O meu saudoso amigo
Francisco Lucas Pires disse-me um dia ter por boa fonte de informação para os jornalistas e políticos em visita, os motoristas de táxi que os conduzem do aeroporto até ao hotel da cidade, seja qual for a parte do mundo. Aconteceu-me também, o nativo de língua inglesa que me transportou até ao centro duma capital africana, não mais parava de arengar sobre os males do país. E a tal ponto eles chegavam! A rematar, quase explodia,
«aqui até o diabo tem as malas feitas». Logo apontei esta máxima no meu caderno de notas e dela retirei o título do livro que ora foi dado a conhecer aos leitores.
Um bom naco do encadeado dos seus escritos foi produzido
no compromisso com a chamada frequente dos media e para reflectir sobre os quadros significativos do mundo em contextos diversos. É sempre o frenesim da transformação incessante que os embebe. É a um só tempo paixão idílica e realidade crua, desejo e peregrinação.
As minhas viagens como consultor internacional e enquanto voluntário de causas humanitárias e apreciador de paisagens humanas ou mesmo quando participante em grandes conferências científicas, deram-me a oportunidade de construir o enredo ficcionado duma saga fabulosa, a luta para apear um dos grandes males do mundo de forma que pode ser matricial para a solução doutros estrangulamentos mor da Humanidade. Um poema épico que tem a montante e a jusante
Cem Anos de Milagres, qual passada hercúlea em que se contextualiza. Nele se enxertam outras histórias como sonhos ou pesadelos, visões e reflexões sobre os tiques da sociedade contemporânea e os seus actores.
A morte pelo esquecimento é o cruel destino da maioria dos grandes fautores da vida. Perpassa nesta trama multiforme e lógica um outro fio de pensamento que estiliza traços, histórias e protagonistas do dia a dia mas com alguma ênfase no maior envolvimento solidário do mundo, praticamente desconhecido de muitos apesar de coexistir no meio de todos, de portas escancaradas.
Neste vaguear, do desencanto, nostalgia de
John Wayne, à esperança correndo por tempo e distância, o grande fogo que transforma, ateado nos gestos simples e obras grandiosas, há todo um universo de avanços e recuos. Lado a lado com as pessoas comuns e os donos do planeta, dos
cowboys do oeste americano aos judeus do
anchlüss, das areias quentes de Gaza e Darfur aos confins da savana da África medieval ou às ruas do Haiti dos
ton macoutes que persiste, damo-nos conta do avesso dos estereótipos sócio – económicos vigentes.
Henrique PintoDiscurso de apresentação na Ordem dos Médicos, Porto, 2009
FOTOS: Clint Eastwood, actor e realizador que muito admiro, participante em vários western esparguete no início da carreira; desenho da capa do livro, da autoria de
Carlos Lança, de tão saudosa memória, disse-me «foi a melhor capa de livro que fiz»
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