sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A HISTÓRIA DUMA PAIXÃO

O meu próximo livro, o décimo, sairá talvez a meio de Fevereiro. Está feito há algum tempo a sofrer o efeito gaveta. Uma fase onde em tudo vemos necessidade de corrigir. Isto passa, pá! E o título, mantém-se? É uma dúvida a persistir por mais uns dias. Temos tempo…
Este livro é um Estudo de Caso em torno da cultura, em torno dos tempos. Mas é uma história que envolve milhares de personagens, uns com nome sólido, outros que jamais o terão. É acima de tudo um testemunho, uma pesquisa sociológica, uma explicação para três décadas de paixão lúcida, com Leiria por cenário. Bem podia ter sido um livro deste Natal… 
Ora neste Natal pelo meu Cascais menino cogitei deveras no que fazer acerca deste escrito a dar à estampa. E decidi-me! Quem sabe se por sortilégio da época!? O meu bom amigo Carlos Vitorino deu também o seu empurrãozinho!
Já o amigo Nazário parece preocupado, no jornal que dirige, com o facto de o Natal ser hoje «pagão e ícone do consumo». Tudo me faz discordar da sua inquietação. A melhor herança da simbologia natalícia cristã e a sua força imensa residem exactamente no facto de o mundo se ter apropriado do que ela tem de melhor, o espírito solidário e familiar. Quanto ao consumismo, bem, estava eu a debutar no liceu e o planeta tinha menos de metade dos habitantes de hoje, com uma qualidade de vida a milhas de distância do ora considerado ícone.
Ouvia noutro dia discurso num jantar de Natal, um companheiro de Rotary cuja admissão sugeri e apadrinhei estava de orador de serviço, e não me reconheci em nenhuma das ideias por ele adiantadas, tanto no respeitante a Rotary como quanto ao espírito do presente. E é um homem dito «da cultura»! Aliás, sou Rotário exactamente por razões opostas às por ele aduzidas, tenho a solidariedade e o serviço como consigna, há lugares aos centos para outro tipo de vivências, orgulho-me de saber este sentir de singularidade, tal como o do Natal, partilhado pelo actual presidente, Sakuji Tanaka, meu amigo há mais duma década. E no entanto admito abertamente nada ter a opor a esta coexistência de contrários.
Também o meu colega José Gameiro, entrevistado pelo Expresso a propósito da quadra, diz das famílias, «fazem tréguas como se fosse numa guerra». Ó meu caro, se assim fosse já não era mau! Os tempos mudaram, meu! Sem dúvida, têm hoje maior assento modelos familiares impensáveis há umas décadas em termos de popularidade, mesmo em países de longa tradição democrática. O divórcio e a união de facto, liberalizados, criaram uma rede mais extensa de membros das famílias. Contudo, só existirá um inferno onde porventura já o seria noutros contextos. Conheço tanta gente a não fazer disto um problema, sobrepondo-se a tal o espírito de aproximação ao outro. Não hipertrofiemos os extremos, colega, todos os dias vemos cães a correrem na autoestrada e seniores sem uma visita no hospital por esta altura, uns e outros abandonados! E o tirano sírio, médico, tirou oftalmologia por não poder ver sangue!
Henrique Pinto
Dezembro 2012
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário