quarta-feira, 16 de setembro de 2009

SE NÃO FICAR DE FORA


A cidade vai ficando mais bonita com os cuidados que para tal têm sido usados. A quem fizer o novo percurso do rio Lis, por exemplo, tolda-se-lhe a vista com tanto concidadão desconhecido fruindo-o gulosamente.
Foi agora ao mostrar a uns amigos os parques de Chicago – a única cidade americana em que os habitantes não são maioritariamente os disformes da fast food e onde há dois anos corri uma pequena maratona especial, com dezenas de milhar de pessoas comuns –, que me entristeceu pensar no tempo e nas energias que um certo passado desperdiçou por aqui.
Se atentarmos no quão difícil é recuperar desse marasmo não distante e na facilidade com que certa gente que se proclama política, por vezes em universos diferentes, nele voltaria a cair, orgulhosa, compreende-se a depressão e o alheamento de muitos quando confrontados com o espírito de serviço público.
A ideia agora avançada pelo autarca Telmo Faria e que eu já ouvira há algum tempo ao presidente António Lucas – o que é um bom augúrio – é igualmente um sopro de futuro. A intenção é aproveitarem a bênção dos monumentos Maravilhas de Portugal – são quatro nesta área – para potenciar um projecto turístico comum e efectivo no curto prazo.
Quase receio que me comparem ao grande escriba que diz ter sido o bardo activo em todas as situações mais críticas. Porque eu a acho uma excelente iniciativa e só tenho pena se Leiria ficar fora dela. Isabel Damasceno está, seguramente, bem atenta.
Muitos obstáculos se interporão entretanto.
Todavia, se o egoísmo e a inveja a não minarem – como aconteceu há anos a um projecto semelhante do NERLEI –, sob o manto diáfano do suposto interesse dos portugueses – veja-se a dignificante disputa Ota/Alcochete –, esta ideia é facilmente exequível. E tanto mais se houver siso e consenso no estabelecer de parcerias sérias entre áreas do sector privado e os organismos públicos.
Congregar o esforço interessado de algumas agências de turismo, de meia dúzia de hotéis, restaurantes e entidades transportadoras escolhidas a dedo, caldeando-o com inteligência, é meio caminho andado. Uma oferta cultural e de lazer diversificada com sábia promoção integrada fazem a outra metade.
Quem passe alguns dias em Maiorca – digo-o há anos – e entender aquela soberana capacidade de articulação, haja sol ou chova a cântaros, tem a prova inequívoca de que o sucesso deste empreendimento pode ser pleno. É bom só de panzer.

Henrique Pinto

In Diário de Leiria, 2009

FOTO: Isabel Damasceno, presidente de Leiria

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