segunda-feira, 7 de novembro de 2016

MURRO NO ESTÔMAGO

João Vasconcelos
Os ramos da informática são os potenciais geradores de emprego de maior dimensão no curto prazo numa escala quase universal. Embora ninguém espere do mundo um desenvolvimento uniforme, tudo aponta para profundas assimetrias entre os países e sombras negras dentro dos países, a «inteligência» artificial vai-se assenhoreando das economias e das vidas de cada um.
Pavilhão Atlântico em Lisboa
O secretário de Estado João Vasconcelos bem que me ajudou em partes específicas da até agora mais populosa reunião internacional em Portugal. Deve ufanar-se pelo sucesso da Cimeira Web – mais de 50000 participantes de 170 dos 206 países e regiões do mundo) e uns milhares acrescentados de jornalistas estrangeiros.
O primeiro ministro António Costa abriu oficialmente a Web Summit
Vinha já ganhando substancial relevância o seu papel na multiplicação de incubadoras de empresas por todo o país, as Startups, fundamentais na progressão das microtecnologias neste Portugal. É um verdadeiro murro no estômago da gestão pequenina e medrosa, como quem rateia no papel higiénico, porquanto apela ao capital de risco e à ousadia do fazer. Um processo que tem o seu ponto alto na Web Summit ora em Lisboa.
É por demais importante o desenvolvimento tecnológico suscetível de gerar trabalho e capital, sem o ónus da morte súbita ou violenta para empregos tornados insustentáveis, mas onde existem milhões de vidas no planeta, e com o propósito de criar países mais saudáveis, com uma qualidade de vida otimizada.

Claro, a economia não pode crescer sobre o miserabilismo dos cidadãos menos abonados. Há que normalizar-lhe o ritmo. Mas é importante que cresça. Seguramente, esta Cimeira Web pode ser um dos estímulos para tal, suscitando o empenho e o arrojo na capitalização, inovação e modernização tecnológica. 
Henrique Pinto
7 de Novembro 2016
Volvo Ocean Race na Lisboa cosmopolita

sábado, 5 de novembro de 2016

PROCURA E ENCONTRARÁS

Tom Hanks
Há dias, semanas, meses ou anos vividos numa voragem, na insaciabilidade de Cronos. Isabel II chamou de annus horribilis o ano do divórcio dos seus filhos. Outras pessoas encontram tal estigma no ciclo das doenças intermináveis, mesmo se curáveis, nos desgostos de amor, na depressão. Todavia, não se olhe o turbilhão tão só pelo decurso negativo. O amor - pelos filhos, pelos cônjuges, por namorados ou namoradas, pela terra, o trabalho ou a pátria -, pode ter o mesmo ritmo gravitacional. Tem é um sabor diferente, igualmente fascinante.
Nos últimos dias uma série de coincidências em cadeia levou-me ao encontro improvável do esotérico e da espiritualidade. Não me esquivo. Fascina-me, inebria-me e quase me colhe. Mas o meu mundo não é deste reino. Fosse porque a Helena Madeira, diz-se alquimista, apresentou o seu livro de poesia focada no universo alquímico e seus mistérios, nos estudos herméticos, onde se fala das mil histórias de pessoas famosas na transmutação dos metais, cada uma na procura do seu Graal, da felicidade espiritual, através da meditação. E citou-me Flamel e a Pedra Filosofal, Paracelso, grão mestre templário, combatente dos princípios obscuros da medicina do seu tempo, Roger Bacon, filósofo, e o seu livro escrito no cárcere Tesouro Alquímico sobre os princípios da alquimia, Nostradamus, Newton e Cagliostro, alquimistas famosos.
Procura e encontrarás, de Jesús
Fosse porque o Facebook repassou sei lá quantas vezes o Monte de San Michel e as suas raízes esotéricas, firmadas nos mistérios templários, chegados até D. Diniz, fundador e grão mestre da Ordem de Cristo. 
E por este rio acima continuaram os acasos, quais conversas como as das paixões, por Delfos, de cujo oráculo se avista Corinto e o mar das oliveiras, estendido até ao mar, por Santiago de Compostela e quejandos lugares, belos e supostamente mágicos. Vários autores fixaram-se nas pirâmides do Egipto, na forma como as construíram, nas histórias ocultas dos faraós, na indestrutibilidade dos símbolos, os enigmas neles contidos, a sua extrapolação para a vida dos homens.
Alquimia
Agustina Bessa Luís, citada por Lemos da Costa, é muito assertiva e positiva a propósito da simbologia:
«O símbolo tornava inteligível a lógica do conjunto e o símbolo perdeu os seus efeitos, definitivamente. 
Mas existe, e existirá sempre, uma co-determinação comum; e portanto um projecto de linguagem que escapa às garantias da razão. O homem transcende o símbolo porque o símbolo era só um meio de pensar o mundo efectivo.  Assistimos, na actualidade, ao arrasar de todos os símbolos – da família, da moral, da pátria e do deus de santuário».
E eis meus meninos a levarem-me a ver Inferno, o último filme de Ron Howard, inspirado no livro Deuses e Demónios de Don Brown, uma peregrinação vertiginosa pelas profundezas ou na exuberância estética das faces visíveis, das cidades de Veneza, Florença e Istambul, três das minhas cidades favoritas Todo o simbólico do Inferno de Alessandro de Botticelli, por muitos autores considerado a ilustração do Inferno de Dante Alighieri (primeira parte da Divina Comédia), confunde-se com os dons da cura de males físicos (ou do juízo), segredos inscritos em lápides mortuárias, quadros e subterrâneos das catedrais e palácios daquelas cidades.
Alguém como eu, com as suas crenças moderadas, e uma inclinação científica para a progressiva materialidade do espírito, não deixa mesmo assim de se impressionar com esta vertigem mítica e mística de perscrutar o nunca visto e sempre procurado. Procura e encontrarás, escreveu Botticelli na sua pintura, acme deste filme. «Pede, e ser-te-á dado; Procura, e encontrarás; Bate, e abrir-se-á a porta para ti», prédica atribuída por Mateus a Jesus.
Henrique Pinto

05 de Novembro 2016
Quadro O Inferno, de Botticelli