terça-feira, 12 de janeiro de 2010

GATO FEDORENTO NO PAÍS SABEDOR


Ricardo Araújo Pereira não é excepção para a avaliação que faço das pessoas. Quando se pisa há muito certa calçada não é grande a glória do estar tu cá tu lá com muitos dos seus passeantes. Aconteceu-me sempre ver num artista de primeira água uma inteligência de boa craveira. E a oportunidade de privar com eles acrescenta-lhes também algo ao já conhecido nas pantalhas de TV, na rádio e noutros meios. Seja qual for o domínio, o cinema e o desporto, o teatro ou o circo e por aí adiante.
Na semana passada tive mais uma oportunidade de confirmá-lo no Café das Quintas, tertúlia mensal do OL CA, Orfeão de Leiria Conservatório de Artes, evento com 14 anos de vida ininterrupta (música, debate, cafés e outros líquidos, bolinhos e simpatia, tudo gracioso).
O mais famoso dos Gatos Fedorentos, Ricardo Araújo Pereira, como o seu oponente Feliciano Barreiras Duarte, ex secretário de Estado de Durão Barroso, percorreu nesta tertúlia caminhos não muito usados no seu campo. O humor, tanto pelo lado dos artistas como pelo dos meios de expressão onde os minutos se contam por segundos, teve a inevitável nota alta. Culto e bem formado, sempre potenciado pela acutilância do coordenador, Professor Carlos André, Ricardo Araújo Pereira esteve nesta sessão num nível de qualidade e inteligência humorística muito alto.
Barreiras Duarte escudou-se muito e bem no seu conhecimento das minorias étnicas, e deu casuística nova sobre a matéria. Achei muito curioso Portugal estar próximo do meio milhão de imigrantes com as suas 230 línguas e dialectos.
Leiria é assim, tem uma oferta cultural per capita superior à das grandes cidades do país. Frequentador assíduo do melhor que o Portugal da cultura produz, quando falo desta cidade tenho de atender às múltiplas intervenções do OL CA e, mesmo assim, fazer um rateio, por incapacidade de a tudo e tanto assistir.
A entrada em 2010 do Coro do Orfeão de Leiria e do Coro de Câmara de Leiria (direcção de Pedro Miguel) actuando em Concerto de Reis com o Coro Polifónico de Almada (regido por João Branco, um jovem a virar os 1000 concertos), constituiu uma oportunidade singular para ouvir grupos de excelente valia técnica, vocal e interpretativa num repertório pleno de frescura e actualidade, quando pouco se compõe hoje para formações tão aglutinadoras de pessoas como estas. O concerto ocorreu na Igreja se São Francisco. Cada concerto que lá se realiza dá aos assistentes a possibilidade de reverem o valioso espólio recuperado a expensas totais da Irmandade de São Francisco, os painéis de azulejos dos séculos XIV a XVI com o qual o país sabedor se preocupa pouco.
Henrique Pinto
Janeiro 2010
FOTOS: Ricardo Araújo Pereira, Carlos André e Feliciano Barreiras Duarte, Café das Quintas, Janeiro 2010; Henrique Pinto, Fernando Tordo e Carlos André, Café das Quintas 2006; Pedro Miguel, Henrique Pinto e João Branco no final do Concerto de Reis, no OLCA; Livro de Ricardo Araújo Pereira, Novas Crónicas da Boca do Inferno, que o autor autografou em Leiria com o patrocínio da Livraria Bertrand

1 comentário:

  1. Li hoje «recortes» da imprensa semanal sobre o último Café das Quintas. So num encontrei referência a um «grande momento cultural». Alguns davam conta dum fait divers como tantos outros. Um deles na sua local sobre o evento passava praticamente por cima da intervenção de Ricardo Araújo Pereira.
    Como é possível que uma intervenção tão brilhante do ponto de vista literário, histórico e cultural, para mais assaz divertido, tenha sido banalizada? Claro que tenho uma resposta tímida. Quando eu era da idade destes reporteres não tinha ainda uma formação cultural que me permitisse dar ao mesmo acontecimento o valor que dou hoje. Mas será tão simples assim?!

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