Em muitas ocasiões perorei sobre o baixo grau de literacia da população europeia e norte-americana. Mas tal é-me ainda insuficiente para bem compreender como se elegem pessoas tipo
Berlusconi ou
Sara Palin. Até me escapam as razões da escolha de
Ferreira Leite para liderar um partido ou, eventualmente, o país.
Às vezes lemos o
Expresso enfastiados, por hábito, noutras por esperança na objectividade maior sobre este ou aquele caso. Tal como o
Público, a buscar diversidade na opinião. Na semana passada, sabe-o quem lê há algum tempo as minhas palavras, houve várias pessoas de nomeada do meu leque de simpatias, tristeza minha, a afundarem-se em descrédito a meus olhos.
Depois de saborear
Abraços Desfeitos, de
Almodovar, se boas leituras houve em fim-de-semana, enquanto se espera pela saída de «2666» de
Roberto Bolaño, na moda depois de morto, e ouvir uma vez mais o piano de
Barenboim,
Inês Pedrosa e
Clara Ferreira Alves – pela inusitada consonância com o meu pensamento antes expresso –, deram-me alguma tranquilidade. Não estou só nas minhas apreciações.
Porque razão há tantas doutas personalidades da economia a nunca preverem um caracol? Algumas delas blasfemam em surdina ou alto e bom som na disputa pelo lugar de
Sócrates, cuja
performance nada tem de inferior à de qualquer dos anteriores primeiros-ministros. Todas as desgraças lhe atiram ao rosto. Afinal o governo tudo tem de fazer e até das trovoadas é culpado. Nem um só ousa referir a situação financeira mundial.
Há uns meses um ouvinte tribuno na RDP clamava «estarmos numa ditadura». Tenho a certeza de conhecer melhor o mundo do que este ouvinte – a representar muitos cidadãos –, Ferreira Leite e muito escriba do burgo. Não é heresia nenhuma dizer-se,
vivermos num dos países mais livres do planeta.
Medina Carreira com os seus números de mesa de café diz precisar duma hora de TV para fazer o «diagnóstico» do país – seguramente o que brande há trinta anos -, mas sobram-lhe dois minutos para mostrar as soluções credíveis para o seu repositório de calamidades.
Ora bem, cerca de
75% da população dos Açores – nove ilhas, várias delas bem distantes das outras, onde foi necessário infraestruturar tudo em cada uma, com três meses de bom tempo por ano, tanto
Mota Amaral como
Carlos César não instituíram o culto da personalidade –, depende do governo para sobreviver.
Na Madeira, duas ilhas não distantes, mais povoadas, um
per capita maior a saír do Ministério das Finanças, bom tempo todo o ano, um turismo secular,
João Jardim - com obra, inegável (há mais quem tenha e menos esbraceje), tem semeado o seu culto pessoal à exaustão -, são
mais de 85% os habitantes a dependerem do governo para viverem.
O
sentido autonómico de ambos os arquipélagos é forte e centenário. Um e outro deram um contributo inestimável em épocas diferentes para
a independência nacional e a pedagogia democrática, desde o século XVI, pagando bom preço por isso.
Os dois primeiros presidentes da República, Manuel de Arriaga e Teófilo Braga, eram açorianos.
É tão compreensível a cedência de Sócrates a César, com o Estatuto Autonómico (porque haveria de ser diferente da Madeira!?), subscrito aliás por todos os partidos no Parlamento, como se entende a reiterada chapelada de quase todos os líderes ao reino de Jardim, e indirectamente, ao seu presidente regional. Nenhum político de bom senso quererá deixar de estar nas boas graças do povo das ilhas.
Mas a quem lembraria dizer «na Madeira é que há liberdade»!? É abismal a diferença entre o estilo elegante e a educação esmerada de Mota Amaral e Carlos César e a má educação, a rudeza, o discurso não democrático, o ar bronco, desmando e desrespeito, por banda de Alberto João. Ao presidente a quem ora jura tanta deferência chamava há algum tempo «o senhor Silva»!
Escrevi aqui sobre a televisão na América e o sucedido a
Dan Rather, com as comparações inevitáveis. Não me vou repetir.
Então porquê as boutades de «asfixia democrática» e o cortejo de pressupostos bem mais incrível, ou as insinuações, como quem não quer dizer mas diz, «a ou b não falam verdade», «a senhora não é ingénua, pois não?» ou «espero que se respeite a liberdade conquistada em 25 de Abril»?
Para usar o
rigor da matemática, dum político ou de qualquer líder, democrático, ou do
alter ego de cada um,
persisto, espero seja
conhecedor de algo mais para além de economia e tenha um quotidiano de continuada boa educação e clareza, sem insinuações (a variável dependente). Porque os políticos são pessoas (a constante). Henrique PintoSetembro 09
FOTOS: Manuel de Arriaga (cidade da Horta, 1840-1917) e Teófilo Braga (cidade de Ponta Delgada, 1843-1924); Alberto João Jardim
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