quarta-feira, 9 de setembro de 2009

TUDO A NÚ EM HORA E MEIA


«Era melhor que qualquer coisa que eu já tivesse recebido! Ali estava ele, pouco passava dos trinta, nunca tinha sido jogador nem tão pouco um treinador de destaque, a entregar-me os melhores relatórios que eu alguma vez recebera». São palavras de Boby Robson sobre Mourinho, citadas num excelente livro de economia, «O gestor de 90 minutos», de Bolchover e Brady. Nunca foi além de modesto jogador do Sesimbra. É hoje um dos melhores treinadores do mundo. A sua história quase se decalca da de outros líderes de eleição como Arséne Wenger, Arrigo Sacchi ou Alex Fergusson.
O futuro está no conhecimento. As empresas que o detenham serão cenáculos de iguais. E o papel cada vez mais exigido aos gestores modernos é precisamente o mesmo de sempre dos melhores treinadores de futebol.
Aqui o futebol não é apenas uma metáfora para a indústria do conhecimento. É um modelo. Se fosse um desporto eminentemente norte-americano ou não tivesse estado por longo tempo tão próximo das classes trabalhadoras, seria há muito o modelo de gestão dominante, a da independência, pedra angular das modernas organizações ricas em informação.
Uma orquestra, com os seus músicos todos diferentes, muito qualificados, com um mesmo objectivo, desenhava uma metáfora compreensível para as organizações orientadas pelo processo (o modo de fazer). Para Druckner a orquestra era um grupo de trabalhadores do conhecimento, especialistas de topo de gama, sob a liderança expressa do maestro carismático.
Todavia, a não fluidez de papéis – o primeiro violino jamais substitui a percussão – inviabiliza-a como metáfora para a gestão moderna. A principal razão do seu êxito foi a atracção suscitada nas classes médias que, por tradição, dominaram os círculos empresariais e académicos.
Em contraste com a estrutura funcionalista da orquestra, a gestão de empresas tem caminhado no sentido de se criarem organizações mais horizontais, recebendo membros com múltiplas funções, francamente qualificados, aptos a cumprirem a tarefa de companheiros destacados para tarefas mais prementes.
Como no mundo dos negócios os treinadores das mais importantes Ligas de futebol têm uma equipa idónea de gestão a trabalhar com eles. Pelo que o seu trabalho é conceber o padrão de jogo (o processo) e coordenar os jogadores de modo a imporem esse padrão.
Os treinadores, tal como os CEO(s) das corporações major, dão o tom, incutem valores e criam a cultura. Não se isolam no seu ar condicionado sem contacto próximo com todos os níveis do pessoal.
No futebol os treinadores são avaliados somente pelo desempenho da equipa. Ninguém valoriza o processo, só os resultados. Toda a equipa técnica é julgada em cada semana pelo que aconteceu durante o jogo. Decisões da maior relevância são tomadas aos olhos do mundo. A avaliação imediata e a visibilidade do processo de gestão tornam o futebol das competições exigentes um modelo gestionário por excelência.

Hpinto

In Diário de Leiria, 2009

FOTO: José Mourinho

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