domingo, 3 de janeiro de 2010

A COR DO ÓDIO


Este fim-de-semana li nos escritos de Henrique Raposo, de Miguel Sousa Tavares e dum Blogue cujo nome entretanto esqueci, referências muito desagradáveis. Há mais gente a pensar o chão que pisa mas sem generalizações por estudar ou desligado do contexto histórico e cultural.
Dizer-se que o país é a floresta tropical do ódio é manifesto exagero. Mesmo sendo bom ter em conta o modo como os políticos e os partidos sem excepção entendem fazer «pedagogia» política, aproximando-se do vernáculo, com total desrespeito e num linguajar típico das claques dos clubes desportivos, cuja influência nos cidadãos não pode ser inócua. O facto de em trinta anos a mortalidade nas estradas espanholas ter baixado para uma capitação quatro vezes inferior à nossa leva-me a crer na eficiência «criminosa» da continuada tolerância e impunidade face às infracções em Portugal e no impacto da baixa educação cívica. Falar-se em ódio parece-me excessivo.
Na verdade não consigo entender como é possível fazer-se uma análise dos efeitos do comportamento dos actores políticos alheia aos contextos sócio culturais. Acho mesmo um absurdo. Sobretudo quando, mesmo nas ditas ciências exactas, a interdependência tem feito ruir castelos.
Nem entendo bem como um intelectual lúcido, Sousa Tavares, dos poucos escribas a merecerem-me continuada atenção, possa embarcar nas conspirações tipo Tamiflu / Rumsfeld, um produto muito vendável em e mails indesejados e blogues que tanto repudia, e com alguma razão, diga-se. Mesmo se estando atento à ramificação inextrincável dos lobbies da defesa – a cor do dinheiro - e das trapalhadas nas aquisições nesta área, essas sim, tenebrosas. Constrange-me também a saga que empreende em desfavor das campanhas de saúde pública. É uma contradição perigosa para o crédito dum analista sério, mesmo se desobrigado dos conhecimentos da moderna virologia.
Henrique Pinto
Janeiro 2010
FOTO: a cor do dinheiro (foto José Amorim, Brasil)

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