sábado, 19 de setembro de 2009

ASSOCIATIVISMO, UMA QUESTÃO DE CIDADANIA (3)


O individualismo, novo apocalipse

Ainda que a mudança dos tempos tenha arrastado comportamentos individuais e de grupo, que, sendo fortemente disseminados, não têm a importância expressiva que os média, estreitamente filtrados ao nível do planeta (não esqueçamos que 90% das notícias mundialmente distribuídas emanam dum leque muito restrito de agências internacionais), mascaram. O mundo dos homens não estando bem também não está à beira da condenação. Refiro-me ao individualismo como o novo apocalipse. De facto raramente nos damos conta das ondas de solidariedade no mundo. Os 20 milhões de voluntários motivados por Rotary International nos últimos anos, por exemplo, são um bom augúrio. A importância do associativismo para o microcrédito como um vector relevante na redução da pobreza também não é despicienda.
O associativismo de opinião e de causas, o do abaixo-assinado, mobiliza hoje milhares de pessoas, surtindo efeitos massivos sem um grande envolvimento pessoal. Para alguns, esta forma de intervir rouba espaço ao associativismo tradicional. Para outros é um incentivo a constituírem-se como melhores formadores
Mas também emerge da nova literatura algum constrangimento ao associativismo, nomeadamente o das relações antigas e íntimas entre apatia política e desigualdades sociais e económicas, a questionar o automatismo de relação entre associativismo e mobilização democrática.
Para a pensadora brasileira Célia Lessa «não parece claro que a intensificação da vida associativa conduza a uma redução das desigualdades sobre as quais se plasma». E acentua, «inversamente, se a redução de desigualdades sociais contribui para melhorar o equilíbrio associativo, este mais se aproxima de uma comunidade que legitimamente se auto governa, possibilitando, inclusive, a exploração de interacções virtuosas entre o sistema político e modalidades mais directas de participação».

(Continua abaixo, em 4)
Henrique Pinto

Setembro 09

Adaptação de Palestra promovida pelo Rotary Club Marinha Grande na Biblioteca Popular de Vieira de Leiria, 2007

FOTO: Ann M. Vereman, directora executiva do UNICEF, um mar de gente solidária, mundo fora

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