domingo, 8 de março de 2015

«PECADOR, SIM, CORRUPTO NÃO!»

O livrinho «Corrupção e Pecado», repositório de textos de Jorge Bergoglio, cardeal de Buenos Aires, hoje Papa Francisco, agora editado pela Gradiva, foi agora apresentado em Leiria, na Arquivo, pelo editor, o meu bom amigo Guilherme Valente, e pelo Dr. Paulo Morais, que também escreveu uma nota introdutória para a Obra. Paulo Morais foi vice-presidente da câmara do Porto, deputado à Assembleia da República, e será com toda a certeza candidato à Presidência da República nas próximas eleições. Desde muito novo tem-se dedicado a estudar e denunciar o fenómeno corrupção.
Escreveu aqui Paulo Morais:
«Há várias leituras sobre a corrupção. Mas qualquer delas que se funde no valor da pessoa humana e da justiça não pode deixar de ver neste fenómeno uma dolorosa ferida das sociedades contemporâneas. A leitura de Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, é, portanto, a de uma condenação sem tréguas deste problema que radica na doença do coração de quem se deixou corromper.
Não há margem para dúvidas, a corrupção é uma chaga profunda que afeta todos. Que, na leitura do Papa, afasta de Deus aquele que se deixou corromper. Mas não se trata dum afastamento temporário, como acontece na conceção bíblica do pecado, afastamento que se extingue quando o pecador se arrepende. É que o corrupto perdeu a capacidade de se arrepender, porque esta implica a existência duma estrutura interna capaz de se autoavaliar e o coração do corrupto está completamente tomado pelo desejo do tumor que o aprisiona. Por isso, segundo defende, «o pecado perdoa-se; a corrupção, não».
Assim, pode o corrupto não a perceber, reconhece Jorge Bergoglio, mas nem por isso ela é menos perniciosa. Daí a importância da denúncia. Têm de ser outros a dizer ao autor da corrupção a sua falha e o seu pecado. Nas sociedades atuais a denúncia não é fácil. A justiça não está preparada para proteger quem denuncia, a comunidade não adquiriu ainda sensibilidade social para o problema, ainda não assimilou que «a corrupção cheira a podre» (p. 29). Na falta de censura social à corrupção e na ausência de mecanismos de proteção, falar de corrupção nem sempre é bem aceite.
Daqui surge a importância deste livro. A crítica ao corrupto, mais do que um direito que assiste a qualquer cidadão implicado no livre e justo direito das sociedades, é agora, pelas palavras de Jorge Bergoglio, uma necessidade, uma obrigação. Que cabe a todos. Denunciar, apoiar quem denuncia, proteger quem tem capacidade para apontar o dedo ao problema é o único caminho que pode levar as sociedades ao bom governo que promove o desenvolvimento».
Junho 2014

Paulo Morais
Fotos L

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