quarta-feira, 4 de novembro de 2015

É SÓ FUMAÇA

Véronique Terrasse, porta-voz da Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC) - um órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS) a que não compete fazer doutrina de saúde -, lançou alarme desmesurado. Se os jornalistas a cobrirem a conferência de imprensa saíram altamente confundidos, o público em geral por todo o mundo ficou ainda mais confuso.
Dias depois a própria OMS procurou pôr água na fervura, a tranquilizar consumidores de carne vermelha e de carne processada e a própria indústria. Entre nós as corporações de carnes e da hotelaria, através de peritos qualificados (alguns bastante diferenciados), lograram transmitir bom senso e moderação através dos média. Quanto à Saúde pouco mais se ouviu além do Dr. Mário Durval, impreparado e desconhecedor, e de uma ou outra voz no Prós e Contras (RTP canal Um).
Véronique Terrasse
Estudos efetuados desde 2002 sugeriam que os pequenos aumentos no risco de vários tipos de cancro (mesmo se riscos pequenos para a saúde pública), podiam estar associados a um consumo muito elevado de carne vermelha ou processada. Foi pedido à Agência (que não faz investigação) para produzir prova (associação de causas, nunca de apreciação do risco) quanto à carcinogénese destas carnes. O Grupo de Monografias do IARC fez uma meta análise de 800 estudos epidemiológicos. Estes nem eram absolutos. E classificou o consumo de carne vermelha como provavelmente cancerígena para o ser humano, baseada na prova limitada (há associação positiva entre exposição ao agente e cancro mas não se pode afirmar não haver enviesamento nas conclusões), sobre o uso alimentar desta carne provocar cancro (principalmente o do colon e reto). A carne processada foi classificada por igual com base na prova suficiente para fazer tal associação cancerígena (apenas em 10 estudos). Aliás, todos os produtos sujeitos a altas temperaturas (até as sardinhas assadas) produzem químicos cancerígenos.
Francisco George, um dos melhores diretores gerais da saúde de sempre em Portugal
Sabe-se ser a carne, a alternar com o peixe (incluindo as sardinhas assadas), de elevado benefício para a saúde, ingerida com moderação nas doses medicamente prescritas. Fatores cancerígenos existem à volta de 400 na nossa dieta. Classificar (estabelecer a força da prova), como se fez, e apenas para a carne processada, não é estabelecer grau de risco. Mesmo assim não se pode equipar ao perigo do tabaco, amianto ou do álcool. De acordo com as estimativas mais recentes, cerca de 34.000 mortes/ano por cancro em todo o mundo são atribuídas a dietas muito ricas em carnes processadas. Aliás, estas nem constam num regime alimentar saudável dado serem fator de risco para as doenças cardiovasculares. Um dia não diz dias! Estes números contrastam com as mortes por cancro no mundo/ano devidas ao tabaco (um milhão), ao álcool (600.000) e à contaminação do ar (mais de 200000).
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica
Bolseiro OMS e Consultor internacional
In Jornal de Leiria
Novembro 2015


  

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