É conhecida a história de generais africanos, chegadas as tréguas, deslocando-se em helicóptero a dividirem as terras entre si, com os embondeiros a balizarem o mapa da rapina. Houve quem estranhasse a exaltação de Bob Geldorf em Lisboa quando ele já denunciara com veemência no
Parlamento Europeu o drama do povo Somali, faminto, a correr para os sacos de farinha lançados dos aviões e travado pelas balas do exército oficial, que os usurpou.
Há fé nas iniciativas transnacionais que nos emocionam em nome da diferença. O alargamento da
União Europeia suscitou um incremento de contactos entre culturas, religiões, grupos étnicos e línguas.
Na resposta á necessidade de diálogo mais profundo e estruturado entre culturas, a envolver a sociedade civil, o diálogo intercultural tornou-se uma prioridade visível para durar. O ano de 2008 foi declarado
do Diálogo Multicultural na UE e Junho foi o mês evocativo do desafio. Trazê-lo em contínuo para a linha da frente é oportunidade de contribuir para a criação duma sociedade dinâmica na diversidade, não apenas na Europa mas também no mundo.
O objectivo das políticas multiculturais é proteger a liberdade cultural e expandir as escolhas das pessoas – nas formas em que vivem e se identificam – e não penalizá-las por essas escolhas.
Os princípios para o multiculturalismo no mundo global são duma imensa abrangência. Dentre eles, a diversidade prospera na interdependência quando as pessoas têm identidades múltiplas e complementares e pertencem, não só a uma comunidade local e a um país, mas também à Humanidade em geral. Enfrentar os desequilíbrios do poder político e económico ajuda a prevenir ameaças às culturas de comunidades mais pobres e mais fracas.
Uma política Europeia ancorada nos princípios da sociedade civil, no multiculturalismo e na democracia – bandeira ao vento dos direitos humanos fundamentais e da liberdade –, é uma janela aberta a lembrar que a iliteracia e o analfabetismo (8 de Setembro, o Dia Mundial da sua evocação), em todas as idades, estão na raiz da pobreza no mundo e são o principal obstáculo ao ganho dum salário. Mais de 130 milhões de crianças em idade escolar não frequentam aulas. Não bastava já um quinto da Humanidade não ter acesso a água potável e um terço ignorar o que é saneamento adequado! Os Portugueses levaram séculos a transportar especiarias, plantas e sabores de um continente a outro, e, por igual, escravos e emigrantes. A despeito da crueldade e do contexto transformaram a cultura e a população do mundo. Dos quinze milhões de cidadãos de origem portuguesa um terço vive emigrado, disseminado no planeta. No final do século XX Portugal virou também país de imigrantes. Cidadãos de nacionalidades diversas constituem já 4,2% da população residente. Portugal, país Europeu multicultural, o mais pacífico, não deveria ter-se limitado a fazer tão pouco na efeméride, pelo menos uma festa.
HpintoIn Diário de Leiria (adaptado)
Setembro 09
FOTO: Durão Barroso, presidente da União Europeia
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