terça-feira, 29 de setembro de 2015

O AR ESCANZELADO DE PAULO RANGEL

A senhora do grupo de mulheres socialistas, a propósito de Europeias, lá ia dizendo com aparente agrado: ai eu votei naquele querido tão gorduchinho! Sentir-se-á hoje politicamente defraudada? Não é que o antes anafado Paulo Rangel apareceu escanzelado dum dia para o outro, com um ar doentio próprio duma dieta de privação e de efeito rápido! Este género de dietas, muito praticado Europa fora, é absolutamente contraindicado do ponto de vista da vida saudável.
Não é despiciendo estabelecer um paralelo entre a austeridade alimentar praticada por Paulo Rangel e a política económica ultraliberal por si defendida para o nosso país tipificada sob esse mesmo chavão.
E se o «nosso» deputado europeu chegado a um patamar de peso do seu desejo, entender estar em condições de refazer um regime alimentar venturoso, finda oficialmente a sua austeridade pessoal, tudo facilidades doravante semelhante à sua prática anterior, rapidamente vira o gorduchinho querido daquela senhora «assaz politizada». Requerem-se soluções alimentares equilibradas. A austeridade é sempre demolidora, na saúde ou na macroeconomia. O Professor Daniel Bessa, com os seus escritos ultraliberais, deveria mesmo votar algum tempo ao estudo do Professor Abel Salazar lá pelo Porto…
Uma obesidade semelhante à da personagem pública aqui evocada começa normalmente no princípio da adolescência, ou mesmo antes. A nutrição pediátrica é assunto ao qual é dada pouca atenção. Ela subjaz à saúde e à doença da criança como um todo e provavelmente à maior parte das doenças crónicas no adulto. Na prática, os regimes dietéticos seguidos nos países desenvolvidos estão muito mais dependentes dos média e da pressão dos pares que da informação nutricional informada.
E assim, por via da nossa desatenção à nutrição pediátrica, os adultos jovens no mundo desenvolvido estão já em risco aumentado para uma diversidade de doenças crónicas.
A primeira parte da infância é uma boa ocasião para as crianças experimentarem novos alimentos e desenvolverem hábitos e comportamentos dietéticos normais. As crianças em idade escolar tornam-se mais independentes do controlo parental na toma de comida, e estão em risco de consumirem alimentos inapropriados de limitado valor nutricional.
A adolescência é tempo para o salto final no crescimento. Atinge-se o pico da massa óssea. A maturidade sexual arrasta o risco acrescido de anemia, e nas raparigas o de gravidez não planeada. Os hábitos alimentares mudam drasticamente e aí um grau de nutrição ótima é crucial para a saúde futura.
Há uma seriíssima necessidade no melhorar a educação alimentar na escola. Um adolescente nórdico aprendeu na primária a cozinhar e sabe aproveitar a água de cozinhar os vegetais e legumes para fazer a sopa. Uma escola secundária aqui bem perto de nós ficou no topo do ranking das que dão maior atenção à comida. Terão os cozinheiros feito batota? Pois é, a instituição pratica comida hipercalórica, com excesso de gordura e açúcar, fatores associados a obesidade e má nutrição.
Senhor ministro Nuno Crato, governar implica também estar atento a estas incongruências.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico Graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria de 29 de Setembro 2015 

sábado, 26 de setembro de 2015

A VERDADE NEM SEMPRE É COMO O AZEITE...

