domingo, 18 de março de 2012

A CULTURA QUE PODEMOS ESPERAR

Dei-me bem com todos os líderes políticos da cultura nos últimos 38 anos. Alguns não eram exímios na função e nem por isso tiveram muitas queixas. O secretário de Estado da cultura (SEC) Francisco José Viegas, como outros membros do governo, é um homem culto, interessantíssimo, e não é um liberal. No entanto a sua área nunca correu tantos riscos como hoje. Falo de cultura como o fenómeno civilizacional e de património, material e imaterial, em curso ou alimentado na tradição, que enriquece intelectualmente os cidadãos e eleva o espírito dos tempos. Nesse sentido, não são os vectores eminentemente culturais a determiná-la em absoluto. Investir num tal gradiente de elevação espiritual das comunidades nunca foi o destino dos cidadãos individuais, entregues a si próprios, nem de mecenas privados ou públicos isolados, desde a alta idade média. Mas é esse o dogma do neoliberalismo vigente. Daí advém a crise sem aparente saída da cultura e da educação. Quase todos os Estados do mundo têm companhias artísticas nacionais, e sustentam-nas. Faz sentido que o SEC apoie as suas orquestras regionais, mesmo se paga mais aos maiores devedores e menos aos que se superam em trabalho. Todavia, falhando a escola como tem sucedido, o cortar a esmo nos contratos com o associativismo (veículo cultural reconhecido), as autarquias perdendo a oportunidade mor de ganharem o sector, por endividadas, quando grassa a iliteracia, o desemprego e o pauperismo, que cultura esperar?
Henrique Pinto
In Região de Leiria
Março 2012
FOTOS: Francisco José Viegas; Henrique Pinto

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