente, pelo reconhecimento do mérito de toda a ocupação útil, pela difusão das normas de ética profissional e pela aproximação dos profissionais de todo o mundo tendo em vista a consolidação das boas relações, da cooperação e da paz entre as nações. Incentivando a Iniciativa Global da Polio, em cooperação com a Organização Mundial de Saúde, o UNICEF e o Centro para o Controlo de Doenças dos EUA, o movimento rotário está à beira da vitória sobre a poliomielite no mundo, a maior campanha de saúde pública privada desde sempre.
Quão importante foi, assim, neste contexto, a escolha do Professor Doutor Manuel Antunes para Profissional de Mérito 2010! O seu panegírico profissional e pessoal foi feito por dois académicos, o Professor Doutor Paiva de Carvalho, médico, actual Governador Civil de Leiria, e o Professor Doutor Carlos André, ex Governador Civil de Leiria e actual Director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ambos naturais de Leiria como o homenageado.
No uso da palavra Manuel Antunes salientou o grau mais elevado de responsabilidade do médico, não com a medicina ou a saúde pública mas para com o seu doente, referiu a tendência crescente no olhar-se o doente como um número e não como uma entidade individual, uma pessoa merecedora de toda a atenção, e alertou para os riscos da subalternização da clínica em favor da tecnologia mais actualizada e sofisticada, tornando a medicina desumanizada e inutilmente cara.
Manuel Antunes dirige o Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC desde 1998, modelar em termos de gestão, que é diferenciada da restante administração hospitalar por acordo com o governo, com um êxito tão claro que a justifica por inteiro. Já realizou mais de vinte mil cirurgias de coração aberto e, particularizando, 186 transplantes cardíacos, com uma taxa de insucesso inferior a 0,5%, um óptimo indicador. E não tem quaisquer listas de espera. São inumeráveis as sociedades médicas mundiais em que se envolve ou a que preside, designadamente a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, as mais altas distinções dos Estados e da sociedade civil avolumam-se, e, de todo o mundo, acorrem a Coimbra cirurgiões brilhantes para, graciosamente, terem o dom de trabalhar com este pedagogo exemplar que, mais que um artista eminente da cirurgia, é um humanista, mestre como interventor holístico da medicina, um Homem singular.
Henrique Pinto
Outubro de 2010
FOTOS: Manuel Antunes, Manuela Santos e Paiva de Carvalho (Foto Moisés de Jesus); Paul Harris (ao centro), fundador de Rotary International; Henrique Pinto e Manuel Antunes

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A TURNING POINT

Virus persists in small areas

We now know we need to tailor our programs to individual areas and even neighborhoods. District-specific plans will help us to overcome unique operational challenges. In critical areas, this will also allow us to enhance implementation through retraining of vaccinators and supplementary immunization activity (SIA) workers.
Virus persists in more sub-groups than previously known

Special strategies must be employed for underserved groups of people (including nomads, migrant laborers, minorities, and more). These tailored approaches need to be implemented by specialized teams that, where appropriate, develop them in concert with local leaders.
Routes of poliovirus spread & outbreaks are largely predictable

The importance of bolstering and strengthening underlying immunization systems in vulnerable areas has never become clearer. This includes independent evaluations, intense self-analysis of the program, and a deeper level of monitoring.
We are implementing pre-planned and synchronized SIAs to minimize the risk of importations and we have created brand new standards for outbreak response to minimize the size and length of outbreaks. Plus, we have new laboratory procedures that reduce the time to diagnose polio by 50%. Finally, rapid and active disease surveillance in the highest-risk areas monitors the presence of poliovirus.
Immunity thresholds to stop polio differ by area

We are tailoring SIAs and monitoring strategies to the very specific conditions and needs of individual geographies local areas. Because we know that the population immunity thresholds differ, we are carefully adapting and customizing immunization programs to fit the particular circumstances each area presents. This involves tailoring immunization activities and vaccine use and to the circumstances.
Optimizing the balance of MOPVS more difficult than anticipated

Developed and licensed in 2009, the new bivalent OPV can simultaneously protect against type 1 and type 3 polio. This is significantly more effective than trivalent OPV and similar to that of respective monovalent OPVs. In addition to the significant programmatic advantage, we are also intensifying independent campaign monitoring.

