segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O EMBUSTE DA IMPOTÊNCIA SEXUAL


Há sempre quem se inspire em textos antigos e diga terem uma actualidade impressionante. Quase sempre é verdade. Os arquétipos mentais do homem pouco se terão alterado com os séculos, desde a aparição das primeiras cidades sumérias, dos primórdios da democracia e das grandes religiões. Há uma constância intemporal de elementos, a lembrar a imunidade ao tempo da espiral do ADN. As formas de viver em sociedade, contextualizadas, têm também sinais infindáveis comuns.
Todavia, desde o iluminismo as técnicas de transmitir ideias e imagens, positivas e negativas, ganharam dimensão. O século XX foi pródigo na utilização do conhecimento científico com lucros nunca imaginados no desenvolvimento tecnológico, como a expansão económica desde o século XV normalizou o mundo, no bom e no imprestável, tornando a comunicação universal. Mas tal como a colonização trouxe outros medos e fantasmas.
Tive longas dissertações sobre os sinais dos tempos na cidade de Harare. A capital do Zimbabué é das mais importantes representações da arquitectura europeia em África, hotéis moderníssimos, parques e museus temáticos importantes, o Golf Club, o comércio da 5ª avenida, prédios altos e ruas de trânsito intenso. Todavia, basta um pestanejar e estamos face à degradação, criminalidade e miséria, agravadas com a política segregacionista do ditador Robert Mugabe.
Ao meu colega Musonza, um tanto vaidoso, o ego sobrepondo-se ao colectivo, nem o sumptuoso cinco estrelas Meikles Hotel é do seu pleno agrado. Todavia ajudou-me a compreender a diminuição da virilidade natural do homem africano, património milenar. Sabe-se que a disfunção eréctil é de origem psicossomática em mais de 70% das situações no homem europeu e americano. Três grandes categorias nosológicas dominam os casos remanescentes – a hipertrofia da próstata, a hipertensão arterial e a colesterolémia alta –, por maior que seja a tendência clínica para encontrar relevância causal noutras patologias.
Uma herança cultural eminentemente judaico-cristã, centrada na culpa e na repressão da sexualidade, é responsável pelos receios e crenças que integram o acervo mental, reprodutível, tormento de boa parte dos homens. A colonização religiosa crescente, a má qualidade de vida, os hábitos alimentares do novo e velho mundo e indústria e contrabando de medicamentos, introduziram em África a visão opaca da impotência masculina, com os desequilíbrios mentais inerentes. Ora a sexualidade plena dos homens mais velhos, em qualquer parte, face à sensualidade feminina e á maior exposição mediática dos sex symbols femininos e masculinos, recuperada dessas vivências africanas de antanho, é hoje um ganho civilizacional.

Henrique Pinto

In Diário de Leiria 2009

FOTO: a grande actriz portuguesa Soraya Chaves é cada vez mais vista como um ex libris da sensualidade feminina

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