A verdade nem sempre é o manto diáfano citado por Eça. Nem mesmo a fantasia que este possa cobrir.
«Adão e Silva, Pacheco Pereira e Francisco Louçã, talvez também Paulo Baldaia e Pedro Marques Lopes, são, a meu ver, os analistas/comentadores das televisões com maior rigor e independência. Logo, tenho-os por os melhores. Pensa-se mais informado e aprende-se com eles. Alguns deles, enquanto líderes ou membros de partidos, até eram maçadores, o mínimo dizível. Quanto aos restantes, do prolixo Marcelo ao Dinis do Observador, com tantos de permeio, são malabaristas maiores ou menores das verdades, da palavra, do incidente, jogam em slalom como Di Maria, às vezes marcam golões, mas pouca instrução e racionalidade se colhe do seu ofício».
Estas são as palavras dum comentário que fiz a um post sobre o voto de Pacheco Pereira.
Pouco me importa o Pacheco das botas cardadas Porto fora dos anos setenta. Gosto dum analista inteligente, mesmo se nalguma circunstância possa dele discordar. Há uns anos ele era, com António Barreto, vedeta dum programa televisivo. Inquirido por um jornal, de que eu até fora diretor, sobre personagens públicas de maior apreço no momento, eu indiquei Pacheco Pereira. Quando o artigo saiu a minha resposta era apenas um comentário marginal sem alusões a ninguém, enquanto o meu colega Cândido Ferreira, e o meu bom amigo Henrique Neto, agora ambos concorrentes à presidência da República, tinham uma resposta apologética duma personalidade socialista, com um comentário milimetricamente semelhante.
Agora, no post em que refiro os comentadores políticos de TV que tomo por os melhores, um bom amigo meu, companheiro em Rotary, responde-me com um smiley eufórico e as palavras seguintes.
«Nada tendencioso Companheiro, nada tendencioso... receba um abraço».
Respondi-lhe com a mais terna amizade mais ou menos assim:
«Nunca fui tendencioso meu amigo. Sabe-o muito bem e por isso o diz com graça. Muitos dos meus doentes, dos meus alunos na universidade, dos meus colegas médicos e professores, até dos Rotários, conhecem os dissabores que o meu sentido de rigor me acarretou vida fora. Normalmente mando à fava e viro costas a quem desse jeito me incomoda. Nunca me viu ou leu a vilipendiar a honra de alguém, mesmo se das pessoas de quem não gosto. Mesmo se dos ultraliberais que nos governam e o fazem bem longe da verdade. Aliás, o ultraliberalismo económico não é apanágio duma única tendência ideológica, afeta tanto o grosso do Partido Popular Europeu (quase banindo a social democracia), como o grosso dos partidos socialistas europeus ou os sucedâneos maoistas da China, para não ir mais além. Os tendenciosos não são necessariamente de esquerda ou direita, E o seu 
contrário também é verdade. Por exemplo, gosto de Marcelo, é meu conterrâneo adotivo, mora a poucos metros donde vivi até rumar à universidade de Coimbra, é pessoa da minha idade, seu pai foi provavelmente o ministro mais aberto e proactivo de Oliveira Salazar, e, metaforicamente, quase podemos dizer que os alicerces do SNS começaram com ele ao chamar a si colaboradores como os professores Gonçalves Ferreira (secretário de Estado da saúde), ou Arnaldo Sampaio (diretor geral de saúde), pai de Jorge Sampaio. Promovi vários encontros públicos com ele e provavelmente será o nosso próximo Presidente da República. Toda a gente gosta de o ouvir num momento ou outro. Mas rigoroso e pedagógico em política, quanto ao dito em televisão, isso está bem arredado do que penso. Analista rigoroso só se for no seu exercício de professor catedrático ou na vida privada. Esta 
evocação é apenas um exemplo do que existe em todas as tendências políticas. Aceito gostosamente o seu abraço de amizade, sabe que muito o prezo, tal como a seu pai, um homem que sendo um ícone da solidariedade neste país, uma pessoa que também muito estimo, não alinha com tudo o que luz, nem tão pouco com os nossos pares das almoçaradas e joguinhos de poder. Temos de nos ver num destes dias se eu ainda andar por cá. Um abração».
Talvez seja azia mesmo, querida Mafalda.
Setembro 2015
Henrique Pinto



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

VOLTARIA A PÔR NUNO CRATO EM TRIBUNAL!

