segunda-feira, 23 de junho de 2014

O PAÍS QUE AÍ VEM

Caros Amigos: 
Talvez para colocarem a ilustração,  omitiram a parte final do ponto 2. do meu artigo no Expresso de hoje (imperdível, claro...),  ficando assim sem perceber qual é a «outra manifestação  assustadora». 
Envio o texto completo, gostaria que o lessem. Se não o que ficarão a pensar da minha cabeça?... 
1. O flagelo do «partido»  único das «ciências» da educação que domina o ensino  praticamente desde o 25 de Abril, não vitimou apenas os alunos, enganando-os sobre  a função da escola e a vida,   embotando inteligências e vontades. Atingiu também os professores,  instrumentos e vítimas,  bode expiatório  dos resultados escolares anos e anos  a piorar. E  contagiou  os pais, frequentemente barreira  à mudança na educação. Uma  manifestação expressiva  da situação a que esse  flagelo, facilitista e infantilizador, conduziu  é  a   choradeira de muitas  mães por causa do suposto   stress dos meninos com os  exames. Exames de caca, registe-se. 
Muito pelo contrário, o que tem faltado é um  mínimo de  exigência, de exames a valer. Exames que no estado a que o ensino chegou são instrumento incontornável de regulação e construção da escola, que é natural e desejável  induzirem nos alunos e nos professores empenho e preocupação, e mesmo um saudável stress. Professores que  é urgente libertar, isso sim, de um outro stress, esse bem nocivo, o da burocracia cretina com que foram sendo asfixiados. Burocracia que este Ministro ainda não... implodiu.
E o regime de exames imperativo na nossa escola é, evidentemente, diferente do praticado nas escolas  responsabilizadoras  de sociedades como o Japão, Finlândia ou Macau, com professores  formados a sério e motivados e famílias com outras características culturais. É esta evidência que o especialista da OCDE que recentemente se referiu aos exames em Portugal devia perceber, não esquecendo a sábia asserção de Marx quanto à necessidade da analise concreta da situação concreta. São generalizações  dessas que contribuem para
 perpetuar as desigualdades entre os países, impondo aos mais atrasados um queimar de etapas que só agrava a situação de partida. O que se passou na educação em Portugal é prova disso.  Só depois das mudanças introduzidas  por Justino e reforçadas por Sócrates se terá manifestado progresso nos resultados dos alunos portugueses  nas provas comparativas internacionais. Progressos verificados  só depois dessas mudanças, num dos testes  com alunos apenas com quatro anos de escolaridade. Depois de em todos os anos anteriores os resultados terem sempre piorado. Bastaram, aliás,  uns examezinhos para se perceber que os resultados estão a  melhorar. Por isso  a agitação  da FENPROF, das associações de professores de Matemática e de Português, de associações de pais, que pais? 
2. Mas há  outra manifestação  assustadora dessa mundivisão  pós-moderna (com que a nossa velha cultura tão bem se dá) de que a educação que temos tido  foi ponta de lança e modelo. Manifestação  que os média tem reportado com silêncio crítico, como se não se tratasse da obscenidade que na verdade é. Situação  de que a exigência e os  exames,  se persistissem,  seriam  factor de cura.
Alguns títulos do Expresso:
"Em 2013, pelo menos 5 mil crianças e jovens tiveram pela primeira vez acompanhamento por depressão. Consultas subiram 30%"; "Mil embalagens de antidepressivos e ansiolíticos receitados no ano passado a adolescentes entre os 12 e os 19 anos"; "Bebés também ficam deprimidos. Na Estefânia foram atendidos 20 em 2013"; "É urgente aumentar camas de internamento".
Para quê as campanhas do Dr. Francisco George? Prevenção da toxicodependência, para quê? Não está, afinal,  em curso uma  sementeira para o consumo de todas as drogas? 
Nos anos que aí vêm que  País irá ser o nosso?
Guilherme Valente
Editor Gradiva
Junho 2014
PS. Estou de acordo, na generalidade, com o dito aqui pelo meu amigo Guilherme Valente, conhecedor profundo dos temas de ensino. Mas tenho de lhe lembrar, até porque não preciso de bajular nenhuma das pessoas que vou referir, que o Dr. Francisco George (que me sucedeu em Brazaville na Organização Mundial de Saúde), é um qualificado homem de ciência, e, seguramente o melhor Diretor Geral de Saúde em Portugal desde sempre, de par com o mui saudoso amigo Professor Arnaldo Sampaio (pai do Dr. Jorge Sampaio), e nada tem a ver com esse tipo de «campanhas» que refere como noticiadas pelo Expresso (também o leio desde o primeiro número)
Henrique Pinto

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