terça-feira, 8 de setembro de 2009

HOMEM VELHO MULHER NOVA


Volvidas tantas estadas na Grécia escapava visitar o Museu Nacional de Arqueologia de Atenas, dos maiores do mundo. A ideia de que a cerâmica micénica ali profusa tem as formas do barro da Bajouca e a da estatuária com oito mil anos poder ser a de Joaquim Correia, em nada autoriza pensar que pouco muda na mente humana.
Hoje desconhece-se ainda 90% da destreza do nosso cérebro e já se podem antever inúmeros tabus caindo. Muitas das virtualidades mentais são já localizáveis, mais matéria que espírito, sem que isso antecipe a morte do intelecto, o fim da psicologia.
O termo da guerra no Pacífico trouxe um desenvolvimento enorme a um terço do mundo. Valores do bem-estar físico, mental e social incorporaram boa parte da mudança em proporção nunca antes lograda. Novas dimensões da cultura, literacia, arte, saúde e democracia permitiram quintuplicar o volume da população em pouco mais de 50 anos. Para uma imensidão de seres, ler e escrever foi mais importante que obter fortuna. Por força disso a mortalidade infantil, o melhor indicador conhecido de qualidade de vida, desceu em cascata. Nalguns países caiu das centenas de mortes em cada mil nascidos, no primeiro ano de vida, para as dezenas. Portugal tem das melhores cifras do mundo.
Sucede o mesmo no envelhecimento. Estima-se para a esperança de vida à nascença o continuar a subir. Na Europa já está nos 79 anos (homens) e 86 (mulheres). A sua tendência, se estimada aos sessenta anos, aproxima a de ambos os sexos. É um tremendo avanço civilizacional. Ciência e qualidade de vida metamorfosearam as oportunidades de vida melhor. Educação e democracia esculpem costumes, mentes.
Flagelo dos homens nos sessenta anos e menos há uns tempos atrás, a disfunção eréctil perdeu esse impacto social, forjado na ignorância e na culpa. Os homens ganharam independência com o volatizar do medo ignaro e infundado. Sabem que vencido tal pavor somático se lhes prolonga a libido por muitos anos. Além disso, medicamentos como o viagra, o cials, o levitra, deram-lhes também uma franca melhoria da performance sexual, mesmo quando ainda longe da impotência, que pode nunca acontecer. Até católicos dos mais convictos descobrem nos anos dourados estruturas relacionais e familiares antes abjuradas.
Há uma década sabia-se do casal Woody Allen e Mia Farrow viver em lares diferentes nos limites opostos de Central Park. Este exemplo dos LAT, «living apart together» em inglês, casais que partilham tudo excepto a residência, está hoje num ponto alto. A inversão das idades dentro dos casais é uma realidade a expandir-se. O rejuvenescer do género, mesmo assim, está longe de ganhar a atenção terapêutica de psicologia e medicina, enclausuradas na clínica elementar.

Hpinto

Setembro 09

FOTO: o cientista português António Damásio, radicado nos EUA, que estuda o mapa do cérebro

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