terça-feira, 22 de dezembro de 2015

DESVARIOS FESTIVOS

Foto Adéle
Fora em adolescente e jovem adulta a mais bela entre todas, aquela que jamais teria dificuldade em escolher um parceiro, tantos os galifões de toda a sorte a cirandarem à sua beira. Chegou a ser eleita misse. E logo casou.
Pessoa de rara inteligência, custa a crer como engordou tanto em poucos anos e ganhou um índice de massa corporal acima dos 30%, uma obesidade doentia. Os riscos de doença cardíaca aumentaram. Subiu-lhe a tensão arterial, eventualmente com raízes também familiares, até níveis perigosos. O descontrolo no que come excessiva e compulsivamente, para mais abusando dos hidratos de carbono de alto valor energético, atravessa um quadro de ansiedade, porventura nascido das tensões conjugais. A sexualidade bem fruída de início tornou-se-lhe coisa rara, o marido busca paragens de carnes menos flácidas e a sua autoestima quase se esvaiu num desvario de tranquilizantes por medicação e noites mal dormidas.
Foto Health and Fitness
É uma história real, circular – todos os fatores clínicos agudizam os restantes. Comer todas as iguarias natalícias que veja pela frente será a tendência natural nesta jovem, tal a dificuldade em controlar-se.
A ideia feita de haver épocas especiais de tolerância ao abuso é absurda. «É Natal, nada lhe faz mal, nesta altura não há dietas» é uma tontice. Imaginem-se as noites de sexta-feira em qualquer cidade alemã. A cerveja corre como a água nos rios em tempo invernoso. A embriaguez e o desacato invadem as ruas até ser dia. O grosso daquela gente não sorve uma gota de álcool durante a semana. Já as gentes do Mediterrânio são mais dadas ao consumo em excesso orgíaco de todos os fritos e doces da avozinha aquando das quadras festivas.
Moda elegante para mulheres menos magras
Ora, quase todos os regimes alimentares saudáveis se comprazem com um ligeiro desvio natalício. Um tal regime pressupõe já alguma disciplina que tolherá os abusos. Não será por comer a rabanada ou a filhó que se cai no excesso.
Mas há pessoas propensas a ler, ouvir e ver tudo quanto é a «melhor» forma de se manter longe da gordura, todo e qualquer chá ou mistura de ingredientes com o dom miraculoso de as fazerem perder peso, toda e qualquer droga que conduza à elegância, a miríade de dicas para se manter em forma. E em verdade existem todas estas opções avulsas por aí sem qualquer regulamentação para o seu controlo. Se até o Herbalife é anunciado na TV!
Uma destas devoradoras de informação tão prolixa entrou-me consultório adentro e sem cerimónias lá vai disto, «olhe, eu não acredito em nada que o senhor me diga, só cá venho por descargo de consciência, já experimentei tudo!». E levanta a saia com estudada sensualidade a pôr a nu a abastança de carnes que a deprime.
Henrique Pinto, Professor Doutor

Médico especialista graduado em Nutrição Clínica
In Diário de Leiria

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