Quando confrontado sobre as verbas do ensino artístico, no debate das rádios com António Costa, o primeiro-ministro disse que o acontecido com a presente debacle seria uma distribuição mais ampla e justa pelo país. A ser verdade (vindo donde vem merece pouco valor), tais palavras justificariam alguns comentários:
1 Este «Senhor» faz passar a ideia que está a falar de subsídios. Subsídios dá-os quem quer. E se forem justos tanto melhor. Mas tal é uma falácia extrema. Não são subsídios! Trata-se de facto de contratualizações do Estado com os setores privado e associativo para o ensino das artes, a suprir uma grave lacuna que o Estado português nunca teve capacidade para colmatar ao nível público.
2 Todavia, a ser mesmo verdade (?) que o propósito seria a tal distribuição «mais justa», a «calhoada» deste senhor é ainda mais grave. Não há quaisquer contratualizações onde não se criou o ensino artístico. Elas existem onde alguns agentes dos setores privado e associativo, ao longo de anos infindos de porfia, lograram criar uma procura para este ramo de ensino. Onde criaram uma cultura da necessidade de aprender as artes! Que infelizmente tão pouco existe no país mesmo ao nível básico, uma aberração europeia. Este género de falácia distributiva é apanágio dos bacocos, dos autarcas ignorantes em princípio de funções, etc. É pois uma tontice.
3 O senhor deputado José Magalhães desmonta aqui o processo nesta página do Facebook. A crer nas suas palavras bem estribadas em números trata-se apenas dum corte de despesas. Se tivermos em conta que isso mesmo emana das últimas decisões a respeito por parte do Conselho de Ministros, trata-se efetivamente dum corte orçamental (onde não se devia cortar) por parte do ministro Nuno Crato. Ora isto é o que ele tem feito desde que «alguém tão bem informado quanto ele» o nomeou ministro.
3 A desnecessária transferência de verbas do Ensino público para estimular o privado (com a «nuance» tipo Estaleiros de Viana do Castelo, arruinar o que está para depois entregar de bandeja ao espírito da economia neoliberal, como bem lembra Pacheco Pereira), tão ao gosto dos «maoistas» de hoje como das instâncias financeiras internacionais, associada ao corte voluntário de 300 milhões no orçamento vigente da educação, tipificam o ardor político de Nuno Crato. Onde é que está a poupança, a justiça, a ausência de economia ideológica?
4 Hoje não tenho funções de administrador a este nível. Mas voltaria a pôr Nuno Crato em Tribunal por incumprimento dos seus deveres políticos. Aliás, era isso mesmo que os dirigentes associativos do setor, ou mesmo os dirigentes das instituições mais lesadas, já deveriam ter feito.
Henrique Pinto

Setembro 2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

COMO É POSSÍVEL DEPOIS DO QUE FAZ CONTINUAR COM EXCESSO DE PESO?

