terça-feira, 27 de maio de 2014

A ORDEM E O CAOS

Em medicina bem pode dizer-se que a tomada de algo de bom (medicamento ou alimento) é sempre passível de acarretar algo de mau. Se a máxima se pudesse generalizar (e não pode) a má política poderia sempre fazer-nos crer que a fragilidade da situação de muitas famílias (entre nós há uma imensa parte que não chegou a ser prejudicada) seria uma consequência da sua boa governança.
Pensei nisto ao visitar a exposição de Paula Rego (em conjunto com Bartolomeu Cid dos Santos, um exilado como ela, e Eduardo Batarda), na Casa das Histórias em Cascais. Chamam-lhe «1961, A Ordem e o Caos». Lembro-me bem desse ano, desses anos antes e depois. Muitos Homens e o País vogavam como náufragos, perdidos, erráticos, acefalamente mudos, abúlicos e tristemente quedos mesmo se espiritualmente inquietos. Sentimentos que emanam na obra exposta daqueles artistas relativa a esse período.
Todavia, a abulia e indiferença dos dias que correm (e que nos últimos tempos muita gente tem querido atribuir em exclusivo às políticas europeias quando poucos anos atrás a tal estado aplicaria a causalidade unicamente à gestão caseira), nada tem a ver com a privação das liberdades. Quem diria 
que a economia ultraliberal dos últimos tempos de Clinton, exacerbada por George W. Bush, centrada na desregulação do mercado, e depois a ganancia desse escol de jovens seguidores de Friedeman em Wall Street, intoxicaria tão francamente a vida, a sociedade, a economia e a política, primeiro dos EUA e logo da Europa do Estado Social? Quem estaria preparado para assistir ao advento dos novos nacionalismos, à ascensão da xenofobia em metade da Europa? Será possível continuarmos a olhar para o lado?
Maio 2014
Henrique Pinto

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