segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A CAMINHO DE BELÉM

Lá foram mais doze passas antes de brotar o fogo, comprado aos chineses com o dinheiro pago à EDP, e uma taça de champanhe mal caiu a primeira lágrima incandescente. E depois…?
As preces e promessas misturadas nesse tal degustar raramente são cumpridas ou a sua concretização é preterida para um ato desesperado de coragem. Uma fatalidade a sobrepor-se em intensidade à prática dos políticos, agora a caminho de Belém, finda a sua campanha.
Muitas razões explicam a nossa incongruência. Em primeiro lugar está um pedaço da cultura tradicional. Busca-se com mais fé a pilula, o chá, a mistela, a publicidade enganosa, o consuetudinário farmacológico, as empresas de curas milagrosas, que o conselho e a experiência de quem é profissionalmente reconhecido para dizer como é.
Empresas como a Nutribalance, a Leve, a PronoKal, a Herbalife, entre outras, atuam no nosso país sem quaisquer baias por parte da Saúde, com uma máquina promocional muito oleada. Promete-se o «emagrecer» miraculoso num mês ou em tantas semanas como se tal fosse uma virtude. Tem os seus efeitos, é verdade, mas melhor será para os usufrutuários não deitarem fora a roupa larga ontem abandonada.
Mas há o lado positivo dos Solstícios e dos ritos de viragem do ano. A nossa mente é suficientemente poderosa para minorar a força dos impulsos, do improviso, do desregulamento. Nestes instantes do renascer cósmico, ou depois dos excessos, pode tornar-se motivador mudar de hábitos. É uma aventura fruto da consciência, da vontade, e tão perene quanto a força da nossa convicção, do caráter ou da própria motivação.
Os farmacêuticos sabem bem ser um desperdício, podendo mesmo dizer-se lixo, a generalidade dos produtos expostos nos seus estabelecimentos, destinados a «emagrecer». Os nutricionistas graduados – bem como outros profissionais licenciados - saberão, mau grado grassar um enorme desemprego, estarem a enveredar por más práticas quando associados à venda de tais produtos. Sabê-lo-ão também se ao serviço de ginásios recomendarem as «bombas» ali vendidas, ou seja, litros de suplementos de toda a ordem, de elevado teor proteico, admitidos quando muito no mundo da alta competição, e ainda assim com reservas. A consciência dir-lhes-á pelo menos duas coisas: o exercício físico regrado é essencial à qualidade de vida, mormente para um regime de alimentação saudável, mas nunca usando tais produtos; a mortalidade por problemas cardíacos associada a tais revigorantes, é considerável.
Sendo assim, é de aproveitar a motivação de estar a desabrochar um novo ano para darmos início a uma vida alimentar mais consentânea com o viver mais e melhor.
Por outro lado o país tem agora um ministro da saúde especialista de saúde pública. Dele se espera possa vir a regulamentação para o setor da alimentação saudável bem como a promulgação de exemplos de boas práticas.  
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria 2016

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