Eis um texto inspirado num caso clínico da minha consulta, paradigmático de boas intenções alimentares com um resultado final desastroso. Vejamos:
Composição familiar: Duas crianças ( 11 e 2 anos) + casal
Motivo da consulta: perder peso; Último peso = 74,00 Kg; Altura: 1,60 m
IMC= 28,8 % = Excesso de peso. 
Referências importantes: Exercício físico - faz corrida (1hora a 1 h e 10 m por semana), 8 a 10 km, Trail running (4 h e 10 m) e ginástica (45 minutos) à segunda e quarta-feira.
Transito intestinal: Lento antes da menstruação
Cabelo oleoso; Unha frágil (?), Pele húmida, alguma ansiedade
Sono instável: acorda por si muitas vezes
Doenças de infância: hepatite aos 8 anos
Clínica atual: varizes; a repensar leite, Iogurte e enchidos.
Antecedentes familiares Neoplasias; avós diabéticos.
Tratamentos nutricionais anteriores: aos 16-17 anos fez dieta drástica restritiva durante 2 anos, cortou em muitos alimentos, perdeu cerca de 20 kg (orientação dum conhecido suposto dietista).
Exame físico: dobras abdominais.
Reflexão
O Plano Alimentar é uma proposta alimentar que pode discutir comigo se a não sentir ajustada a si. Tem por objetivo reduzir lentamente o excesso de peso e acertar numa alimentação saudável e equilibrada (base de toda a dieta, sem os subterfúgios comerciais muito em voga).
Aparentemente o seu programa alimentar não estará muito distante do ideal. Cada caso deve ser visto isoladamente. Mas…
A sopa é muito importante. Conquanto que não contenha batata (por muito calórica).
É igualmente importante comer carne e peixe alternadamente. Se o não conseguir então vá variando as carnes ou os peixes.
O leite magro é essencial conquanto que bebido moderadamente e não haja intolerâncias (que são bem raras, ao contrário da publicidade, e são bem visíveis). Não parece ter intolerância (não referiu sintomas) nem Colite ulcerosa.
Pode sempre fazer batidos com os ingredientes do pequeno-almoço (ou dos lanches), acrescentando-lhes alguns sabores ou aromas – a canela, cardamomo, gengibre, etc. – para os tornar mais digeríveis e de melhor paladar).
Não devem existir intervalos entre as refeições muito superiores a 2 horas e 30 minutos.
Um regime de seis refeições como está no quadro e que até pratica é o ideal.
Quanto mais líquidos, como chás ou infusões, se beberem às refeições, mais se atrasa a digestão. Beber é fora das refeições.
É muito importante beber cerca de 1,5 litros de água por dia (ou chá ou infusões) mas fora das refeições principais.
Pode beber um chá de linhaça várias vezes ao dia.
O chá de linhaça, as nozes e a salada de alface ou rúcula, que têm fibras semirrígidas, (pode temperar com azeite e vinagre, se quiser), ajudá-la-ão no trânsito intestinal e, portanto, na absorção, mesmo longe do período menstrual.
É importante uma vida tranquila, com sexualidade normal, uma higiene corporal com hidratação da pele com regularidade, etc.
É por demais importante fazer algum exercício físico regularmente (sem descontinuidades). O que já faz até é excessivo. A caminhada (30 a 40 minutos, apressada, 3 a 4 vezes por semana), OU o STEP (começar nos 100 passos/dia, alternadamente com o pé direito e esquerdo, e vai aumentando à medida do seu conforto), OU a Hidroginástica (pelo menos 2 vezes por semana) ou a Dança Zumba (1, 5 horas por semana). O exercício físico acompanhá-la-á desde o início do Plano Alimentar.
Se não conseguir beber leite magro (150 a 200 ml), produto animal, de mistura com cereais, pela manhã, pode só então substituir pela mesma quantidade de leite de soja (vegetal).
Claro que dentro do Grupo alimentar do leite estão o Iogurte e o queijo. Tanto o leite, o Iogurte ou o queijo devem ser desprovidos de gordura, magros portanto. E sendo assim podem- se substituir uns por outros.
Mas o queijo curado tem excesso de gordura. Deve ser substituído por queijo magro (ou fresco magro), com temperos ou não.
Mas três Iogurtes por dia é um regime excessivo.
As migas que come ao almoço têm pão. Além disso 4 peças de frutos também são um excesso…
O Fiambre, mesmo se do mais magro, é gordo.
Tanto o Fiambre como o chocolate negro que come podem ser alternativas uma vez por outra, para fugir à rotina, mas não devem ser rotina.
A salada que come é excelente. A salada tem uma função muito importante na mecânica do organismo, sendo ainda útil para a absorção da água. Se constituída por folhas (alface, rúcula, etc.), cumpre essa função mecânica e hidrófila e não é absorvida depois de cumprida as funções citadas.
Os frutos não lhe fazem muita falta, e os restantes legumes devem integrar antes o segundo prato e a sopa.
Portanto, as horas a que come estão muito bem: 7,30 – 8,00h; 10,30 – 11,00h;13,00 – 13,15 h; 16,30 – 17,30h; 20,30 – 21,00h; 24,00h, mantém um intervalo de aproximadamente 3, 00 h entre cada tomada de alimentos.
Os períodos de fome que refere (das 17,30 às 21,00 horas e depois até à meia noite), podem ser combatidos com snacks de frutos secos e/ou bolachas.
Mas o seu problema principal está nas doses excessivas, no enorme desequilíbrio entre os elementos essenciais duma refeição saudável, como Hidratos de Carbono, Proteínas, Gorduras, Vitaminas, Minerais, celulose mole (fibra) e água. Queremos um desequilíbrio pequeno, como se verá no Plano Alimentar. E está também na carência de vitaminas (essenciais ao transporte de gorduras no organismo), sais minerais (essenciais a todo o metabolismo) e nos antioxidantes, todos eles presentes nos vegetais e legumes, nas refeições principais.
Meio litro de água por dia, se contarmos também com a do chá/infusões é bem pouco.
Pensamento positivo: o seu excesso de peso é absolutamente fácil de combater. Mas cuidado, já teve períodos de dieta restritiva, qualquer tentativa agora (que não será restritiva) terá sempre efeitos mais lentos que a anterior tentativa; por outro lado, perdas de peso acentuadas (como a que fez) ou rápidas, são muito contraproducentes para o organismo; necessita portanto de Perseverança (decidir que quer e prosseguir), Paciência (para esperar resultados), Bom senso, rigor e espírito crítico (para cumprir o preceituado e telefonar ao médico se houver dúvidas, discordância ou dificuldades).
Conclusão: o IMC é mais importante que o peso. Manter o exercício físico; seguir o Plano alimentar.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Setembro 2015
Fotos: Andreia Pinto e Revista Health & Fitness



