quarta-feira, 2 de outubro de 2013

FALSOS CONCEITOS, RISCOS ÓBVIOS

A imprensa tem-se referido amiúde a «falsos independentes». É um conceito estúpido e enviesado. Nem alcanço bem onde escribas e palradores tais quereriam chegar. Se fossem os partidos a lançar dois candidatos em simultâneo para ver qual chegaria primeiro eu poderia entender. Um
indivíduo que sai dum partido para concorrer fez necessariamente um corte na vida, tão doloroso como a morte de quem se ama ou um divórcio forçado. E alguém a viver sempre fora duma estrutura política não deixa de ser independente se nalgum momento for apoiada por quaisquer delas.
Dizer-se que os partidos são essenciais em democracia não chega. O relevante é todos os indivíduos se sentirem representados de alguma maneira. E isto tanto pode acontecer em partidos como em associações 
cívicas ou grupos de democracia participativa. Mas o exercício da cidadania acontece cada vez menos nos partidos políticos, donos das regras, da vida das pessoas, das consciências, num fanatismo aceite e omnipresente.
No extremo oposto, os grupos de cidadania também se radicalizaram à nascença quase ao ponto da autoexclusão. Atomizados, sem qualquer cimento que os una – mesmo que tão só estrategicamente -, colocando-se em redoma de cristal num purismo absoluto, limitaram fortemente a sua capacidade de influenciar alguém com pedagogia.
Talvez haja agora espaço para que os conceitos independência, representatividade e cidadania possam confluir. Até Cavaco Silva reconhece a premência de se alterar a Lei Eleitoral. Ora essa confluência tem de envolver semelhante mudança legislativa. Pode ser ainda compreensível que os republicanos tenham acabado com os círculos uninominais em 1911, herança da monarquia constitucional da qual se queriam distanciar. 
Compreende-se menos que não tenham sido reintroduzidos na constituição de 1976 por força do esquerdismo generalizado e do direitismo púdico. Mas nos dias de hoje são incontornáveis.

Claro, há riscos óbvios. Uns vão continuar a temer a eventual perda das câmaras ora ganhas. Outros pensarão poderem descer ainda mais na expressão do voto. E, numa falsa conceção de democracia, procurarão impedir essa mudança de qualquer forma ao invés de estudarem como construir um sistema novo arredando de vez os receios políticos desta natureza. 
Henrique Pinto
Outubro 2013

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