Global Polio Eradication Initiative
June 18, 2010
Geneva, Switzerland

TUDO FAZ SENTIDO


Há momentos em que olhamos em volta e tudo faz sentido. Este, digo-o com felicidade, é seguramente um desses momentos.
Sei que alguns estavam à espera que Coimbra não corresse bem - estavam à espera que os estudantes não me apoiassem, que as pessoas não me abraçassem nas ruas, que este jantar não fosse a gigantesca prova de convicção de quem acredita que tudo é possível.
Sei que alguns disseram que em Coimbra, eu não tinha as máquinas dos partidos e a experiência no terreno, e que assim nunca conseguiria mobilizar as pessoas.
Enganaram-se.
Os que assim pensam, ainda não perceberam o que está a acontecer.
Estão tão habituadas a entender as coisas pelas suas ordens de valores que não perceberam que o sonho está a crescer no coração de cada um de nós.
Alguém esta semana, amigo meu, afirmou que um pequeno efeito pode desencadear uma extraordinária mudança.
Não posso estar mais de acordo. Na política, como na vida, de um pequeno nada a que não prestamos atenção imediata pode nascer uma ideia capaz de transformar o mundo. Na política, como na vida, há instantes em que uma pequena mudança leva a que cada um de nós deseje o que ainda não tem.
Coimbra, cidade da utopia, do conhecimento e da resistência, é o sítio certo para vos dizer que cada um de nós é essa gota que conta. Cada um de nós pode desencadear uma mudança e todos juntos podemos fazê-la crescer.
Hoje é um dia em que olho à volta e tudo faz sentido porque vejo que o pequeno efeito se está a transformar numa hipótese efectiva de mudança.
Acredito que depois destas eleições presidenciais nada vai ficar na mesma. Mas para que isso aconteça temos todos que, porta a porta, passar uma mensagem de esperança.
Que outro candidato pode dizer que com a sua vitória nada vai ficar na mesma?
O professor Cavaco Silva? Esteve na Presidência nos últimos cinco anos, não o poderá fazer.
Manuel Alegre? É o político que mais anos permaneceu no Parlamento, certamente que também não o poderá fazer.
Eu sou o único que posso dizer que ganhando nada será como antes: não dependo dos partidos, não sou um político profissional e o meu único interesse é agora, como sempre, servir o país.
Quando se contarem os votos cada um de nós sabe que o seu voto contou. Cada um dos votos será fundamental para podermos abrir as portas da Política a mais pessoas livres.
O pequeno efeito de cada uma das nossas convicções vai transformar-se numa grande força. Uma força colectiva que não é contra os partidos, mas que não vem deles.
Quando chegarmos a Belém, os portugueses saberão que foram eles que ganharam, foram eles que lá chegaram. Essa é outra diferença – alguém poderá sentir a vitória de Cavaco Silva ou de Manuel Alegre como uma vitória sua? Sabemos qual é a resposta.
A nossa luta será uma vitória da cidadania contra este estado de coisas.
Porque só a minha vitória poderá desencadear mudanças na política portuguesa, alteração nos protagonistas e em todos os que trouxeram Portugal outra vez para uma situação dramática e perto da bancarrota.
Meus amigos…
Todos somos iguais em direitos e deveres, mas para os sucessivos governos há quem tenha mais privilégios do que outros.
A proposta de Orçamento apresentada na Assembleia é uma prova de culpa da classe política. Há anos que todos sabíamos que as contas estavam descontroladas, todos os portugueses o sabiam, e nada foi feito. Agora apresentam-nos a factura de uma conta que não devia ser nossa.
Este é um Orçamento sem gente dentro.
