terça-feira, 13 de outubro de 2015

Ó GAMEIRO, QUEM O MANDA TOCAR RABECA?

Numa edição recente do Expresso o meu colega José Gameiro, psiquiatra, extravasou as suas competências médicas, tombando, a meu ver, para o lado do grande exército dos que interferem negativamente nas recomendações dietéticas. A linguagem tipo copo de vinho e mariscada, que não comento, parece-me a menos recomendável para quem se julgue proactivo na educação em saúde. O rol de adversários da alimentação saudável estaria neutralizado se confinável a este episódio triste. Muita gente faz uns dinheirinhos pouco devotamente no vultuoso negócio alimentar, a começar nos média, passando por profissionais (mesmo se legalmente habilitados) e terminando nos charlatães de toda a índole. A falta de escrúpulos é assustadora.
Refiro hoje aqui apenas os suplementos vitamínicos e minerais (com a ênfase no cálcio) cuja publicitação tanto rende aos seus promotores. Alguns destes estão presentes de manhã à noite na rádio e canais televisivos, nomeadamente nos reality shows.
Em geral pode dizer-se bastar um regime alimentar saudável para se ingerirem todos os ingredientes desta natureza, com algumas exceções. Eis como exemplo resultados de algumas meta análises direcionadas a tal respeito.
É muito limitado o suporte científico no recomendar suplementos multivitamínicos (MVM) para obter resultados positivos em saúde.
Não há provas suficientes para recomendar ou não vitaminas A, C e E, ou combinados de antioxidantes, para prevenir doenças cardiovasculares ou o cancro, nem qualquer evidência de benefício ou dolo associados a suplementos de vitamina C.
Há crescentes provas para argumentar contra suplementos por vitamina E, dada a preocupação pelo aumento da mortalidade, e mesmo em doses inferiores a 400 UI, por possível incremento de AVC por hemorragia.
A quantidade de cálcio num suplemento MVM é bastante baixa (menos de 200 mg) para ter alguma importância fisiológica. Quando este for mesmo necessário o «doente» deve ser aconselhado a privilegiar ao máximo o cálcio da comida e só então recorrer a reforço para atingir 1 a 1,2 gramas por dia. Nos idosos com fraca exposição ao sol e/ou outros fatores de risco de aterosclerose pode ser recomendável um suplemento de vitamina D (importante no metabolismo do mineral) de cerca de 800 UI.
Apesar dos estudos não serem unânimes estabeleceu-se o consenso de prescrever suplementos com vitamina D (7-800 UI) na prevenção de quedas e fraturas insidiosas.
Entre a necessidade e o negócio o fosso é dramático.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica



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