sexta-feira, 11 de setembro de 2015

AS CINQUENTA SOMBRAS

O filme As 50 Sombras de Grey teve a maior audiência de sempre em Portugal, destronando Música no Coração e Lawrence da Arábia, obras que estiveram mais dum ano em cartaz. Será que os portugueses adoram o comportamento sexual sadomasoquista? Disse-me alguém, malgré tout ao fim do segundo livro a personagem feminina ainda é vaginalmente virgem!
A discussão ora feita à volta do emprego e da pobreza tem contornos ridículos e de lavagem de asneiras. Pois a austeridade política é por natureza condenável. O papa Francisco foi perfeitamente claro a tal respeito. Todavia, boa parte dos portugueses inclina-se a sancionar positivamente os «responsáveis mor e mais próximos» da prática destas políticas. Como se não existissem alternativas mais credíveis. Será possível o sofrermos massivamente da Síndroma de Estocolmo, da paixão pelo agressor? Ainda creio na possibilidade de bom senso por parte de quem saiba termos cerca de 2 milhões de concidadãos abaixo dos limiares de pobreza, evitável meus caros, num universo de menos de 10 milhões de residentes. É ainda a cidadania organizada que mitiga o sofrimento maior.
Praticamente 5/6 da minha vida foram enformados por práticas (e estudos, exaustivos muitos deles, todos os dias escrevo, todos os dias estudo) dirigidas ao Outro, à comunidade, desde o jornalismo, a cultura (foram 45 anos consecutivos como dirigente cultural), ao desporto, à investigação e ensino, à solidariedade ( a Associação Alzheimer de Portugal, neste momento), a Rotary, à saúde pública (da local à planetária), etc.
Assistir agora ao golpe ferino dirigido ao ensino especializado da música num país onde nem ensino generalista da mesma existe, é demais para quem, como eu, tanto se empenhou em incrementá-lo.
A minha vida tem sido um permanente e deliberado recomeço. Se uma ideia ou projeto estão favoravelmente esgotados, parto para projetos novos, sempre sob o lema da criação, do crescimento das ideias e da ampliação dos resultados. Sem nunca me desviar da ética. Nenhuma pessoa me ouviu ou leu alguma vez denegrir qualquer dos meus continuadores ou antecessores. Onde será que só se lobrigam comportamentos a contrario? Nem nenhum deles foi incomodado com ingerências minhas, sigam o vosso caminho à vontade. E olhem que a experiência é longa e larga. Ninguém conte comigo para a rotina improdutiva, para as perdas de tempo, para aceitar quaisquer baias imorais ou a tolerância hipócrita, a má educação.
Em boa parte da passagem pelos serviços públicos da saúde, fui invariavelmente perseguido até ao limite por direções regionais, mesmo com ideologias diferentes entre si. Por isso aceitei convites fabulosos. Saltei de nível, como nos jogos informáticos, parti rumo aos serviços centrais e depois ao mundo. Estou fora disso agora. Só me interessa convalescer e não me incomodar, concluir tudo o que pensei fazer na vida, ser um membro de base das organizações que me dizem algo, estar ativamente com quem me é querido, amar e divertir-me. Mas era então o império do caciquismo, da imposição de políticas de saúde absurdas ao invés do nacionalmente estabelecido, da falsificação de estatísticas, da proteção a interesses adversos das boas práticas em saúde, do clientelismo político, da inveja e mesquinhez. Felizmente sempre fui ouvido, reconhecido e «protegido em Lisboa» e lá fora. Os meus resultados existem ainda.
Estive invariavelmente um passo à frente dos meus pares e contemporâneos, graças ao estudo, à recusa do andar a reboque de palmadinhas nas costas de falsa tolerância, e à capacidade da assunção do risco nas decisões a tomar. Promovi as práticas positivas e o sucesso nas minhas instituições graças ao conhecimento, à modernização (as estatísticas e o planeamento em saúde devem-se a quem?), e a sempre ter sido aberto à colaboração da inteligência jovem. Na Saúde fruí o privilégio desde muito cedo de orientar médicos internos de especialidade. Acabaram quase todos por virem a ser os melhores do país. As suas ideias frescas e a possibilidade por mim conferida de as porem em prática modernizaram o Serviço Nacional de Saúde, estabeleceram o exemplo. Há hoje, numa parte ampla do mundo dos EUA a África, a tendência para replicar este grande projeto português. E qual é o sentimento português a tal respeito? 
Bem, por enquanto o SNS tem escapado à descaraterização total pela privatização, pelos interesses comerciais. Mas a vontade de tal vir a acontecer anda por aí à solta.
Recentemente consegui o apoio praticamente unânime dos deputados portugueses no Parlamento Europeu quanto à Declaração de premência na sustentabilidade do combate mundial à paralisia infantil. Os meus companheiros e eu, mesmo enfermo, lográmos assim o Ámen de um pouco mais de metade dos parlamentares europeus. Foi bom para todos, para mim também, o constatar que as ideologias dos lusos representantes não os dividem quando se aborda um problema magno assim. Se tudo fosse como isto quão bom seria!
Orgulho-me, e muito, de, sendo os cargos em Rotary International de grande rotatividade, 1, 2, 3 anos no máximo, os presidentes mundiais me convidarem há 15 anos consecutivos para Conselheiro mundial ( e também como representante nacional, são poucos os países assim distinguidos), no que respeita a essa saga fantástica da eliminação duma doença. São pequenas coisas que fazem com que me sinta em permanência face ao futuro.
Henrique Pinto
Setembro 2015-09-11




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