sábado, 6 de novembro de 2010

O MEU GLOSÁRIO SOCIAL


Este suposto paradigma de desenvolvimento não faz parte do meu glosário ideológico, mental, físico.
Dada a improdutividade nacional a saída para uma hipotética salvação é, na óptica de quem governa e de quantos a tal aspiram, e mesmo de quantos sabem que, facialmente, nunca lá chegarão, a sala de pânico de Bobby Singer. Ao contrário das épocas alegadamente negras da história, cortam no alimento do espírito. O último conselho de ministros entendeu eliminar toda a articulação do Estado com os prestadores privados e associativos da música e da dança, quando nem há ensino básico público de qualquer destas vertentes. Será que vê assim aquilo que desastradamente se construiu e hoje se baptiza por parcerias público – privadas e disfarça as ligações espúrias na feitura de pontes, auto estradas, terminais de contentores, hospitais? Quem vinha escrevendo caminhos constitucionais a apontarem para um tal corte até deve sentir-se envergonhado. A democracia de Atenas, que muitos «de empurrão acrítico» tomam por lição, atingia apenas um sexto da população. E também envelheceu. Interessa que despontem e sejam ouvidos os que se propõem pugnar pela
revitalização da própria democracia ampla – legislação eleitoral mais representativa (o actual método serviu, mesmo que herdado da «democracia orgânica» salazarenta, mas hoje nada representa e tudo enviesa), justiça não assente em lóbis corporativos, que se digladiam e tudo emperram, leques salariais sem extremos acentuados, a desproporção no pagamento pelo trabalho é hoje imoral e quase intocável. Propugno um não rotundo a quantos se não mexem receando perderem a influência que imerecidamente detêm. Propugno o reconhecimento de quantos entendem que o exemplo construtivo é alimento social (não é nem o sorriso mentiroso nem a cara de pau a dizer «eu sim, serei melhor», e que o exercer digna e eficientemente cargos políticos não é passível de aprendizagem nas «madrassas» dos partidos. Porquanto é-o sim, e sobretudo, na experiência do trabalho. Mas temo que a iliteracia e a fome tão visíveis possam retardar por não sei quanto tempo uma democracia, formal e representativa, sim, mas mais do que isso, ampla, participativa, responsável.
Henrique Pinto
Novembro 2010
FOTOS: De tocqueville; Karl Popper; Habermas; Althusser; Foucault

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