terça-feira, 22 de setembro de 2015

A DEMÊNCIA EXTREMA E O ABANDONO OFICIAL

Ontem à tarde participei em Pombal, a convite da minha colega Dra. Isabel Gonçalves, na Caminhada evocativa do Dia Mundial do Doente de Alzheimer. A Câmara fez-se representar muito bem. O meu amigo deputado Pedro Pimpão levou a família toda, bebé incluído. Muitos repórteres jornalísticos e de imagem e umas centenas de cidadãos caminharam pelo belíssimo passeio pedonal e ciclovia ao longo do Rio Arunca.
No domingo de manhã, na Marginal entre Caxias e Oeiras, tive o privilégio de participar com minha filha na Caminhada Alzheimer Portugal, liderada pelo Eng. Carneiro Silva e Dra. Fernanda Carrapatoso. Mas até na Alameda do Mar, na Ilha do Pico, se celebrou a efeméride. Celebração que a meu ver tem o interesse mor na chamada de atenção para o quadro cruel desta doença em Portugal.
Tanto a Saúde Mental, enquanto disciplina e prática, como os cuidados à Demência extrema, de que a Doença de Alzheimer é paradigma, não merecem qualquer atenção do Estado, digna ou menos digna. É bem possível que daqui a uns anos haja tratamento para ela. Os últimos estudos ligam-na à reprodução anormal duma proteína, como aliás a Doença de Parkinson, entre outras doenças. Mas estou convencido que quando chegarmos a esse patamar terapêutico, nem a prevenção oficial atingimos.
Praticamente só a Associação Alzheimer de Portugal tem um centro de internamento, a Casa do Alecrim no concelho de Cascais. Há alguns Centros de Dia… O restante atendimento, para as famílias que já esgotaram a capacidade para atender a um doente com estas caraterísticas, está no setor privado (o mínimo custo mensal anda pelos 2500 Euros). É um maná já bem controlado pelo investimento estrangeiro em Portugal.
Bom, muito mais se poderia dizer. Fica para outra ocasião. A nossa gente não lê textos com mais de 20 linhas. Quem governa nem os lê mesmo com menos. Mas que um dos caminhos da evolução das Unidades de Saúde Familiares devia passar por aqui, sobretudo na prevenção e nas fases mais precoces, não me sobram dúvidas.
Setembro 2015
Henrique Pinto

