quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

MÃOS AO AR, A PUBLICIDADE OU A VIDA


A propósito dos Suplementos Nutricionais para idosos
A maioria dos idosos toma Suplementos Nutricionais (SN) para prevenir possíveis deficiências, face à promoção exorbitante destes nutrientes. É vulgar os idosos tomarem uma dose diária de multivitamínicos (MVM). Todavia, a sustentação científica quanto à eficácia na saúde devida a estes suplementos é limitada.
Com a idade diminui a quantidade de comida ingerida. O consumo de vitaminas e minerais em idosos institucionalizados é por regra inadequado. E, em geral, entre os idosos, há excesso, desequilíbrio e desadequação no uso de SN não medicamente prescrita.
Mais mulheres que homens tomam MVM. São pessoas de maior educação, mais atividade física. São mais numerosos entre os idosos. Segundo o NHANES (a), 11,5% dos adultos consomem Vitamina E (≥ 400 UI). Sabe-se daí advirem efeitos potencialmente perigosos. No estudo PHS-II (b) há até AVC significativos.
Se um idoso escolher tomar suplementos MVM deve providenciar todos ou pelo menos a maior parte de vitaminas e minerais reconhecidos como essenciais em quantidades próximas das DRI (c). Os utilizadores de MVM devem ser aconselhados a evitar o «ir acrescentando» outras fontes de suplementação dos mesmos nutrientes, incluindo os doutros suplementos e comidas fortalecidas.
Não há provas suficientes para se recomendar ou não Vitaminas A, C e E, ou combinações de antioxidantes, para prevenir as Doenças cardiovasculares ou cancro. Há evidência de benefício destes na degenerescência da Mácula do olho relacionada com a idade e para o Selénio na prevenção do cancro. A suplementação por Vitamina C é absolutamente irrelevante.
Não se recomenda a suplementação por ß Caroteno (constituinte da cenoura), dado o risco acrescido de cancro do pulmão em fumadores e o aumento da mortalidade geral. Há evidência crescente para se argumentar contra suplementos de Vitamina E (especialmente a níveis ≥ 400 UI), dada a preocupação quanto ao aumento da mortalidade, e mesmo em dose menor, por possível aumento de AVC(s).
A quantidade de Cálcio num MVM deve ser bastante baixa (< 200 mg) para ser fisiologicamente importante. Quando é recomendável um suplemento de Cálcio, a pessoa deve ser aconselhada a rentabilizar o Cálcio da comida e só então recorrer a suplementação para elevar a quantidade absoluta de cálcio aos 1000-1200 mg/dia. Nos idosos com fraca exposição ao sol e/ou outros fatores de risco para a aterosclerose, é recomendável a Vitamina D em cerca de 800 UI.

Notas: a) National Health and Nutrition Examination Survey; b) PHS-II, Physicians Health Study; c) DRI, doses de comida referência do Food and Nutrition Board, EUA
Janeiro 2015
Henrique Pinto, médico
Consulta de Nutrição Clínica
 




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