terça-feira, 10 de janeiro de 2012

SOBRE O PRAZER ESTÉTICO NA MÚSÍCA

Música, canções e dança, são partes integrantes da vida humana. Quase todos os seres humanos (e talvez até alguns animais) têm preferências musicais particulares e procuram activamente por actividades musicais pelo seu poder de Induzirem experiências aprazíveis e compensadoras (Sachs, O. 2006).
As actividades musicais representam frequentemente (embora nem sempre) experiências estéticas, no sentido em que envolvem a avaliação dum evento musical de acordo com um valor positivo ou negativo (como a beleza, a harmonia, a elegância), comummente associada com uma emoção prazenteira ou não prazenteira (Leder et al 2004; Jacobsen, T. 2004/2006).
Como uma vez descrito por Oliver Sachs: «Todos nós tivemos a experiência de sermos transportados pela beleza diáfana da música, subitamente encontrando-nos nós próprios em lágrimas, sem sabermos se elas são de alegria ou tristeza, tendo a súbita percepção do sublime, ou uma grande tranquilidade dentro dela. Não sei como caracterizar estas emoções transcendentes, mas elas podem ainda ser evocadas, tanto quanto posso julgar, até nos doentes dementes profundos (e às vezes agitados ou atormentados» (Sachs, O. 2006). As frequentemente intensas respostas estéticas agradáveis à música reflectem-se nos sistemas nervosos central e autónomo dos ouvintes e podem então ser objectivamente medidas com o polígrafo, o electroencefalograma (EEG), tomografia de emissão de posição (TEP) ou imagens de ressonância magnética funcional (RMF). Contudo, sendo inegável a capacidade da música para mover e alavancar experiências afectivas, é menos compreendido o porquê de o fazer.
A evidência de suporte veio do achado em que a música diminui os níveis hormonais de stress sistémico e a indicação de medicamentos sedativos em doentes em estado crítico (Conrad et al, 2007).
Antes de se partir para uma revisão das várias propostas sobre as origens evolucionistas das experiências estéticas da música, quer-se fazer um curto delinear da noção de experiência estética.
Dum ponto de vista psicológico, a experiência estética ou apreciação é constituída por processos receptivos rápidos (e parcialmente inconscientes). Isto é, envolvendo os órgãos sensoriais e domínios gerais centrais e processos modais cruzados, isto é, baseados em representações mentais (dentro do córtex cerebral, independentemente de e à parte da contribuição dos órgãos cerebrais (Smith, C. 2005; Höfel, L. & Jacobsen, T. 2007). Entre os processos centrais, particularmente relevantes para a experiência estética estão o julgamento, contemplação, atenção, memória, referidos à avaliação subjectiva e auto-referencial duma entidade sensorial respeitante a conceitos como beleza, harmonia e elegância (Jacobsen, T. 2006; Jacobsen, T. et al, 2006).
Os seres humanos apreciam e avaliam esteticamente uma longa série de entidades musicais (Cross, I. 2003): lembrem-se os estados de transe de ouvir e dançar música tecno ou a concentração silenciosa durante um concerto de música clássica contemporânea ou o ritual de danças de ritmos complexos de tribos africanas (Brattico, E. et al, 2009).

O conceito das emoções descritas neste estudo é, na opinião do cientista António Damásio, médico neurologista, mais sobreponível aqui com os sentimentos. Diz ele que «as emoções e as várias reacções que as constituem fazem parte dos mecanismos básicos da regulação da vida. Os sentimentos também contribuem para a regulação da vida mas a um nível mais alto. As emoções e as reacções com ela relacionadas parecem preceder os sentimentos na história da vida e constituir o alicerce dos sentimentos. Os sentimentos, por outro lado, constituem o pano de fundo da mente» (Damásio, A. 2003).
Henrique Pinto
Outubro 2011
FOTOS: Henrique Pinto com Jordi Savall; Big Band Leiria; Barbara Friedhoff; Susana Milena; Glória, de António Vivaldi; André Ferreira; Miguel Sobral Cid e Henrique Pinto

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