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

SAÚDE & PRECONCEITO, MITOS, FALÁCIAS E ENGANOS

A agitação do final da primeira década de 2000 levou à substituição do ministro António Correia de Campos. As medidas de concentração das maternidades em polos de maior qualidade gerou alguma incompreensão e má imprensa, mais dada ao caso que a ser esclarecida para saber esclarecer.
Todavia, o grosso do ruído veio dum autarca oposicionista bairradino, pouco instruído mas influente, incendiando grande parte da suposta opinião. O seu concelho foi um entre tantos a beneficiar da nova organização para o parto e ninguém questiona hoje os benefícios da política arrojada. Mas esclarecimentos destes eram demais para a sua literacia.
Neste preciso momento de escolhas, quando se torna imperiosa uma sabedoria mais fresca e moderna sobre a saúde, aí está o Professor Correia de Campos, meu mestre e amigo, com mais um livro poderoso sobre o tema, «Saúde & Preconceito, Mitos, falácias e enganos».
O universo da Obra fica estampado nas suas primeiras linhas.  
«Este Livro destina-se a toda a gente, não apenas aos políticos, ou aos profissionais de saúde, nela diretamente interessados. Trata da política de saúde, não pelas grandes construções teóricas ou pelas grandes construções ideológicas, mas pelas questões do quotidiano que facilmente surgem ao espírito do cidadão comum, quando pensa na forma como ele e o Estado se organizam para resolverem os seus problemas de saúde, da sua família e do seu semelhante» (…).
Agradeço ao meu colega e amigo Dr. António Sales, o amável convite para participar no lançamento deste livro, há dias em Leiria.
Henrique Pinto

Setembro 2015

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

NINE ELEVEN

É uma coincidência estranha. Mas o Dia 11 de Setembro evoca não uma mas duas efemérides bem tristes para muita gente.
O golpe de Estado militar, de extrema direita, no Chile, pondo fim a um regime democrático num país pobre, causou dezenas de milhar de mortos, de outros tantos mutilados, e ainda de muito mais refugiados políticos, a maioria dos quais chegou à Europa. Só se equipara a este êxodo a fuga massiva de centenas de milhares de chilenos com destino à corrida ao ouro na Califórnia, EUA, no século XIX. Foi o tempo dos cowboys europeus e hispânicos.
O ataque terrorista às Torres Gémeas nos EUA foi devastador. Para o mundo graças à violência desmedida e a tanto sofrimento. O povo americano teve razões acrescidas para o luto doloroso e a depressão causada. Inusitadamente a insegurança tornou-se epidémica.
O número de vítimas das Twin Towers só foi superior ao do Chile por via dos efeitos indiretos. A invasão do Iraque como medida retaliatória ( e o que se lhe seguiu) está inequivocamente a montante da presente vaga de refugiados para a Europa e Austrália, fugidos à guerra virulenta alimentada pelo ISIS.
Entre o primeiro e o segundo caso (e respetiva sequela) há apenas uma pequena diferença. A globalização dos media entretanto ocorrida permite-nos hoje saber quase tudo o que ocorre no mundo.
Henrique Pinto
Setembro 2015



