quarta-feira, 11 de junho de 2014

QUEM TUDO SABE E PARA NADA PRESTA

Apreciei uns bons milhares de currículos e pessoas. A dada altura tinha mesmo o título de mais médicos ter avaliado neste país. Mas não me fiquei por aí. Fui júri de tudo. Nunca, face a mil contestações, qualquer concurso foi anulado ou suspenso por as entidades de recurso não terem por credíveis as razões dos contestantes. Em determinado júri preferi, num único caso, não o liderar. A minha opinião íntima era que aquele currículo de pouco valeria dada a imensidão de pedidos (ou «cunhas») que me foram dirigidos, instrumentalizando toda a gente da minha «entourage». Pois bem, os restantes membros do grupo avaliador entenderam torcer por tal candidatura. Fez-se a admissão. O novel profissional só tinha ideias quanto ao que não lhe era exigido fazer. Em tudo o resto dava-se-lhe um apagão prolongado. Duas horas depois de advertida para tal inadequação a pessoa pôs-se ao fresco com a desculpa mais esfarrapada. 
Vejamos o caso dum artista. Eu considero o bom verdadeiro artista aquele que o e ao mesmo tempo prima por ser um bom carater, um humanista. E no entanto Furtwangler dirigia bem! Veio-me à lembrança um outro sujeito que a todos parecia tão bom, tão sabedor, imprescindível por excelência, sem ele nada feito… E no entanto tudo ia secando a seu lado. Se achava algum investimento da empresa suscitável, a seu ver, claro, de eventualmente pôr em causa o seu ordenado a horas, boicotava-o discretamente. Não criava ambiente saudável a não ser com um ou outro mau feitio. Chegou-se enfim a uma dolorosa conclusão sobre tão «imprescindível» colaborador: era desleal para com os seus patrões; usurpava com dolo funções fora da sua competência; punha em risco o futuro da empresa.
Pois bem, hoje em novas funções sabe-se ser o «mais que tudo» do seu patronato, a quem tem «na mão». É de fato o conhecedor que aconselha, informa, dirige.

Junho 2014 
Henrique Pinto

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