sábado, 19 de setembro de 2009

ASSOCIATIVISMO, UMA QUESTÃO DE CIDADANIA (4)


O novo associativismo

Há quase dois séculos o filósofo Tocqueville proclamou em Democracy in América «o sucesso da democracia norte americana» como «o melhor fruto da sua exuberante vida associativa, responsável quer pelo cimento social quer pela prática de uma peculiar concepção de auto governo».
Em 2000, Robert Putnam, seu considerado discípulo, dizia da democracia norte-americana «esmorecer precisamente em virtude do refluxo generalizado das associações».
Também Avritzer, três anos antes, contrariara a suposta «benignidade política» e carácter «despolitizante» da actividade do novo associativismo, tida como de «pluralidade temática» e «heterogeneidade de actores».
A expectativa é que à suposta evaporação do discurso político no associativismo de qualquer espécie, este possa opor-se pelo reduzir das desigualdades políticas, quer minorando a opacidade dos processos de decisão típicos da «sociedade política», quer pela compressão das desigualdades sociais.
Na minha experiência associativa nunca abdiquei do discurso político e sempre expurguei o carácter decisório com base na prevalência de critérios do associativismo estritamente político.
E não há qualquer contradição. O associativismo é combinável com uma base social heterogénea, transversal. O novo associativismo, exactamente por isso, concilia o discurso político pelo relacionamento público transversal e pela autonomia, resultante da pluralidade e da independência económica e política face ao Estado. E por se constituir, eminentemente, como modelo formativo de cidadania.
Curiosamente, em Portugal o Estado tem recrutado muitos dos seus quadros políticos exactamente no associativismo forte e independente. Que, infelizmente, está hoje longe de ser a regra. E aí, talvez, resida o maior dos seus problemas.

Henrique Pinto

Setembro 09

Adaptação de Palestra promovida pelo Rotary Club Marinha Grande na Biblioteca Popular de Vieira de Leiria, 2007

FOTO: Retrato de Alexis de Tocqueville (1805-59)

Sem comentários:

Enviar um comentário