AS CINQUENTA SOMBRAS

O filme As 50 Sombras de Grey teve a maior audiência de sempre em Portugal, destronando Música no Coração e Lawrence da Arábia, obras que estiveram mais dum ano em cartaz. Será que os portugueses adoram o comportamento sexual sadomasoquista? Disse-me alguém, malgré tout ao fim do segundo livro a personagem feminina ainda é vaginalmente virgem!
A discussão ora feita à volta do emprego e da pobreza tem contornos ridículos e de lavagem de asneiras. Pois a austeridade política é por natureza condenável. O papa Francisco foi perfeitamente claro a tal respeito. Todavia, boa parte dos portugueses inclina-se a sancionar positivamente os «responsáveis mor e mais próximos» da prática destas políticas. Como se não existissem alternativas mais credíveis. Será possível o sofrermos massivamente da Síndroma de Estocolmo, da paixão pelo agressor? Ainda creio na possibilidade de bom senso por parte de quem saiba termos cerca de 2 milhões de concidadãos abaixo dos limiares de pobreza, evitável meus caros, num universo de menos de 10 milhões de residentes. É ainda a cidadania organizada que mitiga o sofrimento maior.
Praticamente 5/6 da minha vida foram enformados por práticas (e estudos, exaustivos muitos deles, todos os dias escrevo, todos os dias estudo) dirigidas ao Outro, à comunidade, desde o jornalismo, a cultura (foram 45 anos consecutivos como dirigente cultural), ao desporto, à investigação e ensino, à solidariedade ( a Associação Alzheimer de Portugal, neste momento), a Rotary, à saúde pública (da local à planetária), etc.
Assistir agora ao golpe ferino dirigido ao ensino especializado da música num país onde nem ensino generalista da mesma existe, é demais para quem, como eu, tanto se empenhou em incrementá-lo.
A minha vida tem sido um permanente e deliberado recomeço. Se uma ideia ou projeto estão favoravelmente esgotados, parto para projetos novos, sempre sob o lema da criação, do crescimento das ideias e da ampliação dos resultados. Sem nunca me desviar da ética. Nenhuma pessoa me ouviu ou leu alguma vez denegrir qualquer dos meus continuadores ou antecessores. Onde será que só se lobrigam comportamentos a contrario? Nem nenhum deles foi incomodado com ingerências minhas, sigam o vosso caminho à vontade. E olhem que a experiência é longa e larga. Ninguém conte comigo para a rotina improdutiva, para as perdas de tempo, para aceitar quaisquer baias imorais ou a tolerância hipócrita, a má educação.
Em boa parte da passagem pelos serviços públicos da saúde, fui invariavelmente perseguido até ao limite por direções regionais, mesmo com ideologias diferentes entre si. Por isso aceitei convites fabulosos. Saltei de nível, como nos jogos informáticos, parti rumo aos serviços centrais e depois ao mundo. Estou fora disso agora. Só me interessa convalescer e não me incomodar, concluir tudo o que pensei fazer na vida, ser um membro de base das organizações que me dizem algo, estar ativamente com quem me é querido, amar e divertir-me. Mas era então o império do caciquismo, da imposição de políticas de saúde absurdas ao invés do nacionalmente estabelecido, da falsificação de estatísticas, da proteção a interesses adversos das boas práticas em saúde, do clientelismo político, da inveja e mesquinhez. Felizmente sempre fui ouvido, reconhecido e «protegido em Lisboa» e lá fora. Os meus resultados existem ainda.
Estive invariavelmente um passo à frente dos meus pares e contemporâneos, graças ao estudo, à recusa do andar a reboque de palmadinhas nas costas de falsa tolerância, e à capacidade da assunção do risco nas decisões a tomar. Promovi as práticas positivas e o sucesso nas minhas instituições graças ao conhecimento, à modernização (as estatísticas e o planeamento em saúde devem-se a quem?), e a sempre ter sido aberto à colaboração da inteligência jovem. Na Saúde fruí o privilégio desde muito cedo de orientar médicos internos de especialidade. Acabaram quase todos por virem a ser os melhores do país. As suas ideias frescas e a possibilidade por mim conferida de as porem em prática modernizaram o Serviço Nacional de Saúde, estabeleceram o exemplo. Há hoje, numa parte ampla do mundo dos EUA a África, a tendência para replicar este grande projeto português. E qual é o sentimento português a tal respeito? 
Bem, por enquanto o SNS tem escapado à descaraterização total pela privatização, pelos interesses comerciais. Mas a vontade de tal vir a acontecer anda por aí à solta.
Recentemente consegui o apoio praticamente unânime dos deputados portugueses no Parlamento Europeu quanto à Declaração de premência na sustentabilidade do combate mundial à paralisia infantil. Os meus companheiros e eu, mesmo enfermo, lográmos assim o Ámen de um pouco mais de metade dos parlamentares europeus. Foi bom para todos, para mim também, o constatar que as ideologias dos lusos representantes não os dividem quando se aborda um problema magno assim. Se tudo fosse como isto quão bom seria!
Orgulho-me, e muito, de, sendo os cargos em Rotary International de grande rotatividade, 1, 2, 3 anos no máximo, os presidentes mundiais me convidarem há 15 anos consecutivos para Conselheiro mundial ( e também como representante nacional, são poucos os países assim distinguidos), no que respeita a essa saga fantástica da eliminação duma doença. São pequenas coisas que fazem com que me sinta em permanência face ao futuro.
Henrique Pinto
Setembro 2015-09-11