A série televisiva
CSI Miami tem adeptos incondicionais em todo o mundo. Conheço entusiastas entre médicos forenses de vários países.
Moita Flores diz que este produto de lazer já levou mais pessoas para a medicina legal, a investigação e a psicologia criminal, do que certas medidas públicas. As belas juízas e detectives são uma atracção não negligenciável. Saliva, manchas de sangue, esperma ou líquido vaginal, identificam de imediato os suspeitos. Mas estamos de acordo, trata-se de pura ficção.
Se a investigação criminal estivesse tão desenvolvida como ciência – das bases de dados de amostras de ADN ou de terrenos, flores e aromas, impressões digitais, currículos criminais e não sei que mais – seguramente
não teríamos soluções estatisticamente inviáveis, como nos desaparecimentos de duas crianças no Algarve, com pouco tempo entre um e outro, a que o mesmo investigador atribuiu a mesmíssima causa.
O
ADN, ácido desoxirribonucleico, é a descoberta mais relevante dos últimos 50 anos. A sua utilização é ampla, nomeadamente em testes de paternidade e até no estudo da história, fazendo cair verdades de séculos, como a origem de povos invasores, tal e qual a dos árabes em Portugal.
É um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções coordenadoras do desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos. Os segmentos de ADN responsáveis pela informação genética são os genes. A estrutura do ADN, descoberta pelo norte-americano James Watson e pelo britânico Francis Crick, em 1953, valeu-lhes o Prémio Nobel da Medicina em 1962, juntamente com Maurice Wilkins.
A leitura do ADN faz-se através do código genético. Dentro das células aquele organiza-se na estrutura chamada cromossoma. Cada ser vivo possui uma codificação diferente de instruções escritas na mesma linguagem do seu ADN. Estas diferenças geram as dissemelhanças orgânicas entre os organismos vivos. O ADN, através da associação de genes em número diverso, contém a informação necessária para a identificação das características de um indivíduo, como a cor do cabelo ou a sua morfologia, mas também a de muitas doenças hereditárias. Os dotes artísticos ou a tolerância são quase certamente inatos, dependentes da educação e do ambiente familiar e social.
Está ao rubro a especulação à volta do ADN.
Empresas de renome vendem testes de ADN ao público para previsão do risco individual de cancro, diabetes, Alzheimer, hipertensão ou obesidade, sabendo-se da falibilidade do seu valor preditivo e da falta de fiabilidade dos resultados, na maioria dos casos.
Esta falácia induz situações delicadas, tanto para um determinado utilizador como para toda a sua família, onde, eventualmente, pode haver doenças com os mesmos contornos.
Trata-se por enquanto de pura ficção.
HpintoIn Diário de Leiria, 2009
FOTO: banda desenhada com Horatio, personagem central da sére televisiva CSI Miami
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