Chegar à decisão sobre o aeroporto de Alcochete primou por ser das primeiras tomadas de posição políticas em Portugal, a exemplo do aborto legal, feita com base no parecer da ciência. Seja qual for o valor do dito. Só por si este modelo seria absolutamente louvável. Normal é reinarem os príncipes no empírico e no atávico.
Disse parecer e não veredicto, porque – com a tendência errónea de se falar a esmo em ciências exactas – as pessoas ignoram, muitos pressupostos científicos, nomeadamente em medicina, química ou astrofísica, assentam em probabilidades, e, portanto, no grau tantos de tal de segurança em que o fenómeno pode ter as características previstas.
Fica quase sempre por demonstrar se a percentagem restante não pode incluir afinal um veredicto incontornável.
Por um acaso bem extremo vi no programa da
Fátima Ferreira um conhecido político arengando por Alcochete. Menos fortuito foi quando o revi há dias num aeroporto europeu dos mais modernos, a 50 quilómetros da capital, cuja transferência de passageiros se faz em 20 minutos em carruagens de luxo que chegam ao centro dos hotéis.
«
Isto é um aeroporto de província!». E depois de tal dizer em voz alta foi apanhar um táxi. Deve-lhe ter custado os olhos da cara. Foi a mulher a pedir-lho porque o inglês dele devia ter sido adquirido numa loja de chineses.
Em política o jogo com os números tem os mesmos perigos.
Sócrates terá então respirado de alívio, uma coisa assim é como a panela de pressão tirada a tampa, pode-se comer descansado quando arrefecer e já não houver fumo.
As eleições são num destes amanhãs. A economia mundial continua uma treta,
Teixeira dos Santos martelava-lhe o juízo, «o défice tem de baixar», ele apertava com o ministro da saúde – onde as despesas são necessariamente maiores – para cortar a eito, queimando etapas na reforma, a comunicação não explica que a criança ou a idosa não morreram por causa do hospital. Nem a ciência sabe ainda explicar a
síndroma da morte súbita. E os amanhãs já são ontem.
Correia de Campos não teve tempo de construir a horas os hospitais com urgências decentes, não teve quando quis os médicos suficientes, que a respectiva Ordem – como qualquer instrumento de limitação da concorrência –, levou décadas a dizer não serem precisos, assim convencendo os governos.
Temos hoje o paradoxo de haver enfermeiros no desemprego quando, pela lógica, eles teriam lugar seguro em Portugal nos próximos vinte anos. Aquele que ainda agora o
Banco Mundial, onde trabalhou – o ex ministro da saúde –, legitimamente considera um dos grandes especialistas do mundo, viu-se a meio da corrida afrontado com o «
não há dinheiro!». Faltaram-lhe na hora os
transportes (ambulâncias e helicópteros) para ter força no diálogo com as autarquias, com dotação orçamental prevista à partida, e, a formação decente dos médicos e paramédicos desta área, para o sistema de emergências funcionar. Porque instituições de saúde ao gosto de cada autarca ou novo-rico tínhamos nós a rodos, quase tantas como as dívidas acumuladas e incontroláveis pelos merceeiros de ontem.
As reformas inteligentes, mesmo as mais moderadas, implicam rupturas. Carecem tanto de explicações claras quanto de dinheiro e paciência. Felizmente não chegou a haver tempo de o partido socialista exigir claramente mudanças de pessoas – como «lucrou» a «salvadora» Manuela Arcanjo, que duplicou a despesa -, mas a reforma em parte adiada não será por isso uma desgraça mal maior para o país. Que um dia talvez fique a entendê-la, se retomada!
Tal como à casa de Windsor com Lady Di, em nada ajudam aos portugueses mentalidades fantasiosas, que nem o vento forte espairece.
Henrique PintoIn Diário de Leiria 2009
FOTO: Lady Diana, Princesa de Gales
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