É um Orçamento de Estado injusto. Os mais pobres, os que já têm dificuldades em acordar todos os dias e encarar a realidade, sentem um desespero absoluto. Um desespero injusto porque deviam ser eles a ser salvaguardados e protegidos, mas são eles que mais vão sentir o aumento do IRS, o fim dos benefícios, o congelamento das reformas, o aumento do preço dos produtos básicos.
O Orçamento de Estado tem de ser aprovado, é o que se diz.
Sabemos as possíveis consequências de tal não acontecer, eu sou um homem responsável, mas o que nos estão a fazer é uma chantagem política.
Porque nos disseram, em 2002, que os esforços que fazíamos iam ser suficientes, depois pediram-nos sacrifícios em 2005, e agora chegam ao limite dos limites.
O Orçamento de Estado tem de ser aprovado, dizem-nos isso a toda a hora… Mas até quando vão continuar a chantagear-nos e a cobrir as suas mentiras e incompetência com o nosso dinheiro, a nossa honra e o nosso sofrimento?
Faço um apelo aos partidos políticos para que negoceiem este Orçamento. Negoceiem e aliviem a carga de IRS em relação às famílias com rendimentos mais baixos, recordem os mais desfavorecidos e carenciados.
Que se corte na despesa, que se extingam direcções-gerais, fundações e institutos que pouco ou nada interessam, mas que não se humilhe mais as pessoas.
Este Orçamento de Estado também não é bom para as empresas, o aumento do IVA vai afectar o consumo e mergulhar-nos-á na recessão.
A falta de investimento nas empresas não vai permitir a criação de emprego, o aumento das exportações ou a redução da nossa dependência das importações.
Por isso, também por isso, temos a obrigação de oferecer esperança e uma ideia de felicidade aos nossos filhos. Sem isso vamos limitar-nos, a sobreviver e não a viver. Vamos recuar aos tempos escuros onde os meus avós e os pais deles sabiam que um pequeno sinal era apenas um pequeno sinal e nunca se transformaria numa revolução de esperança.
Os filhos dos nossos filhos poderão dizer um dia que os seus pais acreditaram na mudança e lutaram por ela. Poderão dizer que estivemos aqui. Que de Coimbra partimos para o país com mais vontade de multiplicar uma mensagem de esperança, de felicidade e de combate contra quem continua a dizer que uma coisa e outra nos está interdita.
Vamos continuar a votar nos mesmos de sempre ou vamos deixar os nossos corações e a nossa vontade falar?
Vamos continuar a votar nos que são protagonistas há décadas ou contribuir para salvar a democracia e abrir a porta aos mais livres e preparados?
Esse será o meu maior contributo. O do exemplo.
O de permitir uma mudança. O de ajudar a que os melhores se possam realizar em Portugal sem dependerem dos partidos. O de criar condições para que os partidos políticos possam discutir internamente novos modelos e políticas. O de incentivar as novas gerações e dar-lhes a mão no seu caminho. O de não olhar a compadrios, cunhas e esquemas porque o país estará sempre primeiro.
Porque os portugueses estarão sempre em primeiro lugar. O voto na nossa candidatura é o único voto verdadeiramente útil. O voto em qualquer dos outros candidatos não contará para mudar nada de substancial. Tudo ficará na mesma.
Eu sou o candidato da cidadania. Os meus adversários são conhecidos.
Cavaco Silva é o actual Presidente da República. Foi primeiro-ministro. Diz que não é político, mas tem quase 40 anos de vida política activa.
Depois temos Manuel Alegre. Um candidato que, nos últimos anos, tem mudado vezes sem conta de opinião. Um político no pior sentido da expressão. Tudo subordinou para cumprir a ambição de ser Presidente da República.
Não se importou de trair o Partido Socialista em nome da sua vaidade. Em 2006, disse que Francisco Louçã era um Salazar virado do avesso, mas os seus interesses fizeram-no aceitar o abraço do Bloco de Esquerda.
Afirmou há apenas dois anos, em artigo publicado, que José Sócrates e o seu governo eram responsáveis pela destruição do Estado Social e do Serviço Nacional de Saúde e depois de concretizado o apoio virou as agulhas da sua crítica para Passos Coelho.
Afirmou, que a vitória de Cavaco Silva não lhe tirava o sono.
Enfim, ele não se importa. Como diria Churchill, de vez em quando tropeçar na verdade, mas recompõe-se imediatamente e prossegue como se nada tivesse acontecido.
Manuel Alegre já foi um homem que acreditava no mesmo que nós. Já foi alguém que conseguia transformar uma gota numa esperança. Manuel Alegre já não é esse homem, há muitos anos que o deixou de ser – e não há nada de mais imperdoável do que ver alguém substituir a utopia pela ambição e a vaidade.
A esses não perdoo. Porque aos outros, os que sempre foram pragmáticos e burocratas, não se pode levar a mal, é a sua essência. Agora, àqueles que corrompem a sua essência porque as circunstâncias se alteraram, a esses eu não perdoo.
Eu não sou de partido algum, mas estive sempre ao lado das lutas que me pareciam justas. Há cinco anos, ao contrário de Manuel Alegre, estive ao lado de Mário Soares e do Partido Socialista.
Como estive ao lado de outros políticos de outros partidos. Em cada momento estou onde acredito dever estar.
Mas nunca estou ou estarei onde me dizem uma coisa sabendo eu que me querem dizer outra.
Esta é a terra do conhecimento. Onde uma geração de jovens espera encontrar motivos para ser optimista.
Uma terra que me fez olhar à volta e perceber que tudo faz sentido. Nós somos a mudança, nós somos a única possibilidade de mudança.
Nós queremos e precisamos de criar novos paradigmas. Queremos e precisamos de preparar os nossos jovens para um mundo globalizado. Queremos e precisamos de dar confiança aos empresários. Queremos e precisamos de dizer aos professores que eles valem a pena e são o cimento do país que desejamos. Queremos e precisamos de formar elites, de apostar na inovação e aumentar a nossa produtividade.
Mas nada disso será feito se não conseguirmos mudar os personagens e arriscar mudar de vida. Só assim acontecerá o resto. Só assim será possível.
Meus amigos, que esta noite seja o nosso melhor dia.
Nesta casa que respira história, acompanhado de homens e mulheres livres da heróica cidade Coimbra, iniciamos uma marcha imparável até 23 de Janeiro.
Data em que Esperança e Mudança serão as marcas distintivas do meu desempenho como Presidente da Republica.
Eu acredito. Eu acredito em Portugal.
Viva Portugal!
Fernando Nobre
Jantar em Coimbra no restaurante a Democrática
16 de Outubro de 2010
FOTOS: Convento de São Francisco em Coimbra; Grupo de Guitarras de Coimbra e o meu amigo Bernardino; Nelson de Carvalho, ex presidente da câmara municipal de Abrantes (PS), Fernando Nobre e Máximo Ferreira, presidente da câmara municipal de Constância (CDU), em Constância; ao jantar com Fernando Nobre em Constância; discurso de Fernando Nobre em Constância; discurso de Francisco Mendes em Constância; discurso de Nelson de Carvalho em Constância; discurso de Fernando Nobre em Constância; ao jantar com Fernando Nobre em Constância; Universidade de Coimbra; nas minhas recordações; ao jantar com Fernando Nobre em Constância; Telmo Inácio, Henrique Pinto e Leonel na Abertura da Sede de Fernando Nobre na Nazaré; nas minhas recordações; Palácio de Belém; a rosa como